Foto: Helene Santos

Gildásio da Silva Costa, 41 anos, tem duplo vínculo com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceara (Hemoce). Ele é doador de sangue há duas décadas e há seis anos trabalha como motorista da unidade. Além da relação, o funcionário possui um tipo sanguíneo extremamente raro: o U negativo.

O motorista doou sangue, pela primeira vez, por uma situação específica, mas a doação acabou virando hábito.

“Foi na intenção de ajudar uma pessoa que estava precisando de transfusão e, dali em diante, fiz da doação um hábito, motivado por ajudar qualquer pessoa que esteja precisando”, afirma Gildásio.

Anos após a primeira doação, ele passou em um processo seletivo para a vaga de motorista da unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). O "colaboradoador"— como são chamados os funcionários do Hemoce que doam sangue — é responsável por levar as bolsas de sangue doadas para as unidades de saúde de Fortaleza até aos hospitais da capital cearense.

“Nunca imaginei que eu ia trabalhar aqui. Um dia, eu estava no Hemoce como doador e, agora, eu estou aqui do outro lado, conhecendo todo o processo, vendo como o trabalho do Hemoce é valioso. Confesso que hoje me sinto até mais feliz em doar, porque sei como funcionam todas as etapas. Eu valorizei ainda mais a doação”, complementa o motorista.

Tipo sanguíneo extremamente raro
A forte relação de Gildásio com o ato de doar sangue foi fortalecida há quase quatro anos, quando ele descobriu que possui um tipo de sangue raro. Com isto, a doação feita por ele pode ser a única chance para quem está à espera de transfusão. O motorista do Hemoce tem o tipo sanguíneo identificado como U negativo.

Por conta da raridade, Gildásio faz parte de um grupo seleto de pessoas que doam somente por convocação do Hemoce para situações de emergência. A notícia, por ele, foi recebida com surpresa e entusiasmo.

“Quando eu fiquei sabendo, foi uma surpresa enorme e, no começo, eu fiquei sem entender nada, mas fiquei extremamente feliz por saber que a minha doação tinha ainda um componente especial, me senti privilegiado”, lembra.

Denise Brunetta, diretora de Hemoterapia do Hemoce explica a raridade do tipo U negativo. “Esse antígeno pertence ao grupo sanguíneo MNS e é um antígeno esperado em praticamente 100% da população. Pessoas que são U negativo podem desenvolver um anticorpo chamado anti-U que vai reagir com todos os doadores, com exceção dos doadores U negativo”, explica a diretora.

Doação por convocação
O Hemoce passou a identificar doadores com sangue raro há oito anos. A especificidade faz com que pessoas de sangue raro doem somente por solicitação do Hemocentro para atender algum paciente que possui o tipo sanguíneo semelhante ao do doador.

“A gente que gosta de doar com frequência quer doar direto. Às vezes, eu encontro a médica e brinco que já tô doido pra doar sangue, mas ela pede pra eu aguardar”, revela Gildásio, que já foi convocado cinco vezes.

As doações feitas por ele inclusive ajudaram pacientes de outros estados. “A sensação de ajudar alguém que depende mais do que nunca de você é, acima de tudo, gratificante, eu me sinto extremamente feliz e estou sempre à disposição para doar”, confirma.

A espera ocorre porque os hemocomponentes têm validade que pode variar de cinco até 42 dias. Como não há possibilidade de prever quando o sangue raro será utilizado, é necessário que a doação ocorra por solicitação.

Outro motivo é que precisa existir um intervalo entre as doações. Os homens podem doar a cada dois meses, até quatro vezes ao ano, já as mulheres precisam de um tempo um pouco maior, sendo possível doar a cada três meses, até completar três vezes ao ano.

Fonte: G1 CE

Post a Comment