Os sintomas da doença de Haff, a doença da urina preta, costumam aparecer entre duas e 24 horas após o consumo dos peixes ou crustáceos (Foto: Reprodução/Pexels/Engin Akyurt)

Nove casos ativos da doença de Haff foram confirmados pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) nesta sexta-feira, 10 de setembro (10/09). O quadro clínico é mais conhecido como “doença da urina preta”, pois um dos sintomas comuns é urina escura, avermelhada a marrom. No início de agosto, eram investigados dois casos suspeitos no Estado.

A notificação inicial se deu após os primeiros pacientes serem internados em decorrência do consumo do peixe da espécie arabaiana. A Sesa relatou que as amostras dos peixes contaminados foram enviadas para uma pesquisa de toxina, e aguarda confirmação laboratorial. Em 2021, até 21 de agosto, dos nove casos notificados, quatro foram homens e cinco mulheres, com a idade média de 51 anos.

Doença da urina preta: o que é e como surgiu?

Um paciente é diagnosticado com a doença de Haff ao desenvolver um quadro de rabdomiólise nas primeiras 24 horas após ingerir peixe. A rabdomiólise se caracteriza pelo inchaço do músculo esquelético com risco de insuficiência renal aguda.

O nome foi dado em razão da descoberta da doença em um lago chamado Frisches Haff, na região de Koningsberg, em 1924. O território, à beira do Mar Báltico, pertencia à Alemanha, mas foi incorporado à Rússia posteriormente. As informações são do Ministério da Saúde.

Nos 15 anos seguintes, cerca de mil casos foram relatados naquela região e nos Estados Unidos, e a doença foi eventualmente associada ao consumo de peixes. Desde então, foram notificados casos, principalmente ligados ao peixe búfalo (Ictiobus cyprinellus), nos EUA, na China, na Alemanha, na Rússia e no Brasil.

Doença da urina preta: como funciona a toxina?

A origem e a natureza da toxina causadora da doença ainda são um mistério. Após um surto da doença nos EUA, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças identificou uma toxina lipossolúvel que produziu sintomas semelhantes em ratos e que não pode ser desativada com o ato de cozimento, pois os pacientes estudados haviam ingerido peixe frito ou cozido.

Em artigo sobre a doença, médicos do Hospital São Lucas Copacabana explicam que ainda não houve confirmação sobre a natureza da toxina constante nos peixes cuja ingestão provocou a doença. Em alguns livros, ela está associada ao envenenamento por arsênico.

A dificuldade está no fato de que a toxina não tem nem gosto nem cheiro específicos, o que torna mais complexa a sua percepção. Ela também não é eliminada pelo processo de cocção do peixe.

Nos relatos registrados ao longo dos anos, pessoas acometidas da doença ingeriram diferentes tipos de peixe, como salmão, pacu-manteiga, pirapitinga, tambaqui, e de diversas famílias, como Cambaridae e Parastacidae.

Doença da urina preta: quais os sinais e sintomas?

Os sintomas costumam aparecer entre duas e 24 horas após o consumo dos peixes ou crustáceos, de acordo com informações da Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde.

Ocorre extrema rigidez muscular de forma repentina, além de dores musculares, dor torácica, dificuldade para respirar, dormência, perda de força em todo o corpo. Um dos principais sintomas, que dão o apelido da doença, é a urina cor de café. Isso acontece porque o rim tenta limpar as impurezas, causadas pelas lesões musculares. Febre não é muito comum.

Dor e rigidez muscular intensas, que surgem repentinamente;
Urina escura
Dormência
Perda de força muscular
O tratamento consiste muito na hidratação, logo com o aparecimento dos sintomas. A intenção é diminuir a concentração da toxina no sangue, para favorecer a eliminação através da urina. Segundo o Ministério da Saúde, a recomendação é que, ao sentir dores musculares e apresentar urina escura após o consumo de peixes ou crustáceos, uma unidade de saúde deve ser procurada.

A principal prevenção para a síndrome é não consumir pescados ou crustáceos de origem, transporte ou armazenamento desconhecidos.

Doença da urina preta: histórico

Em 2018, um casal de cearenses foi infectado após consumir um peixe comprado em Fortaleza. Em fevereiro de 2017, o Estado ficou em alerta com pelo menos dez casos da doença. De acordo com a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), há um monitoramento por meio de comunicação ativa e sistemática da Célula de Resposta às Emergências em Saúde Pública (CIEVS) junto às unidades de saúde.

Segundo a pasta, esse contato é feito por meio de link de monitoramento diário que é compartilhado com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e com os núcleos de vigilância epidemiológica hospitalar.

Outro estado do Nordeste registrou casos suspeitos da doença neste mês. Conforme informações da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), seis casos da síndrome seguem em investigação.

Neste ano, a Sesab recebeu, ao todo, oito casos notificados da doença de Haff, nos municípios de Alagoinhas, Simões Filho, Maraú, Mata de São João e Salvador. Até a última segunda-feira, 23, segundo a pasta, apenas dois casos foram descartados.

Em nota enviada ao jornal O Estado de S. Paulo, o Ministério da Saúde registrou 61 casos da doença no Amazonas, enquanto outros 22 aguardam confirmação. O estado também registrou um óbito em decorrência da síndrome, no município de Itacoatiara, a 176 km de Manaus.

Em fevereiro, duas irmãs foram internadas no Recife ao apresentarem mal-estar e dores após a ingestão de peixe da espécie arabaiana. A família e os médicos confirmaram o diagnóstico de doença de Haff.

Fonte: O Povo

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