Uma bebê de dois meses de idade enfrentou um procedimento cirúrgico de urgência num leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital do Coração do Cariri, em Barbalha. Com menos de um quilo, Ana Gabriele estava há quase um mês esperando transferência para operar duas cardiopatias congênitas em Fortaleza, onde há unidades de assistência especializadas. 

A cirurgia foi feita na última quinta-feira (21 de outubro) na UTI pediátrica de Covid-19 do hospital, que está desocupada por falta de pacientes. Hoje, uma semana após o procedimento, a bebê se recupera bem. 

Samuel Soares é cirurgião cardíaco do Hospital do Coração do Cariri. Foto: Divulgação/Hospital do Coração do Cariri

De acordo com o cirurgião cardíaco Samuel Soares, que chefiou a operação, a menina nasceu em outro hospital de forma prematura, após 24 semanas de gestação. Porém, devido a uma das duas cardiopatias diagnosticadas pelos médicos — a única que deu para tratar agora —, o pulmão dela não funcionava bem, o que a impedia de ganhar peso e se desenvolver. Isso precisava ser tratado logo, ou ela correria risco de morte.

"Foi necessário realizar o fechamento do canal arterial, através de incisão no tórax, especificamente do lado esquerdo, onde conseguimos identificar o canal de comunicação entre a aorta e a artéria pulmonar, que ficava jogando muito sangue para o pulmão, interferindo na respiração”.
Samuel Soares
Cirurgião cardíaco do Hospital do Coração do Cariri

A outra cardiopatia da bebê, que consiste numa espécie de “buraco” dentro do coração, segundo o médico, pode ser tratada quando ela se desenvolver melhor e tiver entre 2 e 4 anos de idade. “São doenças que não são exclusivas da prematuridade”, explica o cirurgião. “Mães muito jovens ou de mais idade acabam tendo mais chances de [ter] alteração assim [na gestação]”. 

O médico relatou ainda que o procedimento foi solicitado pela maternidade onde Gabriele nasceu e não foi custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Assim que a gente teve a liberação pra usar a UTI [pediátrica], o pessoal da maternidade falou com a gente e perguntou se a gente podia receber pra tratar a cardiopatia dela, porque Fortaleza não estava conseguindo, a demanda é grande”, justificou.

CREDENCIAMENTO PARA OPERAR 
Como Ana Gabriele, outras crianças do Cariri com cardiopatias que demandam cirurgia podem ser tratadas na região, segundo Soares, sem necessidade de transferência para a Capital. No entanto, a exemplo do próprio Hospital do Coração, outras unidades que não compõem a rede pública ainda aguardam credenciamento para atender pelo SUS.

"A gente precisa de apoio na resolutividade desses casos aqui na região. Não existe. O SUS trabalha com credenciamento, mas não existe pelo SUS nenhum hospital credenciado pra fazer isso. A gente já entrou com solicitação pra que a gente possa fazer isso de forma regular", assegurou o médico.

Fonte: Diário do Nordeste

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