Cidade de Juazeiro do Norte

07/03/2022

No Ceará, várias cidades estão com as águas – para consumo humano – contaminadas acima do limite permitido, sendo 4 localizadas na região do Cariri: Mauriti, Porteiras, Juazeiro do Norte e Nova Olinda. É o que mostram os dados inéditos levantados pela Repórter Brasil (organização de comunicação e projetos sociais), que revelam a qualidade e os riscos oferecidos pela água que saiu da torneira de 763 cidades de todo o país entre 2018 e 2020.

De acordo com os dados, 14 municípios do Estado, entre elas a Capital, a maior cidade da Região Metropolitana de Fortaleza e uma das maiores cidades do Cariri cearense, estão fora dos padrões permitidos. As informações podem ser consultadas por cidade no Mapa da Água, que destaca quais substâncias extrapolaram o limite e explica seus riscos. Os dados são resultados de testes feitos por empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), do Ministério da Saúde.

Especialistas defendem que não há risco para as pessoas se as águas estiverem dentro do limite regulamentado. Outros argumentam que as doses aceitas no Brasil são permissivas, pois são bem mais altas do que as da União Europeia. As substâncias encontradas são prejudiciais à saúde quando estão acima do limite brasileiro. O consumo diário aumenta o risco de câncer, mutações genéticas, problemas hormonais, nos rins, fígado e no sistema nervoso –a depender do produto.

No Ceará, os municípios de Poranga, Ararendá, Tamboril, Catunda, Monsenhor Tabosa, Umari, Baixio, Ipaumirim, Fortaleza, Caucaia, Mauriti, Porteiras, Juazeiro do Norte e Nova Olinda (as 4 últimas localizadas na região do Cariri) são as cidades que registram, pelo menos, uma substância em altas concentrações. A reportagem entrou em contato com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) que fornece o serviço na maioria das cidades do Estado, inclusive na Capital e Região Metropolitana, para saber sobre o monitoramento e as ações que a companhia tem executado sobre a filtragem do recurso hídrico. Mas até a publicação desta matéria, não obtive resposta.

Clique aqui para acessar o estudo com a relação de todas as cidades brasileiras com águas contaminadas.

TESTAGEM

Os testes são feitos após o tratamento e a maioria dessas substâncias não pode ser removida por filtros ou fervendo a água. Contaminada ou imprópria, pesquisadores confirmam que existe risco para quem bebe a água, e ele varia de acordo com a substância e com o número de vezes que ela foi consumida ao longo do tempo. O risco é maior para quem bebeu diversas vezes ao longo de anos.

Esses produtos têm dinâmica diferente das contaminações por bactérias, que provocam dor de barriga, diarreia e até surtos de cólera. Os sintomas das substâncias químicas e radioativas podem levar anos, mas, quando aparecem, são na forma de doenças graves.

Estudos – confirmados e aceitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e as agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália – ,  associam esses produtos ao câncer, mutações genéticas e diversos outros problemas de saúde.

SUBSTANCIAS

O Mapa da Água destaca o risco para a saúde e as atividades econômicas em que cada substância é utilizada. O nitrato, por exemplo, terceira que mais vezes excedeu o limite, é usado na fabricação de fertilizantes, conservantes de alimentos, explosivos e medicamentos. Ele é classificado como “provavelmente cancerígeno” pela OMS.

As maiores responsáveis, teoricamente, pelos problemas com a água no Brasil são substâncias geradas pelo próprio tratamento. Quando o cloro interage com elementos como algas, esgoto ou agrotóxicos, nascem os chamados “subprodutos da desinfecção”. Eles estão acima do limite em 493 cidades, 21% das que testaram.

Agrotóxicos já foram encontrados em poços profundos, lençóis freáticos e até mesmo na água da chuva. Neste ponto, especialistas falam em coro: não há como se blindar do problema da água no Brasil, ele já afeta ou vai afetar a todos, a única solução passa por políticas públicas.

O monitoramento dessas águas deve ser feito não só pelos órgãos públicos, mas também pela indústria e o agronegócio, que devem controlar o despejo de substâncias tóxicas no ambiente.

FISCALIZAÇÃO

Os dados mostram que, em quase metade dos municípios (48%), as companhias de abastecimento não informaram resultados ao Sisagua. Isso é grave, já que é pelo Sisagua que as secretarias municipais ou estaduais de saúde monitoram a água. Há problemas até nas cidades que mais testam, como São Paulo.

Fonte: Ceará Agora

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