O médico Samuel Marcelino, ao centro, com os médicos Rafael Landim (preceptor, do lado esquerdo) e Sávio Samuel (supervisor, do lado direito), e com as médicas Ákila Macêdo (residente, do lado esquerdo) e Hévila Garcia (residente, do lado direito)

O Programa de Residência Médica em Patologia, da Universidade Federal do Cariri (UFCA), formou o primeiro médico patologista neste mês de março de 2022. Francisco Samuel Marcelino Silva, residente da cidade de Juazeiro do Norte e egresso da Faculdade de Medicina da UFCA (Famed/UFCA), iniciou a formação em 2019 e reforçará o quadro dos médicos patologistas da região do Cariri.

Quem trabalha nesta especialidade atua na realização de exames diagnósticos; de exames intra-operatórios; de técnicas especiais, como as de patologia molecular; e também de exames de autópsia (procedimento que evidencia a causa da morte). Além disso, pode seguir carreira acadêmica, nas áreas de pesquisa, docência e preceptoria de estudantes da saúde. Atualmente, outras duas médicas residentes seguem em formação na UFCA.

O médico Samuel Marcelino, recém-egresso da residência, no momento, faz parte da equipe do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) de Barbalha, o único do interior do estado. Também tem expectativa de atuar em laboratórios da região, com exames diagnósticos. Além disso, conforme o médico, em Patologia existe demanda para a docência. “Também é um campo de trabalho que pretendo iniciar em breve”, ressaltou.

Reforço no quadro de médicos patologistas
Em todo o País, de acordo com o relatório Demografia Médica no Brasil (2020), a especialidade, apesar da importância de atuar em diagnósticos, representa um percentual pequeno entre os médicos. Dos 432.579 médicos ativos, apenas 3.445, ou seja, 0,8% eram patologistas, na época em que foi feita a pesquisa. Na UFCA, por exemplo, a formação está credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) do Ministério da Educação (MEC) desde 2016. Entretanto, apenas em 2019, o programa passou a contar com um médico residente.

Para o supervisor da Residência Médica em Patologia da UFCA, Sávio Samuel, um dos fatores da baixa procura é a falta de identificação com o estereótipo de médico. “É uma especialidade que foge do ‘estereótipo de médico’, daquela imagem que nos é passada desde cedo de um profissional em consultório, com estetoscópio no pescoço ou operando. Dificilmente um aspirante ao curso de Medicina se imagina no futuro por horas a fio em um microscópio ou realizando autópsias”, ressaltou.

Além disso, também pode ter influência a forma como a patologia costuma ser ministrada nas graduações em Medicina. “Muitas vezes, em algumas instituições, é abordada só nos semestres iniciais, como disciplina básica, não dando ao estudante oportunidade de conhecer o cotidiano da especialidade, a vivência prática. Na Famed/UFCA, no ciclo básico, no internato e em projetos extracurriculares (como a Liga de Patologia) os estudantes observam os exames, participam das atividades práticas e isso pode ajudar a surgirem interessados na área”, disse.

Patologia na UFCA
O programa em Patologia, com duração de três anos, é uma das sete residências médicas da UFCA. As outras são em Cirurgia Geral, em Clínica Médica, em Ginecologia e Obstetrícia, em Medicina de Família e Comunidade, em Pediatria e, a mais recente, em Ortopedia e Traumatologia. Na Universidade, as residências médicas são vinculadas à Famed/UFCA e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPI/UFCA).

Na Famed/UFCA, o setor de Patologia, que abriga a residência, possui um laboratório próprio para realização de exames citopatológicos e histopatológicos, um laboratório de Patologia Experimental, mais ligado à área de pesquisa, além de um anfiteatro de autópsia, onde funciona o SVO.

Os residentes da UFCA, conforme Sávio Samuel Feitosa, também fazem rodízio no Núcleo de Perícias Médico-Odontológicas da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), com a finalidade de realizar treinamento em casos de autópsias médico-legais. Recentemente, a Famed também firmou parceria com a Policlínica João Pereira dos Santos, localizada em Barbalha, para recebimento de material que permite a realização de exames.

Melhorias no setor de Patologia da UFCA
Entre 2020 e 2021, Sávio Samuel relatou que o setor de Patologia recebeu melhorias com a reforma da infraestrutura e a chegada de novos equipamentos. Destaque para a compra de novos aparelhos laboratoriais e para o microscópio de multiobservação, com capacidade para até cinco pessoas.

O aparelho permite a visualização simultânea da mesma imagem microscópica por professores e residentes (ou outros aprendizes, como estudantes de graduação, por exemplo), tornando-se uma ferramenta importante para o treinamento das habilidades diagnósticas. Além disso, o microscópio conta com saída de vídeo para projeção em TV e também com uma câmera fotográfica acoplada para captação de imagens a serem utilizadas em sessões de discussão de casos.

O recém-egresso da residência em Patologia, Samuel Marcelino, acompanhou essas melhorias de perto durante os três anos de formação. “O programa de residência da UFCA tem se estruturado melhor a cada ano. Desde a época que entrei, em 2019, as melhorias são bastante visíveis. O ambiente de aprendizado é bem acadêmico e temos todo o apoio humano necessário”, ressaltou.

Seleção para os programas de residência médica no Ceará
No Ceará, para conseguir vaga em uma residência médica de qualquer área, é necessário participar do processo de Seleção Unificada para Residência Médica do Estado, conhecida como SURCE. Esse processo, que ocorre desde 2011, é organizado por uma união de esforços das instituições que mantêm residências médicas no Ceará, chamado Apoio às Residências de Saúde (Ares). 

A seleção unificada inicia ainda no segundo semestre do ano anterior ao que o candidato gostaria de começar a residência. Por exemplo, para aqueles que ingressaram em alguma residência médica em primeiro de março de 2022 (data de início das residências médicas no Brasil), o processo seletivo iniciou ainda em 2021 com inscrições e provas. Todas as informações sobre edital, vagas disponíveis e matrículas podem ser acompanhadas na página da Seleção Unificada.  

Importância das residências no interior do Ceará 
Embora cada vez mais médicos se formem no Brasil, de acordo com Sávio Samuel,  os profissionais continuam concentrados nas capitais dos estados. No Ceará, segundo o Conselho Federal de Medicina, existem atualmente 17.596 médicos ativos, dos quais 12.317 residem em Fortaleza. “A existência de programas de Residência Médica no interior do estado, como os sete programas oferecidos pela UFCA, contribuem para o combate a essa distorção, ao incentivar a fixação de médicos especialistas no interior do estado”, ressaltou. 

No caso da Patologia, a contribuição da UFCA para a fixação dos médicos especialistas no interior, conforme o supervisor, é ainda mais emblemática. Conforme dados da Sociedade Brasileira de Patologia, existem atualmente 53 programas de Residência Médica em Patologia no Brasil. Ao considerar as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o da UFCA é o único localizado fora de uma capital.

“Temos três faculdades de Medicina no Cariri [cearense]. Muitos colegas nasceram aqui e se graduaram nessas instituições. (…) Acho que o programa de residência de Patologia da UFCA veio para agregar conhecimento na formação dos colegas médicos. É uma excelente oportunidade, principalmente para os colegas aqui da região”, destacou o recém-egresso da residência em Patologia, Samuel Marcelino.

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