Foto: Wandenberg Belém

Das 184 cidades cearenses, Várzea Alegre, no Cariri cearense, já obteve o volume de chuva esperado para todo o ano em pouco menos de três meses. Os intensos volumes pluviométricos, no entanto, trouxeram mais danos que benefícios. O Município, sobretudo a zona rural, foi castigado por chuvas torrenciais em curtos intervalos de tempo que deixaram rastros de destruição.

A média histórica anual para a cidade, segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) é de 961,6 milímetros. Até esta segunda-feira, dia 28, o órgão já havia contabilizado o acumulado referente a 1006,4 mm, ou seja, 4,7% acima da normal climatológica.

As cidades que também estão na iminência de superarem a média anual são Cariús (já choveu 98,4% do esperado para todo o ano) e Granjeiro (97%).

Chuvas intensas em março
A média em Várzea Alegre foi impulsionada pelas chuvas de janeiro e, principalmente, pelos registros recentes de março. No primeiro mês deste ano de 2022, a cidade registrou precipitações superiores ao dobro da média histórica (106%). 

Em fevereiro, o Município seguiu a tendência do Estado e teve chuvas 20% abaixo da média. Já neste mês de março, mesmo ainda restando a três dias para o fim, o acumulado já está 140% acima da média histórica. Foi justamente neste mês que as chuvas causaram estragos. 

Entre a noite do último dia 11 de março e madrugada de sábado (12), uma intensa e duradoura chuva rompeu barragens, deixou famílias desabrigadas e outras ilhadas, e causou danos robustos na agricultura do Município.

O secretário da Agricultura de Várzea Alegre, Matias Alves avalia que "nenhuma cidade cearense estaria preparada para receber tanta chuva num curto intervalo de tempo".

Sua análise pode ser referendada pelos números da 'pós-chuva'. Naquele dia 12, mais de 50 famílias tiveram que deixar suas casas. A agricultura registrou perda de 70% em duas localidades, a de Canidezinho e Naraniu.

"Algumas famílias ainda estão desabrigas. Os imóveis delas foram condenados. Não há condição de serem habitados novamente. Outras, ainda não conseguiram voltar para suas casas pois o acesso ainda está restrito, só passa de bicicleta, moto ou cavalo", pontua o titular da Pasta.

Canidezinho foi a região da zona rural que fora mais atingida. "Ela é a principal área produtiva do Município. E foi justamente lá onde tivemos os maiores volumes de chuva e, consequentemente, os maiores impactos", acrescenta Matias. 

Muita área de pastagem foi destruída. A bovinocultura, que é importante para nossa economia, está sofrendo, Parte dos animais dessas duas áreas atingidas estão quase sem alimento.
MATIAS ALVES
Secretário da Agricultura de Várzea Alegre

Diante tamanhos estragos, a cidade decretou estado de emergência por excesso de chuvas. O mecanismo tem prazo de vigência de 180 dias e possibilita que o Município dispense licitação para as contratações que visem à aquisição dos bens necessários ao atendimento da situação emergencial

A última vez que um decreto por excesso de chuvas havia sido assinado em Várzea Alegre tinha sido em 2004. "Este ano foi muita água. Tivemos que ter apoio do Governo do Estado para resgatar famílias, foi utilizado helicóptero, homens da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros também participaram das ações. Realmente, foram chuvas intensas", reforça o secretário.

Ainda segundo ele, os danos só não foram maiores pois todos os açudes que vieram a romper são de pequeno porte. "Nessas áreas afetadas, barragens romperam, estradas vicinais foram destruídas e famílias afetadas. Além dos danos a bovinocultura e agricultura. Mas, no restante do Município, não houve danos", ressalta.

Muitas famílias estão vivendo de doações. Tanto com o apoio da Prefeitura, como de ações e doações da própria população.
MATIAS ALVES
Secretário da Agricultura de Várzea Alegre

Benefício da chuva
Com tantos pontos negativos, Matias revela que o único fator a se comemorar diante dessas chuvas intensas diz respeito ao "grande aporte conquistado no nosso açude".

O reservatório Olho D´Água tem, atualmente, 74% de sua capacidade total, conforme dados do portal hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).

"Fazia muito tempo que ele não conquistava recarga", pontua Alves. No início de 2020, o reservatório chegou a ter apenas 18% de sua capacidade. A última vez que ele sangrou foi em 2009, no dia 12 de maio.

O açude é a principal fonte de abastecimento de água do Município. Com o atual volume, Várzea Alegre tem segurança hídrica por, pelo menos, dois anos mesmo que não ocorram chuvas consideráveis neste intervalo de tempo.

Cenário estadual
O açude de Várzea Alegre não foi o único a conquistar boa recarga hídrica neste ano diante dos bons volumes de chuva. Dos 155 reservatórios monitorados pela Cogerh, 15 estão sangrando e outros seis possuem volume acima dos 90% e, portanto, estão na iminência de verterem.

O volume médio total dos açudes monitorados pelo órgão é de 27,9%. Há exatamente um ano, este índice era de 26,8%, com 12 reservatórios sangrando.

Açudes atualmente sangrando:

Acaraú Mirim (Massapê), Caldeirões (Saboeiro), Açude do Coronel (Antonina do Norte), Muquém (Cariús), Valério (Altaneira), Angicos (Coreaú), Itaúna (Granja), Gameleira (Itapipoca), Quandu (Itapipoca), Germinal (Palmácia), Itapebussu (Maranguape), Tijuqinha (Baturité), Rosário (Lavras da Mangabeira), Ubaldinho (Cedro), Barragem do Batalhão (Crateús).

Açudes acima dos 90%:

São Vicente (Santana do Acaraú), Sobral (Sobral), Tucunduba (92,15%), Mundaú (99,49%), Batente (97,01%), Gavião (98,46%).

Fonte: Diário do Nordeste

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