Veado-catingueiro

19/04/2022

Professores e pesquisadores de unidades de ensino e preservação cearenses desenvolveram a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da Fauna do Ceará. Neste primeiro momento, os mamíferos terrestres ameaçados de extinção foram elencados no documento, com mais de 120 espécies. Tais documentações, de acordo com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), são ferramentas essenciais para avaliar impactos e guiar políticas públicas. Cerca de dez espécies da fauna da região caririense integram a lista estadual. O gato do mato, a jaguatirica, o gato-mourisco, o veado-catingueiro, a onça-parda, o rato-do-mato, entre outros, são alguns dos animais que ocorrem no Cariri e fazem parte da fauna cearense ameaçada.

Hugo Fernandes, professor doutor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e coordenador científico da equipe que realizou a Lista Vermelha, conta que o projeto foi idealizado há cerca de cinco anos. Desde então, foram levantados os dados para, primeiramente, ser elaborado o Inventário da Fauna do Estado do Ceará, lançado em janeiro de 2021 e, a partir daí, avaliar as 128 espécies de mamíferos ameaçados de extinção no território. Sobre o Cariri, ele comenta que a região é um palco muito importante para entender e executar a lista.

“Cabe dizer, por exemplo, que um dos últimos registros de onça pintada foi no Cariri, na década de 1980”, relata. Também no passado, com potencial de ocorrer no presente, há registros de tatu-bola. Vestígios de tamanduá-bandeira também são ligados à região. “O Cariri representa uma realidade ainda hoje muito rica, mas também uma realidade pretérita mais rica ainda. Então, num cenário de extinção, é muito importante a gente considerar o Cariri até mesmo pela importância que ele tem para outros grupos, como ave, por exemplo,” comenta, ao citar o Soldadinho do Araripe. Nas próximas etapas, serão incluídos répteis, anfíbios, aves, peixes marinhos e peixes continentais – o que englobará em torno de 1.300 espécies avaliadas.

Áreas de Preservação

Como avalia Hugo Fernandes, áreas de preservação são fundamentais e precisam ser ainda mais disseminadas. “O Ceará tem uma cobertura de Unidades de Conservação ainda muito incipiente. Na caatinga, nós temos cobertura de UC de menos de 3%. A gente precisa aumentar, urgentemente, esse índice, justamente porque qualquer política de proteção à fauna passa primeiro, e sobretudo, pela proteção do habitat. Então, isso tem que ser um pacto coletivo e, como o meio ambiente é de responsabilidade multidirecional – ou seja, Município, Estado e Federação possuem responsabilidades máximas sobre o assunto – precisamos de um pacto coletivo para garantir que a gente tenha ações de fato efetivas para proteção da nossa fauna e da nossa flora”, afirma.

O professor Dr. Luís Ernesto Arruda Bezerra, docente do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do programa Cientista Chefe Meio Ambiente, comenta que o Cariri apresenta unidades de conservação, como o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) Soldadinho do Araripe, (unidade municipal), a Floresta Nacional do Araripe (unidade Federal), o Parque Estadual Sitio do Fundão (unidade estadual), entre outras. “Sem dúvida que essas unidades favorecem a preservação das espécies, especialmente daquelas que apresentam algum grau de vulnerabilidade, uma vez que, dentre as principais ameaças a essas espécies, está a destruição dos seus habitats”, destaca.

Luís Ernesto foi um dos colaboradores na elaboração da Lista Vermelha. Como cita, embora existam listas nacionais, alguns estados possuem suas próprias Listas Vermelhas – entre eles, o Ceará. “A vantagem de se ter uma lista própria é que as mesmas podem ser levadas em consideração durante os procedimentos de licenciamento de empreendimentos, bem como focar as políticas públicas conservacionistas nas espécies que se encontram mais ameaçadas”, enfatiza.

Fonte: Jornal do Cariri

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