FOTO: Antônio Rodrigues

Transporte, deslocamento e entrega rápidos a um custo menor. Assim, os cearenses transitam muito mais sobre duas rodas do que de carro: em 175 municípios do Estado, a proporção de motos em relação aos veículos é superior a 50%, ou seja, é maioria da frota. Com isso, o sinal acende também para evitar acidentes no trânsito.

O cenário, então, é de 95,1% das cidades cearenses com proporção de motos maior do que a de carros. Apenas 9 municípios apresentam realidade oposta com mais veículos em relação às motocicletas.

Os dados são da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) com informações atualizadas em março deste ano. A frota se refere às motocicletas, ciclomotor (conhecido como cinquentinha) e motoneta (do tipo em que se pilota sentado).

Dante Rosado, coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global, avalia o domínio das motos em relação aos carros como resultado de um projeto industrial. E isso tem outras consequências.

"Trouxe impactos negativos, principalmente, relacionados a mortes no trânsito. Junto com o sucesso econômico veio esse impacto social”, analisa.

Isso acontece também pela estrutura das motocicletas, que oferece mais risco em casos de acidentes. “A moto é um veículo que não tem tanta proteção além do capacete. O piloto fica totalmente vulnerável se acontecer qualquer sinistro”, completa.

VEJA AS CIDADES ONDE A PROPORÇÃO DE MOTOS É MENOR DO QUE A DE CARROS:
Fortaleza: 36,17%
Eusébio: 36,81%
Maracanaú: 46,01%
Caucaia: 47,30%
Beberibe: 47,42%
Chorozinho: 47,83%
Aquiraz: 49,01%
Pindoretama: 49,95%

As cidades com mais carros do que moto são, principalmente, Fortaleza e parte da Região Metropolitana (RMF). As diferenças entre a realidade urbana e rural, como analisa o especialista, são relevantes para entender o grave problema das mortes no trânsito.

No último ano, 535 motociclistas morreram no Ceará após acidentes de trânsito, como registra a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) na plataforma IntegraSUS. Até abril de 2022, 124 motociclistas morreram em decorrência de sinistros.

2022: 124 (janeiro a abril)
2021: 535
2020: 495
2019: 588

Dante Rosado elenca a falta de fiscalização, maior vulnerabilidade da moto e até ausência de habilitação como fatores recorrentes nos sinistros.

“Isso acontece muito no Interior, mas também na Capital: pessoas sem habilitação para usar a moto e outras que não estão preocupadas com multa por falta de fiscalização adequada”, reforça.

Expansão das motos
Dante Rosado associa o maior número de motociclistas com a rejeição ao transporte público - sendo as motos a alternativa mais acessível economicamente.

“Em grandes cidades, o transporte coletivo passa a não atender a necessidade dessas pessoas - é lotado, desconfortável e demanda muito tempo. As pessoas acabam optando por outros meios de transporte, mas por causa do poder aquisitivo acabam usando a moto”, observa.

“Em relação à segurança de quem anda de moto, precisamos garantir que as pessoas tenham qualificação, usar do capacete e, o mais importante, respeitar os limites de velocidade”

Por isso, o especialista propõe a melhora das condições para deslocamentos de ônibus, por exemplo. “Fazer com que as pessoas retornem para o transporte coletivo, valorizar o transporte público com a passagem mais barata e a viagem mais rápida”, destaca.

Fonte: Diário do Nordeste

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