FOTO: Yago Albuquerque |
O
Carnaval deste ano, porém, traz um diferencial: será o primeiro com a lei
13.718, de 2018, que prevê de um a cinco anos de prisão a quem cometer atos de
importunação sexual.
A
norma se aplica em situações que não configurem estupro. Beijos roubados, toques e apalpadas agora
são lidos como “atos libidinosos com o objetivo de satisfazer a própria
lascívia ou a de terceiros”. Segundo a supervisora do Núcleo de Enfrentamento
de Violência à Mulher, Jeritza Braga, a medida veio para tipificar a importunação sexual.
“Antes, se usava apenas a denominação de ‘abuso sexual’. O agressor recebia
punição mínima, geralmente uma multa, mas não era preso”, elucida a defensora
pública.
“Era
um crime que não inibia o agressor, pois dificilmente resultava em alguma
penalidade. Agora, espera-se que as vítimas sejam encorajadas a denunciar”,
conclui a profissional. E já era tempo, porque não é raro presenciar situações
do tipo. Nem é raro conhecer quem já tenha sido a própria vítima.
Vivências
Sâmara
Gurgel, de 33 anos, é professora dos cursos de Psicologia e Pedagogia. Além de
docente, é integrante do bloco carnavalesco Damas Cortejam, composto apenas por
mulheres e famoso por questionar o papel feminino na sociedade. Em cima do
palco ou não, já viveu e presenciou inúmeras cenas de assédio. “Quando tocamos
pela primeira vez, em 2016, muitos homens questionaram a nossa formação
feminina e o teor do nosso bloco, e um chegou a subir a escada lateral do
palco, querendo usar o microfone”, relata. “Já no Pré do ano seguinte, muitas
mulheres usaram nossa visibilidade no palco para expor abusos que tinham
sofrido ou testemunhado ali”, complementa.
Quando
esteve no Carnaval de Salvador, Sâmara ocupou o lugar de vítima. Assim como
tantas outras foliãs, ela teve partes do corpo apalpadas sem consentimento. A
professora salienta a banalização de comportamentos como esse. “A gente vive
muito isso no dia a dia. Basta pisar na calçada e ficamos sujeitas a abordagens
invasivas”.
Outra
vítima dos atos agora classificados como “importunação sexual” é Mariane Alves*, 22, acadêmica de
Publicidade e Propaganda. De veia feminista, a estudante relembra que os abusos
acontecem em qualquer lugar, públicos ou não, e ressalta que o clima de folia
contribui para a naturalização de comportamentos problemáticos que invadem,
especialmente, o corpo da mulher.
“Tanto
aqui em Fortaleza como em outros Carnavais, já pegaram no meu peito, no meu
bumbum, até na minha vagina. Ouvi frases desrespeitosas que invadiram meu
espaço”. (Diário do Nordeste)
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