Dandara dos Santos foi morta há dois anos.
FOTO: Mariana Parente
O Estado já registrou em 2019, pelo menos, sete casos de homicídios que vitimaram transgêneros, conforme levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). Os dados apontam o Ceará como o segundo estado brasileiro com o maior número absoluto de assassinatos de travestis e transexuais. Fica atrás apenas de São Paulo, com 11 crimes do tipo.

O caso mais recente ocorreu nesse domingo, 16, na localidade de Queimadas, em Horizonte (Grande Fortaleza). Uma mulher trans, de nome social Nahara, 43, foi morta a disparos de arma de fogo. A reportagem conversou com uma familiar da vítima, que pediu para não ser identificada. De acordo com ela, Nahara, cujo nome de batismo era Golbani Silva Ferreira, nunca havia comentado ter recebido ameaças. Para ela, o crime "só pode" ter sido motivado por transfobia. A fonte cita que nada foi levado da vítima. "Ela não tinha envolvimento com facção ou dívida de drogas. Era uma pessoa muito extrovertida, amiga de todos", comenta.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) dispunha de poucas informações sobre o caso. Em nota, a pasta informou apenas que a Perícia Forense do Ceará (Pefoce) esteve no local fazendo os primeiros levantamentos e que a Polícia Civil abriu inquérito para investigar o crime. Nenhum suspeito havia sido preso.

De acordo com a familiar, Nahara já sofreu tentativa de homicídio, mas "há muitos anos". Conforme a fonte, ela havia levado um tiro de um caminhoneiro, que atingiu a região da boca, após uma briga motivada por ele não ter pago um programa sexual. Conforme a familiar, o disparo a deixou sem voz, com a fala rouca.

A fonte ainda conta já ter tido outros três LGBTs de seu círculo de amizade vitimados em homicídios, em casos ocorridos tanto em Horizonte, quanto em Russas (a 168 quilômetros da Capital). "Muitos casos ficam impunes pois são travestis de família humilde, ninguém luta por justiça", desabafa.

Em todo o País, a Antra contabiliza 58 assassinatos de travestis e transexuais até 31 de maio último. O levantamento da Antra tem como base grupos de direitos LGBT e informações veiculadas na imprensa. Para o presidente do Grupo de Resistência Asa Branca (Grab), Francisco Pedrosa, existe um processo de genocídio da população de travesti e transexuais no Ceará. Ele diz que o Estado não possui medidas para a prevenção desses crimes, assim como não esclarece devidamente como andam as investigações ou os contabiliza como crimes de ódio.

Pedrosa cita como exemplo parecer da Comissão de Estudo do Perfil das Vítimas de Crimes Violentos Letais e Intencionais da SSPDS, divulgado em novembro de 2018, afirmando não ter ocorrido crimes por LGTBfobia no Estado em 2017 — quando ocorreu o assassinato de Dandara dos Santos, espancada e morta em 15 de fevereiro daquele ano no bairro Bom Jardim.

"Isso corrobora para que esses assassinatos continuem acontecendo. Quando a gente fala em genocídio é porque tem que pegar a estimativa da população de travestis e mulheres transexuais. O número em que estão morrendo, é um percentual absurdo, nunca visto na história do Estado", complementa.    (O Povo)

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