A informação divulgada, nesta semana, sobre um estudo de pesquisadores chineses que comprovou que a hidroxicloroquina e a cloroquina - substâncias utilizadas no Brasil para tratar doenças como lúpus e malária - auxiliam no combate ao coronavírus teve efeito direto nas farmácias de Fortaleza. A possível esperança de tratamento e prevenção - não reconhecida oficialmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - gerou uma grande demanda por medicamentos à base das substâncias e esvaziou estoques na capital cearense.
Com isso, pacientes em tratamento de lúpus - doença autoimune - que, de fato, carecem da medicação, estão sendo prejudicados.
Nesta sexta-feira (20), o G1 contatou farmácias de distintas redes em quatro bairros de Fortaleza - Bairro de Fátima, Aldeota, São Gerardo e Barra do Ceará -, e em nenhum local a medicação que contém hidroxicloroquina ou cloroquina está disponível. Atendentes nas farmácias alegam desabastecimento devido à grande procura dos últimos dias.
A situação preocupa a comerciante Eliana Soares, de 53 anos, que faz uso diário de hidroxicloroquina. Ela, que tem lúpus eritematoso sistêmico, conta que nesta semana, ao saber da divulgação da informação relacionada ao coronavírus, buscou adquirir o medicamento justamente temendo a falta da substância no mercado. Por ser do grupo de risco para o novo coronavírus, Eliana não pode sair de casa.
“Ligamos para todas as farmácias do bairro. Depois para outros bairros e até para outros municípios. Eu só tenho 10 comprimidos. Minha filha ficou desesperada. Até que conseguimos uma última caixa em uma farmácia”, diz Eliana, que mora no Bairro de Fátima.
A comerciante se queixa do desabastecimento e avalia que isso reflete a falta de consciência da população. “As pessoas sequer sabem que esse é um medicamento que tem efeitos colaterais horríveis”, acrescenta. Eliana foi diagnosticada com lúpus em 2015 e hoje, conta, a doença está em remissão.
A caixa do remédio, segundo Eliana, custa em média R$ 80 e contém 30 comprimidos.
“Eu consegui essa para 30 dias, depois não sei como será. Caso não seja reabastecido, eu vou sofrer os efeitos. Mas é um erro tanto de quem compra como de quem vende. Porque essa caixa de remédio é tarja vermelha”.
A medicação adquirida nesta sexta-feira (20), custou R$ 113, por ser de uma marca diferente da que Eliana geralmente utiliza. Ela reforça que, normalmente, não enfrenta problemas na aquisição desse tipo de remédio.
Venda mediante apresentação de receita
Diante do problema, nesta sexta-feira, o Ministério Público Estadual (MPCE) recomendou a todas as farmácias de Fortaleza que somente realizem a venda de fármacos a base de hidroxicloroquina e cloroquina mediante comprovação da necessidade com receita médica. O documento também orienta que as farmácias devem reter a receita apresentada.
Nesta sexta-feira, o Conselho Federal de Medicina (CFM) também solicitou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que a venda de cloroquina e hidroxicloroquina ocorra só com a receita.
Em nota, a Anvisa alertou sobre a informação do uso desses fármacos para o tratamento de coronavírus. No documento, a agência explica o conteúdo do estudo desenvolvido por pesquisadores chineses e ressalta o pequeno tamanho amostral (foram 20 pacientes tratados). A Anvisa reforça que, “para a inclusão de indicações terapêuticas novas em medicamentos, é necessário conduzir estudos clínicos em uma amostra representativa de seres humanos, demonstrando a segurança e a eficácia para o uso pretendido”.
Além disso, acrescenta que “apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovam o uso desses medicamentos para o tratamento da Covid-19".
"Portanto, não há recomendação da Anvisa, no momento, para a sua utilização em pacientes infectados ou mesmo como forma de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus”, destaca a Anvisa.
No Brasil, segundo a entidade, medicamentos à base de cloroquina e de hidroxicloroquina são indicados para:
Afecções reumáticas e dermatológicas (reumatismo e problemas de pele); Artrite reumatoide (inflamação crônica das articulações); Artrite reumatoide juvenil (em crianças); Lúpus eritematoso sistêmico (doença multissistêmica); Lúpus eritematoso discóide (lúpus eritematoso da pele); Condições dermatológicas (problemas de pele) provocadas ou agravadas pela luz solar; Malária (doença causada por protozoários). (G1 CE)


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