Foto: Fabiane de Paula

Crianças chegam em carros, ambulâncias e nos braços de mães desesperadas por atendimento devido ao aumento de síndromes respiratórias no Ceará. Na primeira quinzena de abril, a média da taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ficou em 91,15% e 94,65% para as enfermarias.

No igual período do último mês, essas médias foram de 80,64% e de 71,28%. Esses dados são referentes aos hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) monitoradas pela Secretaria da Saúde do Ceará referentes ao atendimento de Sindromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) não relacionada à Covid.

Ao analisar a ocupação do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) e Hospital Geral Dr. Waldemar de Alcântara (HGWA) é possível perceber um aumento pela busca de leitos de enfermaria.

Na primeira parte de abril, em média, 40 crianças estavam internadas por dia em enfermaria, enquanto no igual período de março eram 29 internados. Em relação às UTIs, a média permaneceu em cerca de 20 leitos ocupados.

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Leitos de UTI disponíveis no Hospital Albert Sabin, com 16 ocupados nesta sexta-feira (22). São 61 unidades de enfermaria e todas estão ocupadas no dia.
Esse contexto de lotação causa sofrimento nos responsáveis por crianças devido à incerteza de atendimento.

Dúvida que não impediu a dona de casa Maria Eduarda Medeiros Viana de percorrer cerca de 100 km de Ocara, onde mora, até Fortaleza, para tratamento da filha de 4 anos, que está com bronquite.

"Anteontem a médica avaliou e disse que ela não tinha condições de ficar lá (Ocara), porque não tinha pediatra para dar o tratamento adequado. Mesmo tomando medicamento na veia, não estava melhorando", conta.

No Hospital Albert Sabin, a filha recebeu avaliação médica, mas Maria Eduarda observa lotação e dificuldade para o internamento da pequena. "Minha filha recebeu alta, eu não entendo e estou aqui porque preciso”, relata.

Por causa desse contexto foi reforçado o plantão pediátrico de urgência e emergência no Hospital Albert Sabin, como informou a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) em nota ao Sistema Verdes Mares.

“Apesar de ser uma unidade referência de pediatria e com perfil de alta complexidade, o Hias atende pacientes fora do perfil da unidade, não negando atendimento às crianças. Isso ocasiona crescimento da demanda além da capacidade do Hospital”, explicou.

Também estão sendo disponibilizados leitos extras em unidades de suporte como o Hospital Geral Waldemar de Alcântara e o Hospital Infantil Filantrópico Sopai.

A Sesa também destaca a antecipação da fase pediátrica da Campanha de Vacinação contra Influenza como uma das medidas para o controle da situação.

A Secretaria orienta que os sintomas gripais em crianças devem ser inicialmente tratados em unidades da atenção primária e secundária, como postos de saúde e UPAs.

Incerteza de atendimento
A autônoma Andrea Oliveira acompanha com angústia a situação do filho de 2 anos com suspeita de dengue desde a segunda-feira (18). Nesta manhã ela resolveu sair de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), em busca de atendimento.

"Quando chegou aqui o médico disse que ele estava com pneumonia, precisa ser internado e de oxigênio. Tudo lotado e não tem oxigênio", resume.

A fraqueza do filho e a incerteza quanto à vaga para internamento do menino faz com que a mãe chore ao relatar a situação. "Meu filho está quase morrendo e ninguém faz nada", frisa.

Natália Vieira também chegou à unidade para cuidar do filho que nasceu com prematuridade extrema.

"Eu cheguei ontem à noite, mais ou menos às 18h30, dei entrada e por volta de meia noite fiquei internada com meu bebê. Foi feito todo o protocolo, colocaram acesso e às 2h ele tomou a primeira medicação”, explica.

Com a internação, ela observa problemas estruturais para manter o atendimento dos pacientes. "Ele foi encaminhado para essa área, que é tipo um jardim, com ratos, bastante pessoas operadas, várias crianças no relento. À noite deu uma chuva forte", frisa.

Unidades particulares
A demanda crescente de crianças precisando de atendimento médico também acontece na rede particular. Na Unimed, o problema também é associado ao período de chuvas.

 "A Unimed Fortaleza ampliou o atendimento de urgência pediátrica nas suas unidades próprias - sem necessidade de agendamento - e em seu Pronto Atendimento Virtual, que está disponível para crianças e adolescentes de 0 a 17 anos", informou em nota.

Além do Centro Pediátrico da Unimed, urgências pediátricas podem ser atendidas no Pronto Atendimento Pediátrico - Bezerra de Menezes, Pronto Atendimento Pediátrico -  Maracanaú, Pronto Atendimento Pediátrico no Espaço Saúde Unimed (para sintomas respiratórios) e no Pronto Atendimento Virtual, pelo aplicativo Cliente Unimed Fortaleza.

A rede HapVida também aponta aumento na procura por atendimento infantil, com quadro de síndromes gripais, em abril.  "A rede verticalizada da companhia permite ampliação de leitos, nas próprias unidades, sempre que necessário. A empresa tranquila seus clientes de que, na rede própria, não haverá falta de atendimento", destacou em nota.

MPCE requisita plano de contingência
Nesta sexta-feira (22), o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) requisitou que as Secretarias da Saúde do Estado (Sesa) e de Fortaleza (SMS) apresentem, em até cinco dias úteis, um plano de contingência que garanta atendimento adequado à população infantil.

Conforme o MPCE, também no período de até cinco dias úteis, a 137ª Promotoria de Justiça de Fortaleza requisitou à Sesa e à SMS que apresentem as seguintes informações:

Dados referentes à quantidade de crianças e adolescentes que estão em filas aguardando transferências para UTIs e Enfermarias pediátricas no período dos últimos seis meses;

Quantidade de crianças e adolescentes que foram efetivamente internados durante o período, com tabela comparativa dos casos que necessitavam de internação em UTIs e enfermarias e casos regulados, mês a mês, até o dia 21 de abril de 2022.

Fonte: Diário do Nordeste

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