23/07/2022

Morto Nogueira Correia, uma mulher de Guiné-Bissau que mora no Ceará, tem o nome "incomum" por conta de uma tradição do país de origem. Mas isso pode estar prestes a mudar, pois ela buscou a Defensora Pública Geral do Ceará (DPCE) para modificar sua certidão de nascimento para "Miza".

Ela explicou ao órgão que não é a única guineense chamada de "Morto". É comum em famílias que tentaram ter muitos filhos, mas eles sempre acabavam morrendo. 

"Entre minha irmã e eu, meus pais tiveram três crianças. Todas morreram. E eu, quando nasci, adoecia muito, passava mais tempo desmaiada do que viva, o que fez meu pai achar que eu iria morrer também. Compreendo o significado, mas nunca gostei do meu nome", desabafa a mulher de 35 anos. 

Miza, como já é chamada por amigos e professores, foi naturalizada brasileira após oito anos vivendo em solo cearense. A ação de mudança de nome aguarda parecer do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE).

“Como o registro dela é de Guiné-Bissau, nós ingressamos com uma ação de retificação de registro explicando ao juiz que a intenção é evitar os constrangimentos que ela passa por ter o nome que tem, como sofreu a vida inteira até aqui. Acredito que logo logo ela consiga agregar o Miza como o seu nome”, explica a supervisora do Núcleo de Atendimento e Petição Inicial (Napi), a defensora Natali Pontes.

TRADIÇÃO FAMILIAR
Enquanto espera um parecer da Justiça, a guineense busca fazer sua família entender a decisão, que vai permitir o pleno exercício de ser quem ela é, perante a lei. 

"Falei com o meu pai. Disse que aqui as pessoas estranham e que eu tenho o desejo de mudar. Ele disse que tudo bem, porque aqui é outra cultura mesmo. Mas não odeio ele por ter me dado esse nome. Eu amo meu pai. Ele ter colocado esse nome não muda o que sinto por ele. Eu amo ele tanto, tanto, tanto", pontua. 

O nome de Miza veio de uma vidente com o mesmo nome só que grafado com "s". É uma profecia de Guiné-Bissau, que se concretizou após uma promessa feita pelos pais dela. 

“Essa vidente tinha o nome de Misa. Aqui, para evitar problema no julgamento do processo, decidi, por sugestão da defensora, adotar o “z”. Aceitei porque não faz diferença na pronúncia, mas lembrei que uma vez uma mulher me disse que, na verdade, meu pai devia ter colocado meu nome de Vitória, já que eu sobrevivi. Acabou sendo Miza mesmo, com “z”, que é como todo mundo já me chama, e espero que a decisão do juiz saia logo. Não vejo a hora de tirar todos os documentos com meu nome novo”, diz a mulher.

Fonte: Diário do Nordeste

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