Ceará tem, em 2022, o pior índice de vacinação contra paralisia infantil em 27 anos. Foto: Fabiane de Paula

Doenças erradicadas são um reflexo, direto, do quão importante são as vacinas. Os imunizantes, quando aplicados na dose e prazo corretos, são aliados imprescindíveis para uma vida mais saudável. O problema, infelizmente, reside justamente nessas questões: manter o calendário vacinal em dias. No Ceará, 5 cidades estão com índice geral abaixo dos 35% em 2022.

Essa porcentagem é uma média das 20 vacinas englobadas (veja a lista ao fim da matéria) pelo Ministério da Saúde, as quais estão, dentre elas, a BCG - para combate da tuberculose -, hepatite, tríplice viral, poliomielite e rotavírus humano.

Das 184 cidades cearenses, a que apresenta o pior desempenho é São Luís do Curu (28,50%). Ela é a única, inclusive, que tem índice abaixo dos 30%. Os dados foram levantados pelo Diário do Nordeste por meio do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSus). 

Aurora (31,94%), Icapuí (32,29%), Maracanaú (33,27%) e Crato (33,69%) completam a lista dos municípios com piores índices de vacinação. Os dados foram levantados pelo Diário do Nordeste, com base no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.

Em Icapuí, por exemplo, o índice vacinal da BCG é de apenas 35,03%. A proporção adequada para proteção contra as doenças prevenidas por este imuno é de 95%.

No Ceará, a imunização contra a meningite, com as vacinas BCG, Meningococo C, Pentavalente e Pneumocócica, também não atingiu a meta em 2020 e 2021.

A lacuna existente entre os números recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o que, de fato, fora aplicado abre uma discursão: quais os impactos desta baixa cobertura? Vacinação abaixo do índice ideal pode favorecer o retorno de doenças já erradicadas?

A médica e diretora da Clínica Previne Vacinas, Vanuza Chagas, adverte que a "baixa cobertura gera abertura para muitas doenças voltarem, até mesmo doenças que circulam em baixo número, mas que podem deixar sequela, como rubéola e meningite. Essas doenças podem voltar com força total, portanto é uma preocupação grande".

Dentre as consequências desse possível retorno, a especialista aponta a sobrecarga no serviço público. "Na pandemia, vimos o que acontece quando o sistema público entra em colapso. Esse retorno [das doenças] pode geral um caos", acrescenta.

O receio do regresso de doenças erradicadas, conforme apontado pela médica, é alicerçado não somente em estudos científicos, mas também em exemplos.

"A paralisia infantil, que ocorria em áreas bem restritas, como Afeganistão, passou a aparecer casos em outros países, portanto, é importante que as pessoas tenham essa adesão a vacinação".

SOMA DE FATORES
No Ceará, a média geral está em 46,98%, índice também distante do preconizado. No entanto, além das 5 cidades acima citadas com piores coberturas, outras 42 estão aquém da média estadual. Diante deste cenário - preocupante - quais fatores podem ajudar a entender tão baixa cobertura?

Vazuna Chagas avalia que, dentre estes pontos, está a falsa sensação de segurança por parte da sociedade. "A população mais jovem não viu de perto sequelas de doenças graves e surtos de doenças que levaram muitas pessoas a ter incapacitação para o resto da vida e muitas famílias a perderem seus entes querido. Então, por parte de muitos, a uma falsa sensação de segurança de que essas doenças não circulam mais".

Outro fator, ainda conforme a médica, diz respeito a pandemia. "Já vínhamos com uma cobertura baixa. Isso se agravou diante da necessidade natural do isolamento. Então as pessoas temiam procurar os locais de vacinação e acabarem se contaminando com a Covid-19, além do que, o próximo sistema de saúde teve que direcionar as forças para o combate da pandemia".

As fake news também contribuíram neste cenário de baixa cobertura. As falsas notícias disseminadas precisam ser combatidas.
VANUZA CHAGAS
Médica

A Diretora de Vigilância Sanitária de Maracanaú, Neusalidia Evangelista, aponta duas "razões" nas quais justificam o baixo índice: "a resistência da população à adesão da vacinação" e o protocolo utilizado pela Anvisa para liberação dos imunizantes. O Município é o detentor do quarto pior índice do Estado.

"Sempre que a Anvisa libera vacina para uma nova faixa-etária, o número de pessoas aptas para vacinação aumenta e o índice baixa aguardando a adesão do novo público. A última liberação foi para crianças a partir de 3 anos, onde estamos com dificuldade para adesão e aceitação dos pais ou responsáveis", justificou, em nota, a Pasta.

AÇÕES 
A especialista Vanuza Chagas adverte para a necessidade urgente da aplicação de um leque de ações afim de impulsionar o índice vacinal. "Campanha de divulgação em massa, envolvendo pessoas e personalidade de maior visibilidade e credibilidade junto à população e combate a fake news são pontos importantes", diz.

"As campanhas de vacinação são divulgadas com frequência nos meios de comunicação da Prefeitura de Maracanaú como site, instagram, facebook, youtube, telegram e programa de rádio. Também disponibilizamos carro de som na cidade com áudio sobre os pontos de vacinação. Há menos de 1 mês publicamos um vídeo incentivando a vacinação da população", detalha Neusalidia Evangelista.

Investir na informação é, na concepção da médica, ponto nefrálgico para reversão desse cenário preocupante. "O combate das fakes news é importante. É preciso mostrar a importância da vacina e necessário disseminar que a imunidade criada pela vacina é muito melhor que a imunidade adquirida pela doença, pois não deixa sequelas", acrescenta. 

Uma quantidade pequena de imunizante é suficiente para ensinar o corpo a se defender contra uma doença. Quando o vírus ou bactéria entra num organismo protegido, não consegue se desenvolver como em uma pessoa não-vacinada.

Outros pontos elencados por Vanuza Chagas são a ampliação do horário de vacinação nos postos e unidades de saúde, além de um elo mais íntimo entre escola, sistema de saúde e família. "As escolas poderiam cobrar o cartão de vacinação das crianças. É hora de unir forças para avançar", conclui.

Para ter uma maior cobertura vacinal entre crianças e adolescentes, também fazemos vacinação nas escolas e creches do Município, realizando a imunização após autorização dos pais. 
NEUSALIDIA EVANGELISTA
Diretora de Vigilância Sanitária

CAPITAL CEARENSE AMPLIA SERVIÇO
A ampliação de horário destacada por Vanuza Chagas será posta em prática, hoje (20), em Fortaleza. A Capital cearense está com a média de cobertura vacinal em 37,40%. Para impulsionar os índices, será realizado neste sábado o Dia D para multivacinação. 

Ao todo, serão 116 postos de saúde que, de 8h às 16h30, ofertarão 14 imunizantes para crianças e adolescentes. O principal objetivo é a atualização do cartão de vacinação. 

Vacinas ofertadas para crianças:

BCG
Hepatite A 
Hepatite B
Rotavírus
Pentavalente
Pólio Inativada 
Pneumocócica 10 Valente
Tríplice Viral  
Tríplice Viral
Varicela 
Meningite C 
Pólio Oral 
Tríplice Bacteriana
HPV 
Febre Amarela

Para adolescentes:

HPV
Hepatite B  
Tríplice viral 
Meningocócica 
Hepatite B 
Dupla Bacteriana

Em Maracanaú, todos os Postos de Saúde também estarão abertos neste sábado, conforme informou a Secretaria da Saúde. "São ofertados todos os imunológicos como também é feito monitoramento com a finalidade de busca ativa da população não vacinada com o objetivo de atualizar o cartão de vacinação", acrescentou Neusalidia Evangelista.

O Diário do Nordeste tentou contato com as Secretarias da Saúde de Aurora, Icapuí, Crato e São Luis do Curu, no entanto, não obteve retorno até o fechamento desta matéria. 

Coberturas Vacinais em 2022, no Ceará, segundo Imuno:

Total: 46,98%
BCG - 69,28%
Hepatite B em crianças até 30 dias - 59,25%
Rotavírus Humano - 53,44%
Meningococo C - 55,81%
Hepatite B - 55,61%
Penta - 55,61%
Pneumocócica - 58,09%
Poliomielite - 54,19%
Febre Amarela - 29,58%
Hepatite A - 47,12%
Pneumocócica(1º ref) - 53,02%
Meningococo C (1º ref) - 52,92%
Poliomielite(1º ref) - 43,69%
Tríplice Viral D1 - 51,26%
Tríplice Viral D2 - 34,08%
Tetra Viral(SRC+VZ) - 3,74%
Tríplice Bacteriana(DTP)(1º ref) - 43,69%
Dupla adulto e tríplice acelular gestante - 26,38%
dTpa gestante - 41,81%
Varicela - 47,81%

Fonte: Diário do Nordeste

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