Oficina de produção do tijolo ecológico. Danilo
é o primeiro da dir. para a esq. FOTO: Acervo Pessoal
Após inspirar-se durante um curso de Permacultura do qual participou em 2017, Danilo Acácio Lima, 27, reativou o projeto de confecção de tijolos ecológicos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE), em Juazeiro do Norte, onde cursa Tecnologia em Construção de Edifícios.

Utilizando-se de uma receita simples de bioconstrução, Danilo produz tijolos com apenas 10% de cimento e sem nenhum tipo de queima. Ao contrário do que é feito convencionalmente, com a combustão para cozimento do produto, o método aplicado por Danilo utiliza a cura-hidráulica. Sua meta é construir uma casa para provar a eficiência do produto. Até agora, 2 mil tijolos já foram produzidos. Na prática, os tijolos feitos no IFCE derão forma à balcões, um muro de cobogó e a Área de convivência usada pelos estudantes.

“Nós, construtores, engenheiros e arquitetos, geramos muito impacto ao meio ambiente. É costumeiro dizer que o cimento só não é mais usado que a água como se este fato fosse uma vantagem. Não é”, afirma o estudante. Sua notável preocupação com o destino do meio ecológico o levou a procurar alternativas em seu campo de estudo e trabalho, encontrando na bioconstrução e permacultura uma resposta atraente.

MENOS IMPACTO AMBIENTAL
O processo acontece da seguinte forma: com areia (30% argila, 70% areia arenosa) coletada em um terreno ocioso do próprio Instituto, Danilo a penera e mistura manualmente, acrescentando 10% de cimento. “Ou seja, de 10 baldes de areia, utilizo um balde de cimento”, deixa claro. Após aguar, a mistura vai para o maquinário, utilizado para comprimir e moldar, formando o tijolo. São seis toneladas de pressão sobre a mistura. A fase final é a hidro-cura, um processo que leva 7 dias.

Por utilizar apenas um maquinário e sua produção dispensar queima, o bloco ou tijolo ecológico foge dos padrões do convencional industrial. O processo feito por Danilo é artesanal, prensando um tijolo por vez e podendo produzir 50 por dia.

Pela ABNT, a medida de resistência deste tijolo ecológico (2 MPA) é o dobro da medida pelo bloco convencional de cerâmica vermelha (1 MPA). Este modelo BTC (bloco de terra comprimida), Danilo diz, é comprovada há mais de 2 mil anos e foi utilizada em 215 a.C para fazer a Muralha da China. À época, os tijolos foram feitos de argamassa a base de barro e farinha de arroz, cozidos em altas temperaturas.

AÇÕES SOCIOEDUCATIVAS
Ao longo de 2018, a produção dos tijolos ecológicos também vem rendendo ciclo de palestras, oficinas e muita mão da massa – ou melhor, na terra – de alunos do ensino fundamental e médio das escolas municipais e dos centros socioeducativos. Danilo explica que as ações são uma contrapartida realizada pela disponibilidade do maquinário do IFCE. “Sem contar que pude perceber o quão significante é repassar a arte manual, a arte de se fazer com as próprias mãos. As crianças participam, se divertem e aprendem algo novo”, relata.

O projeto conta com orientação do professor Carlos Régis Torquato Rocha, coordenador do curso de Tecnologia em Construção de Edifícios, que considera um futuro promissor para os tijolos ecológicos. “Estamos desenvolvendo pesquisas para substituir o solo por outra matéria-prima como, por exemplo, utilizar o resíduo das fábricas de cerâmica no lugar”, conta, explicando ainda que testes misturando cal com o resíduo da cerâmica poderá deixá-lo mais arenoso.

“Nosso trabalho tem foco ambiental, mas também social. Queremos fazer um trabalho que esteja a disposição da comunidade e obtenha resultados concretos”, afirma. Para isso, estão fechando parcerias com outros cursos e pesquisadores na expectativa de montar um maquinário semelhante, mas que permita a produção em maior escala dos tijolos.       (Site Cariri Revista)

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