Com açudes secos, a população tem sacrificado até bens para comprar água. FOTO: Amaury Alencar |
Santana do Cariri. Populações rurais de vários municípios do Cariri estão sofrendo com a falta de água e dependem de carros-pipa para o abastecimento das residências. Moradores deste Município se encontram nos limites da calamidade. Para as lideranças locais, uma solução emergencial precisa ser colocada em prática para amenizar o sofrimento de aproximadamente seis mil pessoas que estão convivendo com a sede e demais consequências da seca.
A maioria das reservas hídricas se encontra abaixo da capacidade, e outras completamente secas. A operação carro-pipa está em andamento, mas os números das ofertas dos abastecimentos são insuficientes para dar uma cobertura eficaz à zona rural. A situação é alarmante e preocupa autoridades e a população. Falta água para o consumo humano, animal e as culturas em geral.
Despesas
De acordo com o secretário de Agricultura de Santana do Cariri, Valdir Braúlio, o número reduzido de carros-pipas agrava a situação, pois são apenas três veículos disponibilizados pelo Exército para abastecer todas as comunidades.
Mesmo o Município estando arcando com o gasto de outros sete veículos que foram acrescentados, ainda não são suficientes. De acordo com Valdir, seriam necessários ainda mais seis carros-pipas para poder suprir as demandas.
"Apesar de ser um município com um bom manancial d'água, as nossas reservas só estão com apenas 40% de sua capacidade, e o único reservatório existente, o Açude Tatajuba, que fica a 12Km da sede, não tem água apropriada para o consumo humano", afirma.
Os locais mais afetados, de acordo com Valdir, são os sítios e distritos de Baixa Grande, Mocós, Cobras, Silêncio, São Gonçalo, Boa Vista, Tatajuba, Mororó, Pedra Branca e Cardoso. As localidades estão distantes dos mananciais. A distribuição de água está sendo feita pelos carros-pipas, onde as pessoas abastecem baldes e tambores.
"Eles percorrem, na maioria dos casos, longas distâncias para levar a água até as localidades que estão necessitando", ressalta. A água captada no distrito de Palmeiras é levada para o Sítio Anjinhos.
Insuficiência
O agricultor Francisco Cardoso de Oliveira, residente no distrito de Mororó, disse ser crítica a situação. "Quando chega uma carrada de água, a intervalos longos, se torna insuficiente para atender todas as nossas necessidades. Mesmo racionando, ela falta por dias em nossas casas, e a gente não sabe mais o que fazer", declara.
Para Oliveira, é preciso que o governo do Estado volte o olhar para a situação que se encontra a população de municípios como Santana do Cariri e muitos outros que enfrentam situação semelhante. "O governo federal distribuiu muitas cisternas, e foi importante, mas, sem água, essas cisternas não servem para nada", lamenta.
A prefeita Daniele de Abreu Machado decretou oficialmente situação de emergência nas localidades afetadas pela estiagem. Para a gestora, a situação é aterrorizante. "Precisamos de uma resposta imediata. No meu entendimento, tem que haver muito mais investimento para criar e ampliar reservatórios de água em toda a área rural de Santana. Eu espero que o governador Camilo Santana se sensibilize com nossa situação", afirmou.
Qualidade
Em Salitre, a situação de abastecimento se agrava. Os 18 mil habitantes que residem no Município, já na divisa com os Estados de Pernambuco e Piauí, vivem um drama secular da falta d'água potável de boa qualidade para o consumo da população. Os poços profundos perfurados na sede não dispõem de água de boa qualidade para atender as necessidades da população. O empresário Elias Antônio Albuquerque disse que o problema da falta d'água está afetando as pessoas que moram na sede e dependem do abastecimento feito por carros-pipas vindos do Estado de Pernambuco.
Os motoristas comercializam na cidade ao preço de R$ 1,50, a lata, e uma carrada de 70 mil litros ao custo de R$ 400. As pessoas de baixo poder aquisitivo têm sofrido bastante para poder comprar a água para o consumo e estão inclusive sacrificando o dinheiro que recebem dos programas assistenciais dos governos estadual e federal para a compra do produto.
Elias informou, ainda, que devido à falta d'água que atinge todo o Município, as mais de 300 casas de farinha de mandioca, que ficam, em sua maioria, instaladas na zona rural, tiveram que parar as suas atividades, deixando de produzir a goma e a farinha, gerando um grande número de desempregados, e trazendo consequências para a economia local.
O prefeito de Salitre, Rondilsom Ribeiro de Alencar, destacou ser esse problema "um tormento para nós que estamos aqui no dia a dia, porque a água que é vendida pelos carroceiros aqui na sede, só presta para as pessoas fazerem atividades domésticas", salientou. Além disso, observou que a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) tem cobrado valores altos nas tarifas.
Ele, aponta que a solução seria o governo do Estado levar água da adutora da Serra do Desapregado, no Município de Araripe, onde há um poço perfurado pela Petrobras e um outro, pelo governo federal.
Agravamento
Em Potengi, as consequências da estiagem se agravam. A população vive o drama da falta d'água para consumo humano e animal. A cidade é abastecida pelo Açude Pau Preto, que está com apenas 3% de sua capacidade e a lâmina se encontra imprópria para o consumo, com características de podridão, inclusive com mau cheiro. A operação carro-pipa alivia a situação, mas tem sido insuficiente para cobrir com eficiência todo o Município, deixando muito a desejar, principalmente na zona rural.
O comerciante Paulo José Teixeira afirma que a população está apreensiva. "A água que falta em nossas casas é cobrada mensalmente pela Cagece, o que nos deixa ainda mais revoltados. Sabemos que a seca é um fenômeno climático, mas os governantes têm a obrigação de resolver os problemas relacionados com o produto. Não basta disponibilizar alguns carros-pipas. Tem que tomar medidas mais sólidas, a longo prazo e priorizar municípios que, como Potengi, estão em situação crítica", destacou.
Maria da Paz Lima Santos é moradora da zona rural de Potengi. Ela lamenta ter que vender o pouco gado que a família tinha. Para ela, está difícil até para criar as galinhas. Cada litro de água se torna precioso e tem que ser poupado, mesmo com pena dos animais.
"A gente se vira, e até muda de cidade, se for necessário. Num calor desse a gente nem pode tomar mais de um banho por dia, porque não tem como. E ainda assim, somos obrigados a um banho rápido, economizando cada gota. Peço a Deus que chova logo, com mais volume, para poder encher ao menos as cisternas dos pobres", clama a moradora. (E.S.)
(Colaborou Amaury Alencar)
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