O
Açude Castanhão, o maior do Ceará, é estratégico para abastecer cerca de 4,5
milhões de moradores da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e da Bacia do
Baixo Jaguaribe. Neste ano, a barragem estava secando, acumulava, em 1º de
fevereiro, início da quadra chuvosa, apenas 2,25%. Ontem, estava com 8,44%.
Obteve uma recarga superior a 6%. Mas de onde vem a tão esperada água que
reabastece o Castanhão?
A
maior parte, cerca de 60%, vem do alto sertão cearense, das chuvas que banham a
maior parte da região do Cariri, ou seja, do Vale do Salgado. Distante mais de
300Km. O recurso hídrico percorre riachos e rios. Daí a importância de que
ocorram intensas chuvas no Sul do Ceará.
Neste
ano foi o que se verificou durante a primeira quinzena de abril. Choveu bem nos
23 municípios que integram a Bacia Hidrográfica do Rio Salgado, que tem 308Km
de extensão. Nasce no município do Crato e deságua no Rio Jaguaribe, um pouco
após a cidade de Icó, abaixo do Açude Orós.
Quando
chega ao Rio Jaguaribe, a água desce em direção ao município de mesmo nome até
chegar à Bacia Hidrográfica do Castanhão, na antiga Jaguaribara. Já as águas
que descem pelo Rio Jaguaribe (Tauá, Aiuaba, Saboeiro, Jucás, Iguatu) e pelo
Rio Cariús (Nova Olinda, Assaré, Farias Brito, Cariús, Jucás e Iguatu) são
barradas pelo Orós e só chegam ao Castanhão quando este reservatório
transborda.
"Muita
gente pensa que é o Rio Jaguaribe que abastece o Castanhão, mas, na verdade, é
o Rio Salgado a sua principal fonte", pontua o gerente regional da
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), no Crato, Alberto Medeiros
de Brito. "Cerca de 60% das águas do Castanhão têm origem na Bacia do
Salgado".
O
barqueiro José Oliveira, da localidade de Mapuá, zona rural de Jaguaribe, onde
há uma passagem molhada, que fica interditada quando volume da água aumenta
nessa época do ano, apressa-se em explicar: "Aqui é o Jaguaribe, mas essa
água está vindo do Salgado e vai direto para o Castanhão. Ela veio pelo Icó e
lá entrou no Rio Jaguaribe".
As
chuvas no Cariri são mais intensas do que no Alto Jaguaribe (Inhamuns) e, por
isso, o Salgado beneficia com maior volume o Castanhão. Essa é a razão de as
recargas anuais do Orós estarem reduzidas. A água que escorre na cidade de
Iguatu, no Rio Jaguaribe, vem, em sua maior parte, do afluente, Rio Cariús, que
é favorecido pelas chuvas no Cariri Oeste.
Nascentes
No
Crato, dois importantes rios formam o caminho das águas até o Rio Salgado. O
Rio Granjeiro, que nasce no distrito de Belmonte, no sopé da Chapada do
Araripe, em seu médio-curso corta o Centro da cidade. No entanto, está
canalizado e recebendo o esgoto do Município (Canal do Granjeiro). O trajeto
natural do rio foi alterado e hoje dá lugar às ruas e prédios. Chuvas fortes já
fizeram seu canal transbordar, arrastando carros e invadindo lojas, causando
diversos prejuízos. Já no baixo-curso, ele reencontra a zona rural e o cimento
desaparece, mas as áreas adjacentes se encontram sem mata ciliar e, por vezes,
ocupadas pela monocultura.
Mais
à frente, o curso de água encontra o Rio Batateiras, que também nasce no sopé
da Chapada do Araripe e tem em volta de sua nascente muitas lendas e mitos
indígenas. Um dos principais pontos de visitação, a Cascata do Lameiro, é
formada por suas águas. Hoje, com população aproximadamente 135 mil, o
Município assiste ao crescimento de casas próximo ao seu leito. Apesar de
formar o geossítio homônimo e no seu curso estar presente o Parque Estadual do
Sítio Fundão, ele encontra-se poluído e com mata ciliar ameaçada.
No
início deste mês, a Câmara Municipal, em sessão ordinária, aprovou um Projeto
de Lei, de autoria do prefeito José Ailton Brasil, que desafeta uma Zona Especial
Ambiental (ZEA) na área vizinha à Unidade de Conservação, no restante do curso
do Rio Batateiras. São pouco mais de 70 hectares em seu corredor de área verde
e atividades agrícolas, entre dois bairros populares, que devem se tornar um
grande loteamento.
Já
em Juazeiro do Norte, o Rio Salgadinho, que já foi sinônimo de subsistência,
hoje está poluído, parte aterrado e ameaça a população com enchentes,
principalmente em bairros periféricos e na zona rural.
Ao
pé do horto, como contava Senhorzinho Ribeiro, as margens do rio eram compostas
de roçados de arroz e cana-de-açúcar. O leito era bem mais largo e fundo e
havia peixe em abundância. "As águas límpidas refletiam a beleza de uma
natureza virgem e sem poluição. No inverno, o rio se agitava e suas águas
rebeldes triplicavam seu volume", conta em seu livro, "Juazeiro no
túnel do tempo".
Longe
dali, outro importante afluente do Rio Salgado nasce no Cariri e faz as chuvas
na região leste serem importantes para o aporte do Castanhão: o Riacho dos
Porcos. Formado no sopé da Chapada, em Porteiras, seu principal afluente é o
Riacho São Miguel, que nasce em Mauriti. Suas águas encontram com as do Riacho
dos Porcos em Milagres, e depois vão desaguar no Rio Salgado, no distrito de
Ingazeiras, em Aurora. Por isso, as fortes precipitações em Milagres, Mauriti,
Jati, Brejo Santo, Porteiras e Barro, neste ano, foram importantes para o
aporte do maior açude do Estado.
Além
do Riacho dos Porcos, em Aurora, o Rio Salgado é abastecido, na margem direita,
pelos riachos dos Cavalos, das Antas, os rios Cuncás, Pendência, Areia e Titi.
Na Serra da Várzea Grande, os riachos do Pau Brando e Bordão de Velho descem
até ele. Já pela margem esquerda, recebe águas do Rio Carás, Rio Jenipapeiro I
e dos riachos do Meio, do Juiz, São João, dos Mocós, da Caiçara e Jenipapeiro
II. Tudo isso, formando uma bacia no Município, que cobre uma área de 10.500
quilômetros quadrados. Lá, há uma forte atividade de pesca, o que contribui
para a alimentação e a economia dos seus moradores. (Diário do Nordeste)
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