O milho ainda precisa um pouco mais de chuva porque tem
um ciclo
produtivo mais longo, de 90 dias. FOTO: Honório Barbosa
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Os
agricultores estão no campo concluindo a colheita de feijão de corda e a de
milho deve ser iniciada no fim deste mês. Essas são as duas principais culturas
de sequeiro (plantio que depende das chuvas), que respondem por cerca de 95% da
produção de grãos no Estado. Neste ano, a safra deve apresentar queda, por
causa do veranico, que se prolongou em março e persistiu na segunda quinzena de
abril, além da irregularidade das chuvas.
Segundo
o presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce),
Antônio Amorim, há 31 municípios que sofreram mais com o veranico. "São
áreas agrícolas que terão maior índice de frustração de safra por causa da
irregularidade das chuvas", pontuou. "A faixa mais crítica se estende
em parte do Vale do Jaguaribe, no Sertão Central, nos Inhamuns e na região
Centro-Sul cearense", revela.
A
estimativa de safra para o milho é de 830 toneladas e para o feijão, 187 mil
toneladas. "O milho ainda precisa um pouco mais de chuva porque tem um
ciclo produtivo mais longo, de 90 dias, enquanto que o feijão é mais rápido, em
torno de 60 dias", explicou Amorim. "Quanto aos índices de queda na
produção só teremos como saber no fim deste mês", completou.
Acompanhamento
A
Ematerce acompanha, por meio de relatórios mensais, a Situação da Produção por
distritos e por municípios. No próximo dia 20, será fechado mais um
levantamento, a partir de informações enviadas por equipes municipais formadas
por representantes de instituições diversas (IBGE, sindicatos dos Trabalhadores
Rurais, secretarias municipais de agricultura e conselhos municipal de
desenvolvimento social).
Antônio
Amorim explica que a realidade da safra varia entre as regiões e até em um
município há situações díspares, porquanto ocorreu variação de chuvas entre as
localidades rurais.
Existe
outro aspecto. A colheita também está relacionada com a época do plantio.
"Quem plantou mais tarde ainda depende de chuva. Na média geral, a região
Centro-Norte será mais beneficiada com a safra agrícola, no Cariri será
regular, mas nos preocupa um cinturão central, que se estende de Jaguaribe até
Tauá, e no entorno de Iguatu, na região Centro-Sul".
Bom de
pasto
Se
a quadra chuvosa (fevereiro a maio) não se mostrou benéfica para a safra de
sequeiro e para a retomada do volume dos médios e grandes reservatórios, foi
favorável para a formação de pastagem nativa e para o setor da pecuária de
leite e de corte. "O resultado da lavoura vai ficar abaixo da nossa
expectativa, mas tivemos um ano bom para a pastagem e alimentação do
rebanho", observou Amorim.
O
problema maior do Semiárido cearense está na irregularidade das chuvas. As
precipitações localizadas favorecem determinadas localidades, enquanto que
áreas próximas não são beneficiadas. O município de Cedro, na região
Centro-Sul, é um exemplo. "Na parte Sul choveu bem, a safra deve ser boa,
mas, na área Norte, para o lado de Iguatu, foi ruim, haverá forte queda na
produção", frisou o secretário de Agricultura do município, Manoel
Bezerra.
Em
Várzea Alegre, ocorreu situação semelhante. No ano passado, os dados
pluviométricos variaram quase o dobro entre a parte Sul e Norte do município.
"As áreas agrícolas mais ao Sul, mais próximas do Cariri, foram mais
beneficiadas, com chuvas mais regulares e mais intensas em relação ao
Norte", frisou o secretário de Desenvolvimento Agrário, Cícero Cabral.
O
presidente da Ematerce, Antônio Amorim, mostrou preocupação com a redução das
chuvas e até ausência de precipitações neste início de maio, em vários
municípios, tendo em vista o período de floração do milho. "Se tiver
continuidade das chuvas, em várias áreas haverá produção, mas, se faltar, a
queda de safra do grão será ainda mais elevada".
Citando
alguns municípios, Amorim pondera que, em Quixadá e em Quixeramobim, houve
recuperação de volume de água e da pastagem nativa. Em Canindé, a safra será
regular e deve ser boa na maior parte do Cariri. "Avalio que teremos um
ano médio e o que nos prejudicou foi o veranico de março, que durou mais de 20
dias, quando deveria chover mais", lamentou. "Para a agropecuária,
pastagem e volume dos pequenos açudes, as chuvas foram favoráveis".
Amorim
observa que, nos grandes e estratégicos açudes, a recarga foi muito pequena e
mostrou preocupação com a situação dos reservatórios Castanhão, Orós e
Banabuiú, além da Bacia Metropolitana. "Agora em maio, o volume de chuva é
reduzido, mas as precipitações serão benéficas para a cultura do milho",
pontuou o presidente da Ematerce.
Chuvas
de maio
Diferentemente
do presidente da Ematerce, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Iguatu, Evanilson Saraiva, não acredita que as chuvas de maio vão modificar
o quadro de perda de safra de feijão e de milho. "Infelizmente, quem
plantou em fevereiro perdeu quase tudo com a falta de chuva em março por mais
de 25 dias", observou. "Houve perda de milho e feijão em mais de
50%".
O
gerente regional da Ematerce, em Iguatu, Joaquim Virgulino Neto, observou que a
safra, neste ano, tem muita inconsistência. "Nos municípios de Ipaumirim,
Baixio, Icó, Cedro, Lavras da Mangabeira e Cariús a perda será mínima, mas em
Iguatu, Acopiara, Quixelô, Orós e Catarina o prejuízo na lavoura de sequeiro
será mais de 50%", estimou. "No próximo dia 20 vamos ter o último
relatório sobre a situação de produção da quadra chuvosa".
O
secretário de Política Social do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Solonópole, Gerônimo de Lima, afirmou que a perda na lavoura é elevada.
"Quem plantou em fevereiro perdeu porque não choveu em março e quem fez
novo plantio também corre risco de mais uma perda porque não está chovendo em
maio. A safra na região vai ser mínima", explicou.
Em
Milhã, os agricultores estão no campo, colhendo feijão, mas preocupados com a
perda da lavoura por causa de ataque de lagarta e gafanhoto. "A situação
não é boa, a colheita de feijão é pequena e a de milho vai cair muito",
frisou a secretária geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Milhã,
Closenir Barbosa. Para 31 municípios, 2018 será o sétimo ano seguido de perda
na lavoura, pela irregularidade das chuvas. (Diário do Nordeste)
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