Assunto
evitado e ainda despercebido nas estatísticas, o suicídio – que significa a
morte de 800 mil pessoas, por ano, no mundo e é a segunda maior causa de morte
entre jovens de 15 a 29 anos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde
(OMS, 2014) – parece distante de nós. Mas o psiquiatra Fábio Gomes de Matos,
coordenador do Programa de Apoio à Vida (Pravida/Universidade Federal do
Ceará), demonstra que esse problema de saúde pública está mais perto do que se
quer ver: “Dois cearenses morrem, por dia, por suicídio e 20 tentam”, diz,
afirmando que o suicídio tem matado 18 vezes mais do que a dengue, no Ceará.
“Se tem uma política pública para o combate à dengue e não se tem para o
suicídio”, relaciona.
Política
pública significa, essencialmente, prevenção, lembra o psiquiatra. Do Código de
Obras e Posturas dos municípios ao tratamento na rede de saúde, mudanças são
necessárias e urgentes, exemplifica Fábio Gomes de Matos: shoppings centers
deveriam ter barreiras mais altas e viadutos, grades; e o atendimento precisa
ser agilizado. As tentativas de suicídio demandam tratamento além da urgência,
alerta o psiquiatra: as 48 horas seguintes são fundamentais para reconduzir o
sofrimento a possibilidades de cura. E, antes da tentativa, a prevenção é
possível. “Marcar uma consulta no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) demora
dois, três meses... O município é muito lento”, contrapõe.
“Os
passos da prevenção do suicídio são: saber identificar, abordar, acolher e
encaminhar corretamente”, dialoga o procurador Hugo Mendonça, um dos
coordenadores do projeto Vidas Preservadas (desenvolvido pelo Ministério
Público do Estado do Ceará/MPCE, desde abril passado). “Nesse último passo, do
encaminhamento, precisamos fazer surgir (nos governos estadual e municipais),
mais equipamentos para fazer o atendimento. É o ‘x’ da questão (a política
pública para a saúde mental)”, completa.
O
projeto do MPCE objetiva a prevenção, por diversas frentes – sociedade e poder
público –, e tem atuado, com especialistas da área, em seminários e
capacitações (um calendário de ações entre maio e novembro deste ano). A
psicóloga Alessandra Xavier, professora da Universidade Estadual do Ceará, é
uma das consultoras do Vidas Preservadas e reforça: o desafio é fazer a
proteção do indivíduo. Às capacitações em andamento, ela soma a necessidade de
integração das políticas públicas e o devido suporte na rede de saúde. “As
estratégias não se concentram no Caps, mas precisam de capacitação na educação,
na atenção básica... Tem que ser uma agenda de programa contínuo e com várias
ações”, sublinha.
O
treinamento de pessoal, “na saúde pública, para detectar a ideação suicida”,
realizando o devido encaminhamento “para que possa tratar e evitar”, é outra dificuldade
na esfera pública, aponta o psiquiatra Fábio Gomes de Matos. Ainda faltam
investimentos na qualidade do atendimento, além do quantitativo ideal de
unidades psiquiátricas em hospitais gerais, pontua. “Em resumo: o atendimento
demora, não tem equipe suficiente e não é uma questão de prioridade na
elaboração de políticas públicas”, conclui.
Em
contraponto, neste ano eleitoral, conduz Fábio Gomes de Matos, é importante
conhecer as propostas dos candidatos “não só para evitar o suicídio, mas para
promover a vida... É necessário um plano de prevenção do suicídio, da
preservação da vida”. Neste sentido, ele une, a cidade e o País são
responsáveis pelo bem-estar da população.
(O Povo)
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