![]() |
| Mata do Centro Ecológico, em Crateús. Habitat de felinos selvagens. FOTO: DEMITRI TÚLIO |
O
caminho das onças, indica Daniel Fernandes, coordenador da Associação Caatinga,
também é uma das estratégias para estimular a criação de novas reservas
particulares do patrimônio natural (RPPN) ao redor dos 5.845 hectares de
floresta da Serra das Almas. A maior unidade de conservação privada do Ceará e
Posto Avançado da Biosfera da Caatinga na Terra. Certificação concedida pela
Unesco em reconhecimento à preservação da biodiversidade do mundo.
A
existência de onças em matas preservadas de Crateús até o Parque Estadual do
Cânion do Rio Poty, no Piauí, poderá render ganhos sustentáveis a donos de
fazendas e de propriedades onde o bioma ainda não foi devastado para a criação
de gado, extração de madeira sem manejo e para a prática de uma agricultura que
ignora a agroecologia.
Daniel
Fernandes explica que a presença da onça parda na Serra das Almas "é um
indicador de que a cadeia alimentar ali está equilibrada". Porém, a
espécie, que ocupa o topo da cadeia alimentar, "precisa de um território
maior para se deslocar e se alimentar", esquadrinha.
A
área de ocorrência do felino na Serra das Almas acaba sendo um refúgio, como se
fosse uma ilha de conservação. É preciso viabilizar corredores ecológicos por
causa da destruição de habitats. "Por isso nossa estratégia é ampliar o
número de unidades de preservação", explica Fernandes.
Existem
36 RPPNs federais no Ceará. Cinco foram criadas por interesse de proprietários,
no entorno da Serra das Almas. Crateús é o município cearense com maior número
de unidades de conservação particulares na caatinga.
A
existência de grandes felinos em áreas preservadas também favorece a
permanência e reprodução de outras espécies. Caso, por exemplo, da avifauna. As
aves, afirma Daniel Fernandes, precisam de "trampolins" para se
deslocar ou migrar de um território para outro de forma protegida e sem ser
exposta a caçadores.
A
pesquisa sobre os itinerários da onça parda ou suçuarana é parte do projeto
Clima na Caatinga, patrocinado pela Petrobras. Inicialmente, foram postas
armadilhas fotográficas para georeferenciar os pontos dos percursos delas
dentro da reserva e para onde elas estão saindo. Com essas informações, virá a
proposição de criação de novas unidades de conservação e reservas. O biólogo
Hugo Fernandes Ferreira, pesquisador da Universidade Estadual do Ceará (Uece),
coordenará o estudo.
Embora
a Associação já colete dados há alguns anos, agora os biólogos estabelecerão um
método mais direcionado para responder perguntas complexas sobre a ecologia dos
felinos. A primeira expedição será em novembro.
Hugo
Fernandes explica que se buscará responder o mais difícil, que é saber de que
forma os felinos utilizam o local. O foco são as onças pardas. Saber qual a
dinâmica de uso, onde caçam e, sobretudo, por onde e como se movimentam fora da
reserva. Para isso serão instaladas mais armadilhas fotográficas - câmeras que
filmam, ativadas por sensores de movimento e calor - dentro da RPPN e
imediações. (O Povo)


Postar um comentário