FOTO: Felix Imhof
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Na
Suíça, onde a cearense Carine Carvalho mora há quase 19 anos e exerce mandato
de deputada estadual no Cantão de Vaud, há semelhanças com o Brasil. Ela conta
que, no país europeu, as mulheres são mais “aceitas”, mas as reivindicações da
bancada feminina ainda são “difíceis de passar”. Socióloga por formação, ela
também já foi vereadora na Suíça.
A
legislação eleitoral da Suíça tem dispositivos que garantem maior participação
das mulheres na política? Quais são?
Não
há uma legislação eleitoral que garanta paridade entre mulheres e homens. Mas
há partidos, principalmente de esquerda, que têm como regra lançar listas
paritárias ou que têm uma meta em termos de proporção de mulheres candidatas. A
proporção de mulheres nas listas eleitorais ainda é baixa mesmo assim,
principalmente nas eleições municipais.
Ainda
existe um certo receio das mulheres de entrar na política. Mas esse receio é
também ligado a um certo sexismo nesse meio. Existem associações de mulheres
líderes políticas que militam para que os partidos de todas as legendas lancem
mais candidaturas femininas. Hoje, somente 29% dos parlamentares são mulheres.
No
Brasil, além da cota de gênero, que determina que cada partido ou coligação
preencha no máximo 70% de candidaturas de cada sexo, a Justiça Eleitoral
reservou, em 2018, pelo menos 30% do fundo eleitoral para candidatas. Quando
compara com a Suíça, essas medidas contribuem para mudar a realidade da
representação feminina?
Eu
acho que são ótimas medidas de incitação. Seria ótimo se a Suíça adotasse pelo
menos algumas delas. Mas acredito também que são os partidos que devem levar a
sério essa questão e criar um clima de inclusão. A melhor maneira de atrair
mais mulheres na política é de integrar nos programas de partido reivindicações
concretas para a condição de vida das mulheres.
Você
enfrentou dificuldades para ocupar espaço nas Casas Legislativas na Suíça? Como
os partidos tratam as candidaturas femininas? Enfrentou algum tipo de
preconceito?
Não
senti dificuldade de legitimar minha candidatura no meu partido, pelo
contrário, muitos camaradas homens me incentivaram. Quando senti a vontade de
aderir a um partido político, eu utilizei os critérios da igualdade de gênero
dentro do partido e da integração das questões de gênero no programa político
para decidir. Sei que em outros partidos, entrar na lista eleitoral é bem mais
difícil para as mulheres, os homens reivindicam os lugares para si. Mas foi
principalmente depois de eleita que compreendi como é difícil, como mulher, ser
ouvida na Assembleia. Existe ainda um certo machismo nas assembleias. Os
personagens mais fortes da política ainda são majoritariamente homens. As
mulheres têm que trabalhar mais para ter o mesmo crédito.
Que
propostas você pensaria para aumentar a presença das mulheres no legislativo
brasileiro e em outros países?
Os
partidos devem integrar melhor as preocupações das mulheres e apresentar a
questão de igualdade de gênero como tão importante quanto outras questões
políticas. Como debater a Reforma da Previdência sem identificar o impacto
específico que tal reforma terá sobre as mulheres, maioria da população idosa?
Tudo está interligado. Devemos integrar o ponto de vista do gênero na política
e também denunciar publicamente assédio nos lugares de poder.
Se
estivesse no Brasil e quisesse ocupar um espaço na política, acha que teria o
mesmo êxito que na Suíça?
Acredito
que não. Principalmente porque o jogo político no Brasil é mais intenso, mais
violento. Admiro muito as mulheres brasileiras engajadas na Política, pois
devem ter muita perseverança e coragem para assumir seus mandatos com
integridade e dignidade. Mas precisamos de mais mulheres, principalmente
militantes de base, para mudar a cara da política brasileira. (Diário do Nordeste)
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