O custo da tecnologia criada no Cariri é cerca de 40% menor que a convencional, custando R$ 6 mil. FOTO: Antonio Rodrigues |
Como
uma das fundadoras da Feira Agroecológica do Município, a água virou sinônimo
de autonomia. Se a vida dela se transformou a partir de 2003, quando começou a
comercializar seus produtos orgânicos no Centro do Crato, a renda melhorou mais
ainda com a chegada da Cisterna Chapéu do Padre Cícero, 12 anos depois, com
capacidade para armazenar até 52 mil litros. Apesar de ser certificada pela
Fundação Banco do Brasil, em 2013, esta tecnologia ainda é pouco difundida no
Nordeste e se restringe à região do Cariri, onde foi criada, pela Associação Cristã
de Base (ACB).
No
início dos anos 2000, a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) desenvolveu o
programa Um Milhão de Cisternas, a ser implantado em todo o Nordeste. Na época,
a ideia era atender a uma necessidade básica da população: água para o consumo
humano. Com isso, foi criada a cisterna de 16 mil litros para captar água da
chuva pelo telhado. Em 2007, surge o Programa Uma Terra, Duas Águas, com
objetivo de implementar a cisterna maior, com capacidade para armazenar 52 mil
litros, voltada para produção. Os modelos mais instalados são de calçadão
retangular e de enxurrada, que ainda hoje são construídos.
A
ACB, organização não-governamental fundada há quase 37 anos por agricultores de
diversos municípios do Cariri, foi uma das primeiras a implementar as cisternas
na Região pelos dois programas. Porém, seus técnicos enxergavam um problema,
sobretudo, na cisterna de calçadão: a tecnologia consumia muito espaço do
terreno dos pequenos agricultores, aproximadamente 200 metros quadrados de
cimento, onde a água da chuva é jorrada. Foi aí que seus membros se debruçaram
em procurar uma solução.
Em
2007, teve início as primeiras experiências para criar uma cisterna com
calçadão circular em que a água que atingisse seu teto também fosse captada,
possuindo a mesma capacidade de estocamento: 52 mil litros. Com 80 m² de área,
que escorre para as fendas nas bordas, surge a tecnologia batizada de Chapéu do
Padre Cícero, pelo seu formato. "Até para homenagear o Padre que
incentivava a construção de uma cisterna em cada casa", conta Socorro
Silva, coordenadora da ACB.
A
primeira cisterna foi construída no Sítio Catolé, em Nova Olinda, em 2010, para
atender à Casa de Farinha Dona Soledade, da Associação dos Pequenos Produtores
Rurais do Sítio Serra do Catolé, que fica no topo da Chapada do Araripe. O
reservatório teve bom resultado e, ainda hoje, permanece em pleno
funcionamento, auxiliando a produção de farinha e goma dos agricultores
familiares.
"Nas
duas primeiras semanas, percebemos a eficiência da cisterna", lembra o
agricultor José Valdo Gonçalves. "Ela economiza chão e recebe mais água
por causa do telhado. Para quem tem uma tarefa, faz uma diferença
medonha", completa.
A
Cisterna Chapéu do Padre Cícero também causa um impacto ambiental menor no
terreno em que é instalado, já que a de calçadão retangular demanda a retirada
de árvores de grande e médio portes do seu entorno. Essa medida é necessária
para que as raízes não danifiquem a estrutura, podendo causar rachaduras e
afundamentos.
Além
disso, o custo da tecnologia criada no Cariri é cerca de 40% menor que a convencional,
custando cerca de R$ 6 mil, pois utiliza menos material. "A mão de obra
também é mais barata, pois gasta menos dias de construção", diz o técnico
agrícola Ery Cláudio. (Diário do
Nordeste)
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