Brenda
Barbosa (35) teve o primeiro contato com o serviço doméstico como fonte de
renda aos 12 anos, quando foi para casa de família ser babá. Atuando como
diarista há quatro anos, ela conta já ter trabalhado como empregada doméstica
formal e como recepcionista, mas se identifica mesmo é com os afazeres
domésticos.
Sem
cadastro de microempreendedora individual (MEI), Brenda faz parte dos 245 mil
trabalhadores da categoria que estão na informalidade no Ceará. Segundo a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), elaborada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os empregados da classe
com carteira assinada no Estado chegam a ganhar, em média, mais que o dobro
daqueles que não possuem a carteira assinada.
No
primeiro trimestre deste ano, a média cearense de rendimentos dos ocupados no
serviço doméstico ficou em R$ 584. Quando o trabalhador se encontra na
formalidade, a remuneração média sobe para R$ 1.059, enquanto fica em R$ 507
para os informais. A média estadual é ainda a quarta pior do País para o
segmento, ficando atrás somente dos vizinhos Bahia (R$ 561), Maranhão (R$ 539)
e Piauí (R$ 513).
Apesar
dos números mostrarem o contrário, Brenda revela que prefere trabalhar como
diarista que como mensalista formalizada, porque assim consegue “ganhar mais do
que somente um salário mínimo” que a pagariam com carteira assinada. Ela revela
que cobra R$ 100 por diária. “Tenho clientes a semana toda. E como diarista, eu
recebo o pagamento no final de cada dia. Como mensalista, em um lugar só,
receberia só a cada 15 dias”, argumenta.
Confiança
Brenda
conta que tem quatro clientes fixas, fora as esporádicas. “Tenho uma patroa que
as filhas dela já cresceram, casaram e hoje são minhas clientes também.
Preferem a mim, porque já me conhecem, podem sair e deixar a casa sozinha
comigo”, afirma.
O
presidente do Instituto Doméstica Legal, Mario Avelino, aponta que um dos
pilares fundamentais para a profissão é a confiança. “A confiança é importante
em qualquer área, mas no serviço doméstico é ainda mais, porque o empregador
coloca o funcionário dentro da própria casa. Qualquer arranhão nessa confiança,
já causa a demissão”.
Avelino
acrescenta que muitos dos trabalhadores domésticos preferem não ter a carteira
assinada por medo de perder benefícios sociais, como o Bolsa Família. “Depois
da aprovação da PEC das Domésticas em 2015, isso mudou um pouco, porque os
direitos garantidos passaram a valer mais a pena do que as políticas
assistencialistas”.
Precarização
O
presidente ainda comenta que a rotina da diarista é mais precária do que a da
mensalista. “Antes (como mensalista), ela tinha a semana inteira para dar conta
do trabalho. Quando passa a ser diarista, tem que fazer as tarefas da semana em
um ou dois dias”.
O
analista técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconô-micos (Dieese), Reginaldo Aguiar, relembra que a maioria dos
trabalhos de serviço doméstico são realizados sem registro algum. “Essa alta
informalidade faz com que a taxa de desocupação do Estado diminua, porque as
pessoas estão exercendo alguma atividade, mas, na maioria das vezes, são formas
precárias, com salários baixíssimos”. (Diário do Nordeste)
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