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FOTO: Emanoella Callou |
Liderados
pelo professor Thiago Mielle, a equipe, formada pelo professor Francisco de
Assis Cavalcante; por quatro estudantes de iniciação científica, Amíson Gomes,
Daniel Bernardes, Luís Arrais Júnior e Marcelo Felipe; e pelo técnico em
laboratório João Victor Moura, tem desenvolvido estudos para descobrir métodos
alternativos de aferição da quantidade de estrogênios (hormônios) sintéticos
usados na pecuária. No momento, os pesquisadores focam no estudo de métodos
para medir a quantidade de hexestrol presente nas tilápias criadas em cativeiro
e de dienestrol encontrados na carne bovina. De acordo com o professor Thiago
Mielle, a ideia é encontrar uma maneira mais simples de fazer o controle nesses
alimentos, bastante consumidos no Nordeste.
“Nós
não temos métodos muito eficientes, não temos controle muito rigoroso com
relação à presença ou não desses compostos. É uma instrumentação muito cara.
(…) Às vezes o procedimento de análise é muito complexo”, comentou. Essas
substâncias, conforme Mielle, são utilizadas para fazer os animais crescerem e
se reproduzirem mais rápido. Como não são totalmente metabolizadas, acumulam-se
no organismo dos consumidores, podendo causar diversos problemas de saúde.
“Algumas literaturas trazem problemas cardíacos, problemas alérgicos, mas um
dos mais graves é a função de desregulador endócrino. São substâncias que
afetam negativamente nosso metabolismo, desenvolvendo alguns problemas nas
glândulas endócrinas”, disse. Câncer e problemas hormonais podem estar
associados à desregulação, de acordo com o pesquisador.
Métodos
Os
métodos para verificar o hexestrol e o dienestrol já estão sendo testados em
laboratório, no campus Juazeiro do Norte. O estudante Amíson Gomes, do sétimo
semestre do curso de Engenharia de Materiais, que participou da construção do
equipamento, explicou como funciona. No caso da tilápia, a equipe construiu
eletrodos (sensor químico) de carbono modificado com nanocristais de níquel.
Esses sensores são colocados em contato com uma amostra extraída de uma pasta
feita do fígado da tilápia. Com o auxílio de um software, os níveis de
hexestrol vão sendo calculados.
Já
para verificar o dienestrol no boi, os pesquisadores utilizam um eletrodo de
carbono vítreo modificado com nanotubos de carbono e nanopartículas de prata e
também contam com a ajuda do software. Nesse caso, a amostra analisada é a
urina do boi. As tilápias utilizadas foram compradas no comércio local. Já a
urina do boi foi disponibilizada por voluntários de fazendas em Marabá (PA),
onde Thiago Mielle desenvolve um projeto em parceria com a Universidade Federal
do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).
A
ideia do pesquisador é futuramente patentear e disponibilizar esses
dispositivos para instituições que tenham interesse em utilizar. No momento,
ainda não há parceria com nenhum órgão. “A gente tem tentado divulgar alguns
dos nossos trabalhos, porque normalmente é assim: você divulga o trabalho, as
pessoas tomam conhecimento e chega o interesse”, disse.
Menção
honrosa
Os
estudos com o hexestrol e o dienestrol foram apresentados no Vigésimo Segundo
Congresso Brasileiro de Eletroquímica e Eletroanalítica, realizado no começo de
setembro em Ribeirão Preto (SP). Com a apresentação do último, o estudante
Amíson Gomes recebeu menção honrosa, o único do Nordeste a ser contemplado com
esse reconhecimento nesta edição do evento. “No artigo foi apresentado o método
e os resultados da aplicação do nosso dispositivo. Na eletroanalítica já
existem vários estudos utilizando esses eletrodos, mas não tinha nenhum sendo
utilizado para esse tipo de substância mais precisamente”, explicou Gomes.
Ele
tem 22 anos e planeja fazer mestrado e doutorado, quando concluir o curso de
Engenharia de Materiais, para continuar na carreira de pesquisador. É filho de
agricultores e morava na zona rural de Exu (PE), distante cerca de 85 km de
Juazeiro do Norte, ajudando os pais na roça em plantações de milho e feijão.
Foi o primeiro da família a ingressar numa universidade pública. Precisou se
mudar para o Crato, a fim de ficar mais próximo da universidade, e passou a
contar com auxílios da assistência estudantil. “Ele está fazendo um trabalho
excelente, é muito dedicado. Ele passou por uma mudança de vida”, disse o
professor. Graças a isso, hoje, além de ter diferentes opções de escolhas para
o futuro, Amíson pode contribuir com comunidades que trabalham com produção
agropecuária, ao desenvolver pesquisas nessa área.
Apoio e
parceiros
Os
trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores só foram possíveis por causa do
apoio financeiro da universidade e das instituições de fomento à pesquisa. No
ano passado, o projeto recebeu R$ 5.333,33 de edital da Pró-Reitoria de
Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PRPI/UFCA), que contemplou outras 29
pesquisas da instituição. De acordo com o Pró-Reitor Adjunto de Pesquisa da
UFCA, professor Rafael Perazzo, com esse tipo de edital, o pesquisador pode
adquirir material de consumo e serviços de terceiros de forma simplificada, sem
a necessidade de licitação. “O próprio pesquisador escolhe os materiais mais
adequados e com melhor custo-benefício”, disse. Dessa forma, a pesquisa também
pode andar mais rápido, sem precisar aguardar os trâmites de uma licitação,
ressaltou o professor Thiago Mielle.
O
estudo também recebe apoio financeiro da Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Conta ainda com parceria,
além da Unifesspa, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e da
Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern). Essa parceria prevê a
possibilidade de uso da infraestrutura dessas universidades e também de
intercâmbio e troca de conhecimento entre os pesquisadores.
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