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FOTO: Agência Petrobras |
A
afirmação sobre o megaleilão de quatro campos do pré-sal, realizado ontem pela
manhã, no entanto, esconde uma certa frustração quanto às expectativas do
Governo Federal. A estimativa de arrecadação, que era de R$ 106,6 bilhões,
resultou em um valor 34% menor (R$ 69,96 bilhões) e metade dos ativos sem
nenhuma proposta. Enquanto o Governo recebeu o desempenho como satisfatório,
especialistas se dividem sobre a questão.
Uma
das justificativas ao contraponto dessa perspectiva otimista da União é o valor
de repasse aos estados e municípios que, pelo resultado do leilão, deverá cair
pela metade. Pelas regras estabelecidas pelo Ministério da Economia, a
Petrobras – compradora dos dois blocos principais – deverá receber uma parcela
fixa de R$ 34,6 bilhões do total arrecadado. Do restante (R$ 35,36 bilhões),
15% serão destinados aos estados e ao Distrito Federal, 15% para os municípios,
3% para o Rio de Janeiro (estado produtor), e a maior parcela, de 67%, irá para
a União.
Com
a redução do montante esperado, de R$ 106,6 bilhões para R$ 69,96 bilhões,
estados deverão receber R$ 5,3 bilhões. A previsão, antes da rodada do leilão,
era de R$ 10,8 bilhões. O dado representa um encolhimento de 50,92%. Assim, o
Ceará deve receber R$ 264 milhões.
O
resultado abaixo do esperado poderia ser explicado pelo posicionamento da
Petrobras, que se colocou, antes do início do leilão, como operadora
obrigatória dos dois principais blocos do certame.
Segundo
o professor Francisco Nepomuceno Filho, diretor do Parque Tecnológico da
Universidade Federal do Ceará (UFC), a postura da estatal pode ter afastado as
principais companhias do setor de petróleo, já que elas não teriam o controle
dos poços. Isso teria gerado um “boicote político” em relação ao leilão.
Avaliação
“As
companhias não vieram porque elas querem ser operadoras, mas a Petrobras tinha
avisado que seria a operadora, então isso pode ter diminuído o interesse pelo
leilão”, disse o professor. “A Exxon, por exemplo, já está bem posicionada no
pré-sal, então competir nesses blocos poderia não ser tão vantajoso assim, com
essas condições”.
O
diretor do parque tecnológico da UFC, contudo, considerou esse “insucesso” como
algo positivo para o País, afirmando que será uma boa oportunidade de manter os
recursos dentro do Brasil. “Os chineses que fazem parte do consórcio com a
nossa estatal vão praticamente comprar o petróleo, e eles acrescentarão mais na
parte comercial, então quem vai ficar com a parte tecnológica vai ser a
Petrobras. Passar os campos para empresas estrangeiras poderia ser muito
danoso”, disse.
Apesar
da perspectiva otimista sobre os recursos, o especialista em energia e
coordenador do programa Ceará 2050, Expedito Parente, aponta que o mercado
também ficou um pouco frustrado com o desempenho do leilão de ontem. Para se
ter uma noção, em um intervalo de dez minutos, logo após o resultado do
certame, as ações ordinárias da Petrobras caíram de uma alta de 3% para um
recuo de mais de 3%. Além disso, o dólar acabou se valorizando frente ao real,
de 2,25%, passando ao patamar de R$ 4,08.
“Não
dá para dizer que foi um fracasso, mas há uma frustração com relação ao
resultado. O dólar começou a subir e as ações da Petrobras caíram, então isso
representa a frustração do mercado com relação às previsões do Governo. Isso
porque a arrecadação ficou abaixo do esperado e, talvez, o Governo tenha
dimensionado errado os valores para os blocos”, explicou Parente.
“Os
valores mínimos dos blocos que não foram vendidos talvez estivessem um pouco
acima do que eles realmente mereciam”, completou.
Já
o economista e consultor na área de petróleo gás, Bruno Iughetti, considerou o
resultado do leilão como histórico e bastante positivo, negando que o Governo
possa ter se frustrado com a arrecadação. “O valor pago pela Petrobras é uma
marca histórica porque não há registro disso no mundo. Há otimismo e estamos
muito próximos da meta de 104 bilhões anterior”, disse. (Diário do Nordeste)
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