Médico perito da UFCA, Miguel Marx (esquerda), e Chefe do Gabinete da Reitoria, Assis Nogueira (direita), entregam face shields à Prefeitura de Caririaçu
A Universidade Federal do Cariri (UFCA) deu início na última quarta-feira, 8, à entrega de protetores faciais a instituições de saúde da região. Os protetores – feitos basicamente com uma folha de acetato sustentada por um suporte feito de um polímero – foram produzidos em laboratórios da instituição, com apoio de diversos parceiros, entre eles as Prefeituras de Caririaçu e de Juazeiro do Norte e a fabricante de produtos farmacêuticos Farmace, em Barbalha. As chamadas face shields, como são conhecidos os protetores faciais, são equipamentos para uso por pessoas que desempenham atividades expostas a aerossóis ou gotículas, como é o caso dos profissionais de saúde que atendem pacientes sob suspeita de terem contraído a Covid-19: doença causada pelo novo coronavírus. 

A produção em larga escala das face shields foi possível, na UFCA, após o uso de um molde (cedido pela indústria de calçados PVC) em uma máquina injetora do Laboratório de Polímeros da UFCA. Antes, as tentativas de fabricação giravam em torno do uso de máquinas de impressão em 3D, cuja produção é bem mais lenta se comparada à feita com uso da injetora. 

Com as máquinas 3D (nenhuma delas de propriedade da UFCA), a confecção de um protetor facial durava de uma a três horas. Com o apoio do molde e da injetora – manuseada sob coordenação do professor do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT/UFCA), André Wesley – o tempo de confecção dos suportes que sustentam a folha de acetato caiu para 50 unidades a cada meia hora, dando à produção caráter industrial. Nos primeiros dois dias de teste do molde na injetora, foram confeccionados mais de 1.300 suportes. 

Inicialmente, para cortar o acetato (material que compõe a estrutura do protetor que cobre o rosto do usuário), a equipe envolvida no projeto usava a máquina de corte de um laboratório do curso de Design da UFCA. Em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai – Juazeiro do Norte), o corte passou a ser feito em um equipamento mais ágil chamado balacim, aumentando ainda mais a capacidade da Universidade de produzir face shields. 

“No entanto, esbarramos na necessidade de conseguir os materiais rapidamente para atender a demanda local”, frisa o reitor da UFCA, Ricardo Ness. Isso porque, conforme o Ministério da Saúde, o mês de abril será o mais crítico para o Brasil no enfrentamento da expansão da Covid-19.

A Universidade, caso tente conseguir os insumos para a confecção das máscaras por meio de compra, terá que seguir os ritos burocráticos exigido na Administração Pública, disciplinados pela Lei 8.666/93: a chamada lei de licitações. O texto prevê, no seu Artº 24, inciso quarto, que a licitação (processo de contratação de compras e de serviços da Administração Pública – que pode levar até 120 dias para ser concluído) é dispensável “nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares”. Mesmo nessa hipótese, a Universidade dependeria do tempo da formalização da dispensa de licitação e da oferta dos insumos no mercado, que estão escassos dada a alta demanda por materiais usados na confecção de equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais de saúde, no atual contexto de enfrentamento da Covid-19. 

Assim, a UFCA está cadastrando – junto à Fundação de Apoio a Serviços Técnicos, Ensino e Fomento de Pesquisas (Fastef), da Universidade Federal do Ceará (UFC) – um projeto de Extensão para receber doações de materiais ou de quantias em dinheiro para a compra dos insumos. Caberá à própria Fastef/UFC a compra dos materiais ou a destinação dos possíveis insumos doados. 

Conforme o chefe de gabinete da Reitoria da UFCA, Assis Nogueira, um dos articuladores do projeto e integrante do Comitê Interno de Enfrentamento da Covid-19 (Cieco-19/UFCA), um rolo de acetato 0,25-0,35mm, de 30kg, é o suficiente para o corte de 500 folhas para os protetores. Um rolo como esse pode ser encontrado no mercado ao custo aproximado de R$ 500,00. Ainda segundo Assis, o saco de polímero, com 25 kg, fornece matéria-prima para a confecção de 700 suportes – com preço médio de R$ 230,00: “As instituições que precisarem dessas máscaras poderão encaminhar ofício à Reitoria da UFCA, informando quantitativamente a sua necessidade. A UFCA sugere contrapartida em materiais, caso a instituição demandante tenha condições de oferecê-la, para permitir a confecção de mais máscaras. Também é preciso que os solicitantes estimem corretamente sua demanda, para que a Universidade possa ajudar o máximo de instituições possível”, explica. 

Na lista dos primeiros beneficiários da UFCA estão as Secretarias de Saúde de Missão Velha, de Brejo Santo e de Caririaçu; o Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo (em Barbalha) e o Hospital e Maternidade São Lucas (em Juazeiro do Norte). Juntos, eles devem receber, nos próximos dias, 380 protetores faciais.

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