Quando surgiram os primeiros casos do novo coronavírus no Brasil, houve quem diminuísse a gravidade da doença apontando que ela só colocaria idosos em risco maior de morte. "Quem diz uma coisa dessas é porque já não tem mais amor, solidariedade", diz Verônica Souza, coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa da Arquidiocese de Fortaleza. "Você cuidar do idoso é cuidar da sua própria história, dos seus pais, da sua vida no futuro". 

Hoje com 56 anos e os dois pais vivos - "e saudáveis, graças a Deus" -, Verônica coordena uma equipe de até 400 voluntários que visitam e acompanham 1800 idosos no Ceará. O grupo pode ser até pequeno para o universo da terceira idade do Estado, hoje com quase 1,2 milhão de pessoas acima dos 60 anos, mas recebe todo o esforço e dedicação da Pastoral: "Tudo nesse trabalho são ganhos: de cuidado, de atenção, de dignidade", diz. 

Grupo de risco para o novo coronavírus - mas que não são os únicos com quadros graves da doença -, idosos são hoje 12,8% da população do Ceará. Até a noite de ontem, 12 dos 21 óbitos pela Covid-19 no Estado foram de pessoas com mais de 70 anos (57% do total). Em todo o Brasil, idosos correspondem a 14,26% da população, com 30,1 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Dados são de projeção do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). 

Na Itália, país que tem chamado atenção para a grande quantidade de mortos pela Covid-19, esse mesmo segmento corresponde a quase 30% da população. Para o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e especialista em geriatria, João Macedo Coelho Filho, essa parcela da população já está integrada ao dia a dia do Estado, sendo inviáveis propostas por um isolamento exclusivo para idosos. 

"Não adianta deixar o idoso isolado e o jovem circulando, porque ele acaba trazendo o vírus para os mais velhos", diz. João Macedo destaca que, apesar de mais difícil para os mais velhos, o isolamento social continua sendo a melhor estratégia na crise. "É mais difícil para o idoso, justamente porque muitos precisam de suporte permanente, não podem se dar ao luxo de ficar 10 dias sem contato com ninguém. Mas o caminho é esse", diz. 

Na Pastoral da Pessoa Idosa, a chegada da crise já promoveu uma série de cuidados extras. "Desde o começo de março suspendemos todas as visitas, capacitações e encontros regionais. O que temos tentado fazer é não deixar de ter esse contato com o idoso, seja por teleatendimento ou outras vias, para que não deixe de ter seus direitos, ser vacinado, etc", diz Verônica. Segundo ela, cada um dos voluntários atende entre três a oito idosos. 

No Lar Torres de Melo, símbolo do acolhimento da terceira idade no Ceará e onde vivem hoje cerca de 220 idosos, a rotina também foi completamente alterada pela ameaça. "Pulverizamos água sanitária desde a entrada do lar até áreas comuns, portão, muro, chão, tudo de hora em hora, tudo todo dia", diz a gerente administrativa do abrigo, Lúcia Severo. Desde os primeiros dias da crise, o lar já fez restrições rigorosas de entrada de visitantes e saída de moradores. 

"O mais difícil é controlar os idosos que gostam de sair. No início era mais complicado, mas agora muitos já percebem que é melhor ficar lá quietinho", diz Lúcia. Ela conta que, por conta de um convênio com a Prefeitura, o abrigo tem conseguido se manter diante da crise, mas há carência de Equipamentos de Proteção Individual.

Por que idosos correm mais riscos 
1) Boa parte das pessoas acima de 60 anos possui uma condição chamada "síndrome de fragilidade", que é independente de doenças estabelecidas. A síndrome provoca duas alterações no corpo: 

- Imunológicas: com a idade avançada, o organismo perde capacidade de combater a doença. Além disso, há aumento na produção de substâncias inflamatórias, que agravam quadros da Covid-19. 

- Musculares: como a Covid-19 provoca insuficiência respiratória, a musculatura intercostal é vital para manter fluxo da respiração. Como idosos têm perda de massa e função muscular com o tempo, isso agrava o problema. 

2) Na prática, boa parte dos idosos apresenta doenças crônicas, que fragilizam doentes com Covid-19 mesmo em idade menos avançada. 

- Entre idosos, as mais comuns são doenças cardíacas, muitas vezes relacionadas a problemas de pressão arterial, e também a diabetes. 

Serviço 
Você pode fazer doações para o Lar Torres de Melo pelo telefone 3206.6750 ou na página www.lartorresdemelo.org.br 

Banco do Brasil 
Agência 8076-4 Conta 105.915-7 Caixa Agência 0920 Conta 1018-5 Bradesco Agência 0741 Conta 23.032-4 CNPJ: 07.344.393/0001-08                               (O Povo)

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