Cidades cearenses preparadas para atender pacientes em
estado grave de Covid-19 são minoria, aponta estudo.
FOTO: Bruno Kelly/Reuters
Apenas oito das 184 cidades cearenses contam com a estrutura necessária para receber pacientes afetados gravemente pela Covid-19 doença causada pelo novo coronavírus, conforme levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No Cariri, somente 4 possuem essa estrutura. Pacientes com esse diagnóstico precisam de equipamentos como respiradores ou ventiladores, monitores de ECG, desfibriladores, bombas de infusão e tomógrafos. 

As cidades com estrutura, com base em unidade para cada 10 mil habitantes, são Crato, Barbalha, Juazeiro do Norte e Brejo Santo, na região do Cariri, além de Crateús, Iguatu, Fortaleza e Sobral. Até esta quinta-feira (16), há mais de 2,4 mil casos da doença em 75 cidades do Ceará.

“Se o município possui 20 mil pessoas, por exemplo, e apenas um equipamento, ele não conta”, ressalta a pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Margareth Portela. “No caso dos tomógrafos e leitos de UTI, que normalmente nós já temos bem menos, assumimos que teria que ser uma taxa maior que zero, ou seja, pelo menos um na cidade. É preciso um pacote. Há, por exemplo, pacientes que não vão para o leito de UTI, mas que precisam ter uma estabilização.”

Quixeramobim e Maracanaú, que possuem exemplares de todos os equipamentos citados pela Fiocruz, ficaram fora da lista das oito cidades por conta do critério. Por sua vez, todos os outros 174 municípios apresentavam, em fevereiro, a falta de pelo menos um dos insumos. O objetivo da pesquisa é apontar direções de investimento, embora reconheça que os estados já estão se movimentando para adotar as medidas necessárias. 

Importância no tratamento
Os casos graves da doença necessitam de maior atenção e equipamentos importantes, mas nem sempre disponíveis. O coordenador médico da emergência adulta do Hospital Regional Norte, Alan Muniz, avalia que cada situação precisa ser vista de forma pontual. “A história e o exame do paciente, associados a exames de laboratório e tomografia de tórax, podem ajudar no diagnóstico e melhor tratamento do paciente.” 

Os equipamentos considerados pela Fiocruz são utilizados na estabilização e manutenção da vida do paciente ou diagnóstico preciso da doença. “O perfil de uso que temos observado é de um atendimento mais duradouro, com mais tempo hospitalar, por isso, é preciso uma estrutura na rede. Mas não existe mágica. Nesse momento, é preciso estruturar lugares que já contam com o mínimo”, destaca Margareth. 

A presidente Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems), Sayonara Cidade, acrescenta que as cidades listadas pela Fiocruz já atuam como rede de referência assistencial. “Estão recebendo investimentos, construindo hospitais de campanha e ampliando suas estruturas para não sobrecarregar a rede de Fortaleza”, destaca. Os municípios estão em processo de reformulação dos Planos de Contingência com base no Plano Estadual. 

Saída viável 
Pela limitação do sistema, o Ceará vem adotando, como sugere a pesquisadora, centros de referência. “Teoricamente, não precisamos ter recursos mais complexos em todos as unidades. A ideia da regionalização é exatamente no sentido de organizar alguns municípios e por questão da economia de escala ter algum centro de maior complexidade em uma cidade, que serve de referência”, ressalta. 

No Ceará, a 1ª Região de Saúde, em Fortaleza, possui o maior número de equipamentos. Na sequência está a 12ª Região, que corresponde à Macrorregião de Sobral, seguida pela 21ª Região, em Juazeiro do Norte. 

Situação no interior
As redes no interior contam, ainda, com apoio dos Hospitais Regionais, localizados em Sobral, Juazeiro do Norte e Quixeramobim. 

No Hospital Regional do Cariri, por exemplo, que atende uma população estimada de 1,5 milhão de 45 municípios, 15 pacientes estão internados em estado grave com suspeita de Covid-19. A diretora geral da unidade, Demostênia Coelho Rodrigues, explica que, neste momento, a prioridade é ampliar os leitos de UTI. “A gente entende que não pode deixar de atender outras doenças”, explica. Os pacientes aguardam resultado do exame. 

Antes da pandemia, haviam 50 leitos de UTI, e o HRC já criou mais 35, número que deve subir para 60 leitos, exclusivos para atender pacientes com Covid-19. 

Havendo necessidade, vamos tentar readequar os demais, de outras patologias. Pode ser que o número cresça e tenhamos que transformar leitos de enfermaria em de UTI”, antecipa a gestora. “A gente vive num momento de tensão, temos que literalmente trocar o pneu do carro com ele andando.” 

Quanto aos demais equipamentos, tudo que foi solicitado ao Estado tem sido entregue ao HRC, inclusive os itens de proteção aos profissionais de saúde, ressalta Demostênia. 

Novos leitos de UTI
O governo vem atuando para ampliação de leitos e aquisição de insumos para unidades do interior. O Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim, receberá mais 20 leitos de UTI, que se somarão aos 40 já existentes. 

“A nossa expectativa é que possamos dobrar o número de leitos de UTI nos hospitais públicos do Estado e também naqueles que fazemos parcerias, filantrópicos ou municipais durante esse enfrentamento”, afirmou o governador do Ceará, Camilo Santana, na segunda-feira (13). 

No Hospital Regional Norte, em Sobral, serão construídos mais 36 leitos de UTI exclusivos para casos de Covid-19. O hospital possui 50 leitos e atende 55 municípios. “A ampliação já está sendo operacionalizada na proporção da chegada dos equipamentos, insumos e composição dos recursos humanos”, informou o hospital, em nota. Em Fortaleza, mais leitos devem ser montados em hospitais da rede de saúde estadual, como de Messejana, HGF, Hospital São José, além do IJF2, pela Prefeitura de Fortaleza. 

Além disso, outros municípios, como Maracanaú, Caucaia, Itapipoca, Iguatu, Icó e Crateús também receberão leitos de UTI.

Cobertura no Ceará 
Crato: 35 leitos, 44 respiradores/ventiladores, 3 tomógrafos, 64 monitores, 24 desfibriladores e 105 bombas de infusão 

Crateús: 12 leitos, 11 respiradores/ventiladores, 4 tomógrafos, 18 monitores, 13 desfibriladores e 12 bombas de infusão 

Barbalha: 18 leitos, 47 respiradores/ventiladores, 4 tomógrafos, 57 monitores, 27 desfibriladores e 142 bombas de infusão 

Juazeiro do Norte: 56 leitos, 95 respiradores/ventiladores, 12 tomógrafos, 151 monitores, 70 desfibriladores e 361 bombas de infusão 

Iguatu: 6 leitos, 24 respiradores/ventiladores, 5 tomógrafos, 45 monitores, 23 desfibriladores e 40 bombas de infusão 

Brejo Santo: 10 leitos, 8 respiradores/ventiladores, 2 tomógrafos, 9 monitores, 11 desfibriladores e 7 bombas de infusão 

Fortaleza: 542 leitos, 1.400 respiradores/ventiladores, 82 tomógrafos, 1.182 monitores, 679 desfibriladores e 6.022 bombas de infusão 

Sobral: 83 leitos, 184 respiradores/ventiladores, 7 tomógrafos, 283 monitores, 114 desfibriladores e 116 bombas de infusão                              (Fonte: G1 CE)

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