Apesar de Pernambuco ser o segundo no ranking da produção de leite do Nordeste, os produtores estão enfrentando diversas dificuldades durante a pandemia da Covid-19. Com a alta dos preços dos grãos como a soja e o milho, que servem de ração animal para as vacas e com a diminuição do valor do leite, a bacia leiteira do Estado passa por uma crise que não tem expectativa de melhora.
Em Pernambuco, 60 mil produtores são responsáveis pela produção de aproximadamente 2.3 milhões de litros de leite por dia. No Estado, 27 municípios pernambucanos integram a bacia leiteira, em maioria no Agreste Meridional e no Sertão do Araripe (região vizinha ao Cariri cearense), onde são produzidos queijos como o coalho, manteiga e muçarela, além de manteiga e doce de leite. Já o rebanho bovino é de 2,1 milhões, com 67 estabelecimentos lácteos registrados, sendo uma granja leiteira, nove usinas de beneficiamento de leite, 15 fábricas de laticínios e 42 queijarias artesanais, além de outras 74 em processo de formalização.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Produtores de leite de Pernambuco (Sinproleite), Saulo Malta, os custos da produção leiteira aumentam todos os dias, enquanto as indústrias não compram o suficiente para suprir as necessidades dos produtores.
“A situação da bacia leiteira está semelhante com a agricultura, com alto custo da produção, devido ao aumento dos grãos como a soja e o milho, que tiveram um aumento de mais de 100%. Além disso, nesses últimos 60 dias, o produtor de leite teve uma redução de, em média, 30 centavos no litro do leite. Os custos de produção aumentaram e a gente recebeu em média 30 centavos por litro de leite a menos da indústria. Nossos custos todos os dias aumentam e em algumas regiões a chuva ainda não chegou. Esperamos a contrapartida da indústria, para que ela compre mais em Pernambuco e não precise sair pra comprar leite em outros estados, porque temos produção suficiente para vender”, explica Saulo Malta.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados de Pernambuco (Sindileite-PE), Alex de Oliveira, ressalta o problema do aumento do preço dos grãos e afirma que muitos produtores estão vendendo os seus animais para abate para conseguirem renda. “A situação hoje da bacia leiteira de Pernambuco é muito ruim, não é porque tenha reduzido a quantidade de leite, a quantidade continua igual, os produtores continuam produzindo. O problema está na ração animal, que é o que as vacas precisam para se manter e produzir leite. A soja que era R$80,00 reais o saco, passou agora para R$180,00, o milho que era em torno de R$45,00 está hoje sendo vendido por R$100,00. O preço do leite que o produtor recebe não compensa o aumento da ração. Às vezes, o produtor prefere vender as suas vacas para abate, porque o preço da carne está muito alto, em torno de R$300,00”, detalha Alex.
“O problema está sendo o consumo, o povo está sem dinheiro para consumir. É necessário resolver o problema à nível federal, melhorar a economia do país como um todo. Proibir importação seria um meio, fazendo com que o leite daqui suba e o mercado local tenha como absorver mais leite do produtor, mas isso entra em outros problemas, como o Mercosul, com os acordos comerciais. Realmente, estamos sem saída. É aguardar que a economia melhore para o produtor manter o plantel”, complementa o presidente do Sindileite-PE.
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, Claudiano Martins Filho, o fechamento temporário dos estabelecimentos, o aumento do custo de produção e a redução da renda dos brasileiros afetam diretamente a produção de leite no Estado. “Assim como todos os setores, a bacia leiteira também enfrenta dificuldades por causa da pandemia da Covid-19. Infelizmente tivemos queda da demanda por laticínios, que foi impactada pelo fechamento temporário de bares, restaurantes, hotéis e similares. Tivemos também o aumento no custo de produção, o preço dos grãos subiu e consequentemente dificultou a compra por parte dos produtores. A redução da renda dos brasileiros também afetou no desenvolvimento do setor, mas acredito que isso tudo é passageiro e estamos dando total apoio no consumo dos produtos feitos no nosso estado”, pontua o secretário.
Na tentativa de auxiliar os produtores da bacia leiteira de Pernambuco, o Governo do Estado promove algumas ações, como o Programa Leite de Todos, que atende 183 municípios pernambucanos através de cinco cooperativas e duas associações de produtores de leite. São adquiridos leite dos 3 mil produtores do Pronaf, que possuem uma produção de até 35 litros por dia; a Linha de crédito no Banco do Brasil e no Banco do Nordeste com o Programa Agroamigo, de Microfinança Rural para os laticínios e produtores; e a capacitação dos produtores através do Instituto Agronômico de Pernambuco realiza, além da emissão de um Laudo de Aptidão ao Selo Arde, que permite a comercialização do doce de leite, da manteiga de garrafa, do queijo manteiga e do queijo coalho, dentro do território nacional.
Fonte: Folha de Pernambuco
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