Antiga estrutura da Fundação Padre Ibiapina, hoje pertencente a Urca. FOTO: Nívia Uchôa

Por Redação Gazeta do Cariri

Uma missão para cuidar das pessoas. É assim que a estudante Beatriz Alves, de 17 anos, define o sonho de ser médica. Beatriz cursa a 3ª série do Ensino Médio na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Moreira de Sousa, em Juazeiro do Norte. Ela está na lista com mais 5.016 candidatos inscritos (veja mais detalhes no gráfico abaixo) para o primeiro vestibular do Curso de Medicina da Universidade Regional do Cariri (Urca), vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece). “É meu sonho entrar em Medicina, sempre, desde de criança. Estou muito feliz pela Urca, lá no Crato, está proporcionando esse curso de Medicina. Estou muito ansiosa porque é meu primeiro vestibular”, afirma a estudante.

O MedUrca se diferencia dos outros dois cursos já ofertados na região do Cariri por ser integrado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Urca e focar na Atenção Primária à Saúde, principal porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). O campus do curso funcionará no prédio que abrigou a Casa de Caridade do Crato, próximo à reitoria da Universidade.

Ao lado do campus funcionará o Hospital Universitário, onde era sediado o Hospital São Camilo (antigo São Francisco). A unidade vai aperfeiçoar a formação dos novos profissionais que se dedicarão à Saúde Pública e Atenção Básica. Aliado a isso, o curso também contará com um Centro Integrado de Atenção à Saúde da Família.

As vagas para o MedUrca foram lançadas no edital do Processo Seletivo Unificado 2021.2 da Urca, que abriu um total de 1.280 vagas para 20 cursos, sendo 30 destinadas para Medicina. As provas serão aplicadas nos dias 16 e 17 de outubro, de forma presencial, em sete municípios: Barbalha, Campos Sales, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte, Mauriti e Missão Velha. Ao todo, a Urca soma 31 cursos de graduação, alcançando uma totalidade de aproximadamente 12 mil estudantes.

Beatriz reconhece que a concorrência para ingressar no curso é alta, por isso manteve a rotina de estudos para o vestibular, sem desanimar diante dos desafios impostos pela pandemia da Covid-19. “Eu tive que aumentar horas para poder me preparar mais, e conseguir, realmente, lidar com todas as matérias, captar tudo, e conseguir terminar a tempo”, relata.


Além do vestibular, a estudante também se prepara para concluir o curso técnico em Massoterapia, da EEEP Moreira de Sousa. Tanta dedicação aos estudos é motivo de orgulho para colegas, professores e família. “Meu irmão terminou Ciências Biológicas na Urca, e minha irmã está terminando Pedagogia também na Urca. Eu vou tentar entrar agora em Medicina. Meus pais não tiveram formação. Eles estudaram até a 3ª série [do ensino fundamental]. Minha mãe sempre me incentivou a ser médica. Foi por meio dela que eu comecei a conhecer a Medicina”, afirma.

Para fortalecer o SUS
O Ceará é o 3º estado do Nordeste que mais oferta vagas em cursos de Medicina, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Apesar dos recentes avanços na formação e alocação desses profissionais, ainda é necessário ampliar ofertas neste campo de modo interiorizado, para garantir atendimento a toda população cearense.

Nesse sentido, a Urca iniciou, em meados de 2019, um estudo de viabilidade para a criação de um novo curso de Medicina que contemplasse principalmente os pequenos municípios das regiões do Cariri e Centro-Sul, que juntas abrigam cerca de 17% da população do Ceará. A elaboração da proposta do MedUrca teve contribuições de pesquisadores e profissionais de formação em saúde da Urca e de instituições como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Universidade Federal do Cariri (UFCA), além de gestões municipais de saúde.


“Além de atender os componentes clínicos necessários à formação do médico, ele [MedUrca] nasce voltado para pensar na formação para saúde primária; Saúde Coletiva, Saúde da Família e Atenção Primária. Primeiro, porque esse é o campo de fortalecimento do SUS, que foi uma lição que a gente teve com a pandemia. Segundo, porque o próprio diagnóstico das políticas públicas de saúde apontam para a necessidade de intensificar esse campo profissional na saúde”, justifica o reitor da Urca, Francisco do O’ de Lima Júnior.


“Crato, Juazeiro e Barbalha ainda têm o privilégio de ter cursos de Medicina, ter Barbalha que é um polo de saúde de grande envergadura territorial, e um Hospital Regional (do Cariri, em Juazeiro) de atendimento de alta complexidade. Então, quando a gente analisa indicadores para esses municípios, a gente percebe que há uma melhoria, mas ainda há um conjunto de deficiências dado o tamanho da população não só que vive aqui, mas que acessa esse território”, pontua.

Com 61.228 habitantes, segundo dados do Ipece (2020), Barbalha tem 8,5 médicos por mil habitantes, o maior número do Estado.

Medicina: ensino, serviço e comunidade
Álissan Martins, pós-doutora em Saúde da Família e docente do departamento de Enfermagem da Urca, fez parte do grupo de trabalho e explica que o curso também foi pensado para ultrapassar a visão de uma formação focada nas especialidades e distante das pessoas. “O curso vem com os referenciais muito alinhados com o de Medicina de Família e Comunidade. Ele parte desse olhar do médico voltado para o território, mas também dentro de um trabalho que integra ensino, serviço e comunidade”, detalha.


A docente frisa que o aluno vai vivenciar o conhecimento aliado à prática. “Ele vai aprender pelo trabalho, fazendo, desenvolvendo habilidades. Ele vai agregar conhecimento, habilidade e atitude em serviço, na realidade, no mundo real, em contato com os cidadãos, famílias e comunidade em geral”.

Atividades de campo, laboratório de habilidades clínicas, atividades integradas e metodologias ativas. Todos esses recursos serão aplicados no processo de ensino e aprendizagem que objetiva o desenvolvimento de competências sensíveis às necessidades do SUS. O curso será realizado em tempo integral, de forma presencial, com carga horária total de 7.740 horas/aula.


“Essa formação tem que dar elementos para que os novos profissionais sejam propositivos, para que eles acompanhem essas mudanças dentro do campo da saúde, de uma forma sensível. Já que a gente está na região do Cariri, onde existe um perfil epidemiológico distinto, e também uma questão sociocultural que é distinta. Tudo isso dentro de um contexto para a Atenção Primária à Saúde. Isso faz toda a diferença, inclusive para como a gente vai estruturar esse cuidado e dialogar para chegar nas pessoas da forma adequada, não de forma impositiva, mas dialogando e habilitando essas pessoas para serem corresponsáveis pela saúde. É um convite que esse curso faz”, avalia Álissan.

Parceria e Integração
Para isso, o MedUrca tem o apoio de instituições parceiras e a experiência adquirida pela Urca por meio dos cursos e atividades vinculadas ao seu Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. Ao longo da última década, a instituição aperfeiçoou as ações pelo fortalecimento dos cursos de graduação e expansão da pesquisa e da pós-graduação Latu e Stricto Sensu nestas áreas.

Isso permitiu a formação continuada de profissionais da saúde e o avanço na criação de programas especiais em práticas e pesquisas integrados aos serviços e à comunidade, como os programas de enfermagem de acompanhamento da saúde da família. A Urca também foi a primeira universidade do Interior cearense a implementar a Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva e a Residência em Enfermagem Obstetrícia.

As ações do MedUrca também estarão alinhadas à Plataforma de Modernização da Saúde, da Sesa. “O diálogo foi feito com a Sesa. Nós também temos convênio para a efetivação do curso com a Fiocruz, com a Escola de Saúde Pública do Ceará para esse campo da formação, e nós temos renovado os convênios com todas as secretarias municipais da região”, destaca o reitor da Urca.

VÍDEO:


Lima Júnior explica, ainda, que o diálogo conduzido pelo Governo do Ceará, por meio de Secitece e Sesa, foi fundamental para a escolha do prédio que sediará o Hospital Universitário. “A definição desse prédio se dá pela proximidade do campus principal da universidade; pelos aspectos que o prédio oferece em termos de infraestrutura e disponibilidade de salas; e o Hospital é o maior da cidade de Crato. Além de dispor dessa possibilidade de serviços de saúde de complexidade, o Hospital que já tem parcerias com a universidade nos campos da saúde e da educação”, conclui.

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