Reportagem: Antônio Rodrigues

Em trabalho inédito de pesquisa que durou dois anos, o Diagnóstico da Situação da Infância e Adolescência em Crato apontou que 68% das violações contra crianças e adolescentes do município ocorreram dentro do seu ambiente do lar.

O estudo apresenta os principais problemas de violações de direitos para este público, em 2019. A ideia é que estes dados possam ajudar a subsidiar políticas públicas.

Este trabalho foi realizado a partir de um levantamento dos serviços da rede socioassistencial para atendimento de crianças e adolescentes. Dividindo a cidade em seis áreas, a pesquisa foi quantitativa e qualitativa com levantamento in loco e por amostragem.

A pesquisa contou com 24 jovens selecionados para realizar entrevistas presenciais e remotas junto com as famílias, adolescentes e os equipamentos públicos, além de juiz, promotor, defensor público, conselheiros tutelares e organizações da sociedade civil.

A professora Jany Mery Alencar, diretora geral da organização Verde Vida, entidade responsável pelo trabalho, explica que foi feita uma amostragem representativa, já que o período da pandemia impediu uma coleta maior. O levantamento aponta, ainda, que os casos notificados de violência física contra crianças e adolescentes vem crescendo.

Em 2014, foram oito notificações, enquanto em 2019, dado mais atualizado, este número chega a 90. Destes, 87 casos foram contra crianças pretas ou pardas. No caso de violência sexual, todos os quatro casos daquele ano tiveram pessoas do gênero feminino como vítimas. “Dando visibilidade a isso, sem dúvida, avançamos de forma mais assertiva para dar prioridades a quem mais sofre”, acredita Mery.

Os dados também levantados junto ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) revelam, em 2019, maior incidência de atendimentos à violência psicológica com 34% dos atendimentos, seguida pela violência física (26%), a negligência (23%), o abuso sexual (12%) e o trabalho infantil (5%).

O diagnóstico aponta uma instabilidade na taxa de mortalidade infantil, que vinha apresentando uma queda até 2018, quando alcançava uma taxa de 10 mortes a cada mil nascidos vivos. Em 2019, este número subiu para 18,08, colocando o Crato em 47º lugar no ranking estadual. Quase 20% dos partos realizados, em 2017, no Crato foram de adolescentes de até 19 anos, representando 420 no total, segundo o IBGE.

A pesquisa feita no período anterior à pandemia, acredita a coordenadora, traz um retrato de um momento em que as relações familiares possuíam dinâmicas de trabalho e convívio mais regulares. Na sua avaliação, o diagnóstico também expõe a concentração de equipamentos e serviços no entorno do Centro, enquanto bairros periféricos e comunidades rurais estão descobertas. “Isso dificulta para as famílias em situação mais vulnerável”, observa.

A titular da Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho de Crato, Ticiana Ferreira, acredita que esse estudo ajudará a nortear o planejamento das políticas públicas e incluir os problemas apontados nos orçamentos, seja na assistência, saúde ou educação. “A gente vai traçando ações, inclusive, desmembramento de equipes para atender com mais qualidade”, sugere a secretária.

Fonte: Jornal Opinião CE

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