Batina utilizada pelo Padim integrava acervo privado e foi doada ao memorial. Foto: Edson Freitas

27/04/2023

O acervo do Memorial Padre Cícero ganhou três novos itens: uma batina, um quadro pintado com a figura do sacerdote e uma escultura avaliada em R$ 300 mil. O doador generoso é o professor Abraão Batista, que herdou do pai os objetos.

A batina é na cor preta, a preferida do sacerdote. Está desbotada, surrada, indícios de que tenha décadas e de que fora vestida pelo padre algumas vezes. Ele gostava desse estilo. Mesmo proibido de celebrar missas, Cícero Romão Batista manteve o hábito. É rara a imagem dele usando outra roupa.

O segundo item é um quadro datado de 1924, 10 anos antes da morte do padre. Na pintura, ele aparece de corpo inteiro e com a pose que mais repetia: os dedos da mão segurando botões da batina. A tela está assinado por F. Pereira. O professor Abraão diz que a autoria ainda precisa ser estudada. Já o terceiro objeto tem autor famoso.

Escultura de Padre Cícero em tamanho real, feita por artista italiano. Foto: Edson Freitas

OBRA DE DISCÍPULO DE RODIN ENTRA NO ACERVO
É uma escultura do Padre Cícero em tamanho natural que, além de rara, seria valiosa. Segundo o professor, foi esculpida pelo artista italiano Agostino Balmes Odisio em 1935, que morou em Juazeiro do Norte. A peça teria sido comprada pela família de Abraão ao preço de R$ 300 mil em valores atualizados.

Odisio, que viveu e morreu no Brasil, era escultor reconhecido em cidades do nosso país, da Itália e fora aluno do francês Auguste Rodin, criador da obra-prima O Pensador, considerado marco da escultura moderna.

O elo entre Odisio e o Cariri mistura religião, senso de oportunidade e saúde. Ele nasceu em Turim em 1881. Com mais de 30 anos, imigrou para o Brasil, escolhendo o estado de São Paulo. Católico, resolveu vir morar em Juazeiro do Norte quando soube da morte do Padre Cícero. 

Para o italiano, a história do sertanejo era semelhante à de São João Bosco, de quem foi aluno na Itália. A religiosidade criou um filão. Odisio veio ao Cariri esculpir e vender imagens do Padim feitas em gesso, inclusive introduzindo essa matéria-prima onde antes era costume usar madeira. A peça entregue ao acervo do museu seria dessa época. 

A escultura terá que passar por restauração antes que seja exposta. Quanto a Odisio, além do catolicismo e do mercado de imagens sacras, o Ceará foi escolhido como morada por causa da saúde. Com o calor do Nordeste, ele teria sentido alívio nos sintomas do reumatismo, que o impediam de trabalhar.

Fonte: Diário do Nordeste

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