A decisão do governo federal de privatizar a Eletrobras faz
parte de um movimento que começa a se espalhar pelo Brasil inteiro. Com
arrecadação em baixa e despesas em alta, Estados e municípios têm enxergado na
venda de ativos uma forma de reforçar o caixa e diminuir os efeitos da crise
fiscal. Essa "nova onda" de privatização pode render a esses governos
quase R$ 80 bilhões, segundo levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo com
base em informações de bancos, consultorias e mercado.
O valor inclui apenas a venda dos negócios de energia
elétrica, gás natural, saneamento básico e iluminação pública. Na lista de
empreendimentos que podem mudar de mãos estão ativos das empresas estaduais de
energia elétrica, como a Cesp, distribuidoras de gás, empresas de saneamento
básico e serviços de iluminação pública.
O movimento coincide com a grave crise financeira enfrentada
por Estados e municípios. Sem dinheiro nem para pagar os salários do
funcionalismo, como é o caso do Rio de Janeiro, a privatização de estatais, em
muitos casos, foi a alternativa que restou para colocar algum dinheiro no caixa.
"A crise fiscal aguda do País e a perda de resistência
em relação às privatizações reforçam esse movimento de venda de ativos",
afirma Gesner Oliveira, sócio da GO Associados. Além disso, diz, os últimos 15
anos mostraram uma enorme deficiência das estatais na capacidade de
investimentos e no potencial de melhorar o nível de governança das empresas,
que vêm sendo sistematicamente envolvidas em inúmeros escândalos de corrupção.
"O Estado empresário tem se mostrado muito ineficiente."
Mas nem tudo deve ser vendido nesse movimento de
privatização. Os setores de saneamento básico e distribuição de gás, por
exemplo, ainda precisam se estruturar melhor para transformar o interesse de
investidores em negócios. Nesses casos, o BNDES tem ajudado na estruturação.
Investidores nacionais e estrangeiros já vêm demonstrando
interesse em fazer estudos e auditorias nos ativos à venda. Entre esses
investidores, há gigantes como a canadense Brookfield, as chinesas State Grid,
CTG e CCCC e grupos nacionais, como a Equatorial e a gestora Vinci Partners,
além de fundos de investimentos.
Carro-chefe
Na avaliação de especialistas, embora haja interesse em todas
as áreas da infraestrutura, alguns ativos têm maior apelo entre os
investidores, como os de energia elétrica. Nesse setor, considerado mais
maduro, os negócios podem somar perto de R$ 30 bilhões. Só a distribuidora
Light, do Rio, pode envolver R$ 6 bilhões. Embora seja problemática por causa
do elevado índice de roubo de energia, a empresa está nos planos de alguns
investidores. "Nosso carro-chefe volta a ser aquisições na área de
energia", diz José Guilherme Souza, da Vinci Partners.
A Cemig, controladora da concessionária, colocou mais R$ 8
bilhões de ativos à venda. O movimento é seguido pelo governo de São Paulo, que
vai privatizar no mês que vem a Cesp. Outras estatais, como CEB (DF), CEEE (RS)
e Copel (PR), também já manifestaram interesse em vender ativos e reduzir seu tamanho. (O
Povo) Política
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