A BFT utiliza recirculação de água e bactérias para o controle natural. FOTO: Honório Barbosa |
Jaguaribara.
A produção mensal de tilápia no Açude Castanhão despencou 90%, ou seja, de
1.500T reduziu-se para 150T. O reservatório acumula cerca de 4% de sua
capacidade. Os criatórios nos tanques rede ficaram inviáveis. Em meio à crise
hídrica, um grupo de 40 produtores busca alternativa, apostando em nova
tecnologia denominada de bioflocos (BFT), que utiliza recirculação de água e
bactérias para o controle natural dos dejetos do pescado e da sobra de rações.
O
sistema é usado para produção de tilápia e camarão e é novo para os produtores
locais acostumados nos últimos dez anos a criar de forma intensiva tilápia em
gaiolas no açude com renovação permanente da água, mas já é uma tecnologia
bastante dominada em Israel, que dispõe de pouca água. "É viável
economicamente quando há escassez de água porque tem custo elevado com
energia", compara o engenheiro de pesca Paulo Landim. "Exige
capacitação e controle permanente da água".
Migração
Dezenas
de produtores e centenas de operários foram embora nos últimos dois anos por
causa da crise hídrica no Castanhão, transferindo suas experiências, gaiolas e
trabalho para reservatórios na Bahia e em Pernambuco, no Rio São Francisco.
Aqueles que ficaram buscam alternativa. É o caso de José Antônio Oliveira que
se associou a outros quatro produtores para iniciar um sistema de criação no
modelo BFT com oito tanques de 78 mil litros cada, no Mandacaru.
Os
tanques circulares são de geomembrana, uma manta resistente, apoiada por tela e
hastes em aço galvanizado. O projeto prevê a introdução de alevinos de 25 dias,
com peso de 0,5G até o estágio juvenil, em torno de 40G, com 60 dias.
"Vendemos para engorda nos criatórios do São Francisco, na Bahia e
Pernambuco", explica o criador Zé Antonio. "Já fizemos uma despesca e
estamos preparando outro lote para exportação".
Semana
Santa
Os
compradores dos alevinos juvenis estão de olho na demanda da Semana Santa de
2018. "Aqui nos açudes do Ceará a tilápia praticamente se acabou, tivemos
prejuízo com mortandade e com a falta d'água. O pescado está vindo do São
Francisco", observou Zé Ricardo.
De
olho no mercado promissor, os criadores decidiram investir na tecnologia de
bioflocos. O esforço é para o controle da temperatura que deve ficar em torno
de 28ºC para assegurar o desenvolvimento adequado dos alevinos. Para isso,
usa-se um enorme plástico para coberta dos tanques. A mesma água pode ser
utilizada por até três anos. Exige-se bombeamento constante, aeração,
decantador e o controle da bactéria que processa as fezes e resto de ração,
evitando excesso de gases de amônia e a perda de oxigenação.
O
sistema no Mandacaru, zona rural de Jaguaribara, ocupa uma área de 25m por 50m.
O investimento inicial foi de R$ 130 mil. "Ainda falta muito o que fazer,
estamos aprendendo, corrigindo falhas, adaptando o modelo. Mas Estamos
esperançosos", disse Zé Ricardo.
Economia
A
secretária de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Pesca de Jaguaribara, Lívia
Barreto, confirmou que, diante da decadência da economia local, que girava em
torno da produção em larga escala de tilápia, os produtores buscam alternativa:
"Os criadores estão divididos entre tilápia e camarão. Os projetos
começaram em janeiro passado e já são 40 produtores envolvidos com a nova
tecnologia".
O
grupo fez curso em Goiânia e a tecnologia BFT já chegou ao entorno do Açude
Orós, o segundo maior do Ceará, que também era grande produtor de tilápia.
"Muitos produtores estão interessados e o Banco do Nordeste e o Banco do
Brasil pretendem financiar projetos, mas exige capacitação dos
empresários", pontuou Paulo Landim. "Para um período de entressafra,
a criação em bioflocos é uma alternativa viável porque os custos são mais
elevados em comparação com o modelo tradicional". Atualmente, o produtor
vende o quilo da tilápia variando entre R$ 10 e R$ 12. (Diário do Nordeste)
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