Material da Aço Cearense preso em estoque por falta de frete. FOTO: DIVULGAÇÃO |
No
segmento de eletroportáteis, a Mallory teve de paralisar as operações e
contabiliza alta de 150%, em média, no frete de mercadorias para o Sudeste. A
fábrica fica em Maranguape. “Falta caminhão para ir para o Norte, porque os
caminhoneiros querem ir para o Sudeste, porque os valores para lá encareceram
quase três vezes aquilo que cobravam antes. Piauí, Maranhão e Belém têm
lucratividade menor. Caminhoneiros pegam carga e com 2, 3 horas devolvem porque
encontram fretes mais elevados para realizar”, afirma Annette Reeves,
vice-presidente da Mallory.
Matéria-prima
não chega à fábrica e há ruptura da Mallory no fornecimento de mercadorias aos
clientes. “Alguns produtos nossos anunciados em promoção nos tabloides não
conseguimos entregar e isso impacta em multa para nós”, explica Annette. Para
diminuir a dependência do modal rodoviário, a empresa optou por cabotagem
(navegação entre portos brasileiros).
“Temos
materiais que estão em estoque. Nossa carteira de entrega é muito grande, mas a
escassez de veículos prejudica a operação. Muitos caminhoneiros deixam de rodar
por causa do vai e volta do Governo”, critica Ian Corrêa, vice-presidente da
Aço Cearense. O impacto é de 35% no volume de entregas ao dia. Há atrasos e não
existe previsão de colocar as entregas em dia. Segundo ele, o custo do frete
aumentou 120%.
A
Carbomil, que trabalha com insumos para a construção civil, vê os custos
logísticos prejudicar o envio de mercadorias, especialmente para estados do
Sudeste, além de Alagoas e Pernambuco. “Não conseguimos despachar mercadoria
por causa do frete mínimo, mesmo após a revogação. Temos materiais estocados e
a previsão é que possamos parar uma unidade produtiva”, diz Mário Jorge Nunes,
diretor de logística da Carbomil. A companhia possui fábricas em Limoeiro do
Norte, Banauiú e Quixeré.
O
agronegócio cearense já calcula um 10% a mais no frete por conta das indecisões
do Governo. “Diferentemente de outros setores que podem segurar os produtos e
esperar a resolução desse impasse, nós não temos tempo. Nossa mercadoria é
perecível, precisamos despachar com rapidez. Fizemos algumas negociações e hoje
trabalhamos com um aumento de 10% do frete. Não aplicamos a tabela. Se assim
fosse, esse percentual subia para 60%”, explica Luiz Roberto Barcelos, diretor
da Agrícola Famosa e presidente da Associação Brasileira dos Produtores
Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Os valores das frutas, por sua
vez, não sofreram alteração. “Mercadorias mais caras significam menos
consumidores. Menos consumidores respondem por menos produção. Assim, todos
perdem nessa equação, inclusive o setor de transportes”, calcula.
Para
o empresário Honório Pinheiro, vice-presidente da Federação das Câmaras de
Dirigentes Lojista do Ceará (FCDL), a revogação aumenta a insegurança jurídica.
“Ficamos a três mil quilômetros dos centros produtores e sofremos com essa
alteração na tabela”, diz. Ele afirma que as transportadoras trabalham com
frota reduzida por conta das indefinições. “Os transportadores que tenho
conversado estão inseguros. Não sabem quanto vão cobrar. Eles querem garantir a
volta ao sair do Ceará. Com uma regulação, isso se torna mais difícil. No fim,
todos somos reféns das indecisões, da fraqueza e da falta de compromisso do
Governo diante das pressões”, critica.
O
vice-presidente de M. Dias Branco, Geraldo Luciano Mattos Júnior, considera
cedo para mensurar o tamanho do impacto no preço dos produtos. Ele cita as promessas
de mudanças e os processos judiciais contra o frete mínimo. Para Geraldo
Luciano, mesmo que não haja ajuste na tabela atual, haverá aumento forte nos
custos. “Principalmente para as empresas do Nordeste, porque tabelaram pelo
preço de São Paulo”. O Grupo vai discutir o tema na próxima semana. No caso do
setor de massas e biscoitos, existem outras pressões mais fortes, como o preço
do trigo e a alta do dólar. (O
Povo)
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