Não é de hoje que os irmãos Cid e Ciro Ferreira Gomes,
atualmente filiados ao PDT, vivem turbulências com o Partido dos Trabalhadores
(PT) dentro e fora do Ceará. Embora o senador eleito Cid Gomes
tenha confrontado, pela primeira vez, na última segunda-feira (15), a sigla
petista, de forma mais dura, é fato que, ao longo da história
recente, a aliança entre o PT e o grupo político comandado pelos irmãos foi
marcada por altos e baixos no Estado e no País.
Ainda
assim, não é unânime a influência dos ex-governadores sobre a cúpula petista no
Ceará. Segundo um integrante do PT, 78% dos filiados são ligados ao grupo do
governador Camilo Santana – maior liderança do partido no Estado – e,
consequentemente, a Cid e Ciro Gomes. Já o restante dos correligionários, nas
palavras dele, “tomam decisões de acordo com o momento”, muitos ligados à
ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, desafeto político dos irmãos.
Simpatia
a Cid
Na
avaliação de integrantes da legenda petista no Estado, a ala mais “forte” de
simpatizantes no PT tem relação com Cid. “Isoladamente”, há filiados que
possuem relação próxima a Ciro. Interlocutores se surpreenderam com a elevação
de tom do senador eleito contra o partido. Eles frisam que Cid adota um perfil
mais conciliador, apesar de já ter trocado farpas com Luizianne, em 2012, na
disputa pela Prefeitura de Fortaleza.
À
época, ela indicou o atual deputado estadual Elmano de Freitas para a sucessão
municipal, entrando em rota de colisão com o grupo do então governador, que
propôs lançar outro candidato que dialogasse com todas as alas do PT e com os
seus interesses. Esse desacordo resultou na eleição do prefeito Roberto
Cláudio, àquela altura no PSB, partido dos irmãos Ferreira Gomes.
Para
o presidente estadual do PDT, André Figueiredo, o desabafo de Cid Gomes ao
afirmar que o PT vai perder o segundo turno da eleição presidencial, caso não
faça um mea-culpa, é a senha de uma nova postura que o partido deve ter em
relação à legenda petista. “Nós não estaremos do mesmo lado nas defesas que
teremos em algumas situações. De forma alguma seremos liderados por eles, mesmo
reconhecendo que são a bancada maior. Em nível de posicionamentos, vai ser bem
diferente, em nível de postura”. Para o dirigente, a aliança entre PT e PDT no
Ceará não deve ser abalada, diferente da situação em âmbito nacional.
O
vereador Guilherme Sampaio (PT), da corrente ligada à deputada federal
Luizianne Lins, por sua vez, critica a “grosseria” de Cid, mas coloca que os
efeitos de tais animosidades serão avaliados depois das eleições.
“Cid
foi infeliz e incorreto, após ter sido eleito com o apoio do PT, em reagir com
a grosseria de ontem (segunda-feira) à frustração de não ter alcançado com Ciro
os votos para ir ao segundo turno. Acho que não devemos perder tempo nenhum
discutindo isso agora. O que nos interessa é lutar ao lado dos que querem
defender a democracia e virar o jogo. O resto se avalia depois da eleição”,
sustenta.
Consequências
O
líder do Governo Camilo Santana na Assembleia Legislativa, deputado Evandro
Leitão (PDT), considera que as críticas de Cid Gomes trarão consequências
graves à candidatura de Fernando Haddad, mas pondera ser necessário superar o
momento de crise por conta de “um projeto maior”. “Temos uma eleição em que o
candidato que é nosso oponente trará sérios prejuízos para a Nação. Temos que
deixar isso de lado”.
O
deputado Elmano de Freitas (PT), por sua vez, destaca a importância do apoio do
grupo liderado por Cid Gomes no Ceará e conclama seus pares a não “jogarem
lenha na fogueira”. “O Ceará é muito importante para a vitória do Haddad. Nós,
do PT, não temos que colocar lenha na fogueira, porque isso só interessa ao
nosso adversário”, reclama. Para ele, o momento é de os petistas sentarem com o
PDT e ouvirem críticas. “O PT tem mea-culpa a fazer, todos os partidos têm.
Nosso aliado fez uma crítica dura e temos que ouvir essas críticas”.
Já
o presidente interino do PT Ceará, Moisés Braz, diz que a situação pode
inviabilizar a vinda do presidenciável Fernando Haddad ao Estado, neste segundo
turno. Segundo o dirigente, a agremiação deve se reunir ainda nesta semana para
avaliar as falas de Cid Gomes, visto que haverá evento em prol da
candidatura de Haddad no sábado, em Fortaleza. Ele nega que o PT e o grupo
político de Cid Gomes tenham rompido, mas ressalta que será preciso muito
diálogo para desfazer o mal-estar do episódio. (Diário do Nordeste)
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