Milhares de pessoas ainda vivem em casas de taipa, onde o barbeiro escolhe para abrigo. FOTO: Melquíades Júnior
A dúvida de Henrique, de oito anos, vem da surpresa no dia em que um mal rompeu o silêncio. O Ceará tem mais de 20 mil pessoas diagnosticadas com a doença de Chagas e outras 260 mil que não sabem tê-la. A maioria morrerá sem saber. O tempo anda devagar enquanto a doença de barbeiro corre, sempre associada à pobreza e ao passado. Tão presente, nem parece que fará 110 anos de sua descoberta em 2019, pois o tratamento pouco evoluiu.

Não importa qual seu bem estar social hoje, se uma origem humilde assina o risco. A doença causada pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi tem por sobrenome "negligenciada" e assim naturalizou-se. No maior sentido que a palavra pode ter. Não é que a "doença do coração crescido" voltou. Ela nunca foi. Milhares de pessoas ainda vivem em casas de taipa, que o mosquito barbeiro escolhe para abrigo. Quem já deixou, ou nunca morou assim, mas vive em região endêmica, corre mais risco.

O Ceará registra uma morte por semana da doença, média maior que dengue. Enquanto quem bate à porta é o mal, não a saúde, pacientes soropositivos tentam, e muitos conseguem, uma vida normal. Mas uma outra normalidade é perigosa: várias regiões endêmicas no interior do Estado e pouca atenção onde o descaso é parasita e regra. Pelo menos, 25 cidades cearenses seguem descritas em alto risco. Limoeiro do Norte está no topo, mas até esta informação será novidade para muitos de lá a partir de hoje.         (Diário do Nordeste)

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