Extração do fruto garante o sustento de dezenas de famílias na região do Cariri cearense. FOTO: Antonio Rodrigues |
Entre
a vasta diversidade encontrada na mata, o pequi se destaca por ser consumido
por muitos moradores do Cariri cearense, seja no baião de dois, feijão ou na
"pequizada". Além disso, o óleo produzido do fruto é muito procurado,
principalmente, pelos romeiros, que acreditam ser um medicamento popular, que
serve para aliviar inflamações e sintomas de gastrite.
A
safra, desta vez, começou mais cedo, ainda em dezembro do ano passado, e deve
terminar neste mês. É deste fruto que muitos agricultores conseguem uma renda
complementar. A partir de fevereiro, se destaca, também, no meio do verde da
floresta, a cor laranja dos primeiros maracujás-peroba que, aos poucos, vêm
sendo muito bem vendidos. Similar ao fruto "tradicional", o produto
nativo é menor e mais doce. "É muito procurado para chupar, fazer
suco", garante Cícero. Com seus dois filhos, o extrativista encheu dois
sacos grandes de 50 quilos, que tradicionalmente transportam açúcar, em apenas
uma manhã. Após a colheita, os meninos seguem para a escola e o agricultor
pedala mais alguns quilômetros para vender aos feirantes da beira da pista.
Cada
saco pequeno de maracujá-peroba custa R$ 2,50 e é exposto ao lado do pequi em,
aproximadamente, 50 barracas instaladas próximas ao acostamento da CE-292, nos
limites entre Crato e Nova Olinda. Jaca, mel de abelha, leite janaguba,
amendoim, pitomba e macaúba também são comercializados. Tudo retirado da
Chapada do Araripe.
"Eu
planto legumes. Minha rocinha está lá. De milho, fava, mandioca. Aí, sobra um
tempinho para ganhar com as frutas. Nasci e fui criado aqui, catando pequi,
maracujá, jaca. O pessoal procura cada vez mais", garante Cícero. A safra
do maracujá, que dura cerca de 20 dias, conciliou com o fim da safra de pequi,
que está cada vez mais raro de encontrar. "Ano passado, foi até
maio", lembra o extrativista. Mesmo assim, em 2019, acredita que foi melhor.
Sustento
"Não
tem emprego, não tem renda. A gente vive disso", resume a catadora Cícera
Islândia Damião. A jovem de 26 anos explica que nem todo ano o maracujá produz,
por isso, neste ano a safra foi importante para complemento de renda. Ela e sua
família saíram de Exu, em Pernambuco, porque o extrativismo era melhor que
viver apenas na roça. "Era difícil. Apesar que aqui também é complicado,
porque o solo não retém água. Aí não tem como plantar", explica. José
Orlando dos Santos fica do início da manhã até o fim da tarde na beira da
pista. Este ano é sua primeira experiência como catador, depois que se mudou de
São Paulo há um ano. "Isso aqui é para não faltar alguma coisa dentro de
casa", justifica. Com a aproximação do fim da safra, antecipa que o preço
do pequi provavelmente subirá.
É
por isso que o empresário Francisco Otávio Mota, natural de Antonina do Norte,
aproveita suas viagens até Juazeiro do Norte e compra uma centena de pequi.
Dono de um restaurante em sua terra natal, o fruto é um pedido constante dos
clientes. "Lá não tem pequi, aí, por isso, sempre que vou ao Juazeiro
levo. O preço aqui está bom", ressalta ele.
Ao
contrário da Vila Barreiro Novo, comunidade formada por catadores de pequi no
limite de Jardim e Barbalha, os moradores da Chapada do Araripe entre Crato e
Nova Olinda evitam vender pequi de outros estados, como Maranhão e Tocantins.
"A gente não faz isso, porque trazem muito caro aqui pro Crato. Aqui nós
apanhamos quando cai do chão. Lá, derruba de vara e chega aqui com talo muito
grande. O daqui é mais carnudo e apanha maduro. Aqueles de lá nem
descasca", descreve Cícero.
Apesar
de comum, o pequi se tornou uma alternativa de sobrevivência há pouco tempo na
Chapada do Araripe. O sítio Zabelê, por exemplo, às margens da rodovia, foi
criado a partir da chegada de muitos moradores de Exu, que viram no fruto uma
fonte de renda. "Aqui começou com quatro famílias, hoje são 72",
conta o agricultor José Taveira da Silva, um dos primeiros a trabalhar com
extrativismo. "Não tinha essas barracas. A gente colocava era nos baldes
os centos", completa.
Hoje,
ele vê com preocupação a situação dos pequizeiros. "A árvore está
morrendo. Vai chegar um tempo de ficar raro, porque ninguém planta",
acredita. (Diário do Nordeste)
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