Acusado
pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) de estar agindo "a serviço de alguma
ONG", o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe),
Ricardo Magnus Osório Galvão, disse em entrevista ao jornal O Estado de S.
Paulo que ficou escandalizado com as declarações que, para ele, parecem mais
"conversa de botequim".
Galvão,
que dirige o instituto desde setembro de 2016, se manifestou na manhã deste
sábado, 20, sobre os comentários feitos na sexta por Bolsonaro em café da manhã
com a imprensa estrangeira. Na ocasião, o presidente questionou os dados
fornecidos pelo Inpe sobre as taxas de desmatamento da Amazônia e disse que
eles são mentirosos.
"Se
toda essa devastação de que vocês nos acusam de estar fazendo e ter feito no
passado, a Amazônia já teria sido extinta, seria um grande deserto", disse
Bolsonaro.
"A
questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos",
afirmou. "Até mandei ver quem é o cara que está a frente do Inpe para vir
se explicar aqui em Brasília, explicar esses dados aí que passaram na
imprensa", disse. "No nosso sentimento, isso não condiz com a
realidade. Até parece que ele está a serviço de alguma ONG, que é muito
comum."
As
declarações do presidente ocorreram um dia depois de a imprensa destacar que
dados do sistema Deter-B, do Inpe, que faz alertas em tempo real de focos de
desmatamento para orientar a fiscalização, mostraram que a área perdida de
floresta até meados deste mês já é a segunda maior da série histórica, medida
desde 2015.
Na
quinta, os alertas indicavam um desmatamento de 981 km neste mês de julho.
Nesta sexta, às 19 horas, conforme observado pelo Estado, o número já tinha
saltado para 1.209 km e atingiu o valor mais alto de perda em um mês desde
2015. É também 102% maior do que o observado em julho do ano passado, que viu
uma perda de 596,6 km.
Os
alertas dispararam nos últimos meses. Em junho, a perda, de acordo com o Deter,
foi de 932,1 km, contra 488,4 km em junho do ano passado. Em maio já tinha sido
de 738, 4 km, contra 550 km em maio de 2018.
Galvão
optou por não responder na própria sexta para primeiro "arrefecer o estado
de ânimos", mas hoje deu sua posição. "A primeira coisa que eu posso
dizer é que o sr. Jair Bolsonaro precisa entender que um presidente da
República não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva
para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez
comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não
somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse País",
afirmou.
"Ele
tomou uma atitude pusilânime, covarde, de fazer uma declaração em público
talvez esperando que peça demissão, mas eu não vou fazer isso. Eu espero que
ele me chame a Brasília para eu explicar o dado e que ele tenha coragem de
repetir, olhando frente a frente, nos meus olhos", continuou o engenheiro,
que iniciou a carreira no Inpe em 1970, fez doutorado em Física de Plasmas
Aplicada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é livre-docente em
Física Experimental na USP desde 1983. (O Povo)
Postar um comentário