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Há três anos, José Francisco da Silva começou a estudar e usa a internet como fonte de pesquisa. FOTO: Helene Santos |
A
quantidade de idosos cearenses interessados em realizar o principal exame para
ingresso no ensino superior tem oscilado, nos últimos 10 anos. Se comparado ao
de 2010, quando apenas 193 idosos efetivaram inscrição nas provas em todo o
Estado, o número de inscritos da terceira idade na edição do Enem deste ano é
88% maior - por outro lado, é o menor desde 2012, quando teve 372 candidatos
sexagenários. Os dados são do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep),
levantados pelo Núcleo
de Dados.
O
nome de Raimunda esteve na lista de candidatos em, pelo menos, duas edições,
quebrando uma barreira erguida desde 1980, quando parou de estudar sem ter
concluído o ensino fundamental. Se, por um lado, a defasagem dificultava o
retorno às aulas, em 2016, no Ceja Eudes Veras; por outro, as críticas que
recebia de pessoas que a chamavam de "analfabeta" a impulsionaram ao
objetivo.
"Deixei
de estudar bem nova, depois que casei. Com meu filho no braço, ainda voltei, e
desisti. Mas me incomodava, eu queria porque queria terminar meus estudos. Tive
muita dificuldade nas aulas, no começo, porque tava com a mentalidade muito
debilitada, não gravava nada direito, a redação era difícil? Mas disse que ia
terminar, e terminei. Em 2018, recebi o certificado", relembra, orgulhosa,
a aposentada - e estudante.
Empoderamento
Mesmo
tendo concluído o ensino médio pelo EJA, Raimunda segue frequentando a escola
para aprimorar redação e português, pontos importantes para passar no Enem
deste ano e cursar Gastronomia ou Nutrição.
"As
pessoas vão deixar livros no terminal, e alguns que me interessam eu pego,
trago, leio e depois devolvo. A professora disse que a gente tem que ler
bastante, e eu me sinto muito bem sabendo das coisas", declara.
Independentemente
da queda nas inscrições de pessoas mais velhas, a busca delas por qualificação
reflete uma maior amplitude de oportunidades, como avalia a orientadora da
Célula de Educação
de Jovens e Adultos (EJA) da Secretaria da Educação (Seduc),
Aparecida Prado. "Há 30 anos, essas pessoas tinham mais dificuldade de
entrar numa universidade. Quem morava no interior e queria cursar, por exemplo,
precisava vir à Capital. Hoje, terminando o ensino médio, isso se tornou mais
próximo", pontua.
A
professora do Departamento
de Estudos Especializados da Faculdade de Educação da UFC,
Maria José Barbosa, aponta que o Enem e programas de financiamento estudantil
como o ProUni "retomaram a esperança" de idosos concluírem os estudos
e chegarem ao ensino superior. "Hoje, eles se sentem motivados a fazer o
curso dos sonhos e acreditam que podem entrar. O adulto que não estuda é
emudecido por uma realidade que exige que ele tenha um título para poder falar.
E os mais velhos encontram espaço na sala de aula para oralizar, se colocar,
passar a ser respeitados", avalia.
Neste
ano, o exame nacional chega à 21ª edição, e será realizado novamente em dois
domingos consecutivos, dias 3 e 10 de novembro. Dos 119 municípios cearenses
que registraram inscrições, cinco se destacam: Fortaleza, com 95.902; Juazeiro
do Norte, 11.564; Caucaia, 10.149; Sobral, 8.712; e Maracanaú, com 7.675
inscritos. A maioria dos candidatos cearenses (45%) já concluiu o Ensino Médio,
e 40% estão cursando a última série. Os chamados "treineiros" somam
14,5% das inscrições neste ano. (Diário do Nordeste)
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