O
presidente Jair Bolsonaro (PSL) declarou na manhã de ontem, 12, que pretende
acabar com o uso de radares móveis nas rodovias brasileiras a partir da próxima
semana. Se confirmada a medida, o Ceará perderia o reforço de seis equipamentos
do tipo, utilizados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), atualmente, na
fiscalização de excesso de velocidade nas três rodovias federais (BR 020, BR
116 e BR 222) do Estado. Especialistas discordam das colocações do presidente e
defendem a importância da fiscalização para a segurança viária.
"Isso
é coisa de uma máfia de multas, é um dinheiro que vai para o bolso de poucos
aqui no Brasil, é uma indústria de multas. A partir da semana que vem, não
teremos mais essa covardia de radares móveis no Brasil", disse Bolsonaro
durante evento de liberação de uma duplicação da BR-116 no Rio Grande do Sul. O
presidente ainda disse estar numa briga na Justiça, junto ao ministro Tarcísio
Gomes de Freitas, da Infraestrutura, para acabar com o uso dos equipamentos no
País.
Especialista
em trânsito, mobilidade e segurança, Renato Campestrini lamenta a medida
anunciada por Bolsonaro e defende que a fiscalização eletrônica é "a mais
justa das formas de fiscalização", uma vez que o equipamento "só
autua aquele que excedeu o limite de velocidade".
"Principal
(impacto) será o aumento do número de acidentes. Reconhecidamente, a gente
observa no Brasil que o condutor só reduz a velocidade onde sabe que tem
equipamento. O que se busca não é auferir receita mas sim respeito à
velocidade. E vale ressaltar que a multa tem caráter educativo e é democrática
porque os recursos retornam para a própria sociedade", lembra o
especialista.
Dados
da PRF mostram que, entre janeiro e 29 de julho, foram registradas 77.680
infrações nas rodovias federais no Ceará. No mesmo período do ano passado,
foram observadas 115.664 descumprimentos. A reportagem pediu um posicionamento
do órgão sobre a decisão presidencial, mas não teve retorno.
O
coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária, Dante
Rosado, classifica a proposta como "grave", e ressalta que a
velocidade é um dos fatores para ocorrência de acidentes e para a gravidade
deles.
"É
comprovado que a fiscalização de velocidade faz com que motoristas respeitem as
velocidades das vias. Qualquer medida para reduzir e eliminar vai aumentar os
comportamentos de risco e a tendência é que acidentes graves e com mortes
passem a aumentar nessas rodovias. Há uma vasta literatura que confirma
isso", adverte Dante.
Conforme
levantamento do Observatório Nacional de Segurança Viária, com base em dados de
2017 do Datasus, houve mais de 35 mil mortes em acidentes de trânsito no
Brasil. "A conta disso o presidente não fala. Vai cair na saúde pública.
Mesmo que a vítima tenha convênio médico, o primeiro atendimento é na saúde
pública", frisa Campestrini.
Sobre
o fato de Bolsonaro, recorrentemente, colocar o tema de trânsito em suas
pautas, Dante lamenta o foco. Para ele, o que deveria ser colocado no debate
público é a gravidade dos problemas no tocante à segurança viária.
"O
Brasil e o mundo vivem uma epidemia de mortes no trânsito. É caso de saúde
pública, que depende da união de vários setores e uma agenda multissetorial.
Vejo um discurso que questiona medidas que são comprovadamente efetivas para
solucionar esse problema. Quando as pessoas ouvem a autoridade máxima do país
questionar isso, muitas são influenciadas e a gente não sabe como vão se
comportar (no trânsito) no dia seguinte", acrescenta Dante. (O Povo)
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