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FOTO: Isanelle Nascimento |
Do
total, o Distrito Policial conseguiu elucidar 402 situações. No ranking de
fatores, a depressão aparece em terceiro lugar, com 18,1% dos casos, ficando
atrás somente de problemas familiares (27%) e uso de drogas ilícitas (36,3%).
Keliane
Lima, irmã de um jovem de 24 anos que desapareceu por depressão, conta que foi
um susto para os familiares. Ele saiu de Fortaleza para casa de familiares no
município de São Luís do Curu, distante 77,6 km da capital. Durante o trajeto,
o rapaz perdeu a mochila com o celular e a medicação da doença. Ao chegar na
casa de tios, ele avisou que retornaria. Na volta, acabou se perdendo no
município de Itapajé.
Por
cinco dias, ele ficou preso na mata comendo folhas para sobreviver. No dia 5 de
setembro deste ano, ao chegar em um milharal, perto de uma área rural de
Itapajé, o jovem pediu ajuda em uma casa. Os familiares foram contactados. O
rapaz estava debilitado e com arranhões no corpo.
A
delegada titular da 12ª Delegacia do DHPP, Arlete Silveira, explica que a
condição do ente querido, muitas vezes, é desconhecida pela família que busca o
DHPP. "Existem muitos casos em que a depressão é revelada após o
desaparecimento. Então, o principal trabalho são as oitivas e, a partir disso,
fazemos uma avaliação. Por exemplo, um caso de depressão com ideação suicida é
considerado um caso de risco alto", destaca. Segundo Arlete, todas as
informações são recolhidas, como local onde foi registrado o desaparecimento,
idade, foto e mais detalhes que ajudem na localização. "Junto a esses
dados, vai também a avaliação do risco que aquela pessoa pode estar passando.
Então tudo isso é difundido, via Coordenadoria Integrada de Operações de
Segurança (Ciops), para os demais atores, como a Polícia Militar do Ceará e a
Guarda Municipal de Fortaleza", afirma.
Critérios
De
acordo com o ranking da SSPDS, entre as motivações de desaparecimentos aparecem
ainda problemas amorosos (7,7%), conflito entre grupos criminosos (6,5%) e
ameaças (4,4%). Para a classificação de cada tipo de desaparecimento, a Polícia
Civil do Estado do Ceará (PCCE), por meio da 12ª delegacia do Departamento de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), realiza entrevistas com parentes, que
objetivam identificar o perfil individual, familiar, comunitário e
institucional do desaparecido. Um dos pontos prioritários é identificar a
situação da saúde mental da pessoa procurada, avaliando os riscos reais. Vale
ressaltar que a recepção da família do desaparecido, no DHPP, ocorre com o
apoio de psicólogos da Abips. A partir das oitivas, das particularidades de
cada caso, das investigações, e dos trabalhos policiais que ocorrem com o apoio
de profissionais de saúde, é possível chegar às motivações de cada
desaparecimento apurado.
"Estamos
construindo, junto à Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança
Pública da Secretaria da Segurança, um sistema de avaliação de riscos. Porque
diante do desaparecimento, nós avaliaremos o risco que aquela pessoa corre, a
partir de critérios e indicadores, como a depressão e a ideação suicida, até
para sabermos qual será a abordagem para aquele caso", explica Arlete
Silveira, da delegacia especializada.
A
coordenadora da Assessoria de Assistência Biopsicossocial (Abips) e psicóloga,
Rebeca Rangel, explica que o trabalho de entender as motivações dos
desaparecimentos é avaliado em conjunto com instituições de ensino. "Com a
parceria firmada junto às faculdades por meio da SSPDS, nós colocamos
estagiários de psicologia para fazerem o primeiro acolhimento das pessoas, que
seguiam até o DHPP para registrar o desaparecimento de alguém. Em seguida,
buscamos entender o caso, a partir do discurso da família durante o
desaparecimento, e depois quando a pessoa é encontrada. O terceiro papel é
podermos devolver essa pessoa para sua família, que por muitas vezes, não
consegue perceber o adoecimento do parente. Então, nós notamos uma demanda
muito clara do papel do mediador de conflitos e da necessidade de se trabalhar
junto a essas pessoas", destacou a psicóloga.
Atendimento
De
acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40
segundos, uma pessoa age contra a própria vida, no mundo. Por trás de muitos
desses casos, está a depressão, que é um ponto em comum identificado pela em
muitos casos de pessoas desaparecidas, na Grande Fortaleza. Por esse motivo, o
trabalho da delegacia especializada vai além de encontrar a pessoa
desaparecida.
Caso
seja detectada a necessidade, o homem ou a mulher, após ser localizado, é encaminhado
para instituições de atendimento psicossocial. Na própria sede da
especializada, profissionais da Assessoria de Assistência Biopsicossocial
(Abips) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) passaram a
atuar com a equipe da delegacia, no primeiro semestre deste ano.
Ao
mesmo tempo, a 12ª Delegacia do DHPP também atua em parceria com a Secretaria
da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS),
visando fortalecer os vínculos familiares das vítimas; além da Prefeitura de
Fortaleza, por meio dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras). (Diário do Nordeste)
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