A Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), começou a fiscalizar as áreas de produção de algodão na região do Cariri com o objetivo de identificar se o agricultores realizaram o chamado "vazio sanitário", técnica que consiste em arrancar os restos culturais da roça para evitar que a planta permaneça viva e sirva de alimento para o bicudo, a principal praga do algodoeiro.
Os agricultores tinham até o fim de setembro para finalizar o vazio sanitário. Até o fim da semana passada, 11 municípios já haviam sido fiscalizados, totalizando 54 áreas de produção do algodoeiro. Desse total, 18 locais estavam irregulares.
“É aberto um processo administrativo, dado prazo de 15 dias para defesa, e a notificação pode resultar em multa”, explicou o coordenador da operação e supervisor da Regional Cariri da Adagri, José Oliveira Santos.
A multa varia entre 70 e 250 Unidade Fiscal de Referência do Estado do Ceará (Ufirce), que atualmente tem o valor de R$ 4,26, por hectare. “Caso o produtor resista em destruir o resto da lavoura, o Estado manda executar o serviço e o agricultor terá de ressarcir o ente público posteriormente”, reforçou Santos. Em 2019, houve a aplicação total de dez multas, nos municípios de Assaré, Potengi e Tarrafas.
Para a fiscalização deste ano, a Adagri montou quatro equipes com seis profissionais, entre engenheiros agrônomos e agentes de defesa agropecuária, oriundos do Cariri, Centro-Sul, Inhamuns, Vale do Jaguaribe e da Região Metropolitana de Fortaleza. “Depois da região do Cariri, vamos fiscalizar no Centro-Sul, Sertão Central e Vale do Jaguaribe”, pontuou o gerente de Inspeção e Fiscalização Vegetal da Adagri, Gleyber Cartaxo.
Vazio sanitário
A recomendação é que produtor faça o arranquio até 15 dias, após a colheita. Geralmente, coloca-se bovino para comer parte dos restos culturais. Em seguida, deve-se proceder o trabalho com o uso de grade, roçadeira mecânica ou produto químico que mata a lavoura.
“Sugerimos o roço com trator e depois a destruição manual nos cantos das cercas, sob árvores, onde a máquina não teve acesso, e em plantas pontuais que ficaram no meio do campo, vivas”, orientou Santos.
A Adagri não recomenda a queima dos restos culturais, mesmo se for feita a coivara (acúmulo de ramagens, folhas e galhos). “Não é uma boa prática conservacionista”, pontua o coordenador da Adagri.
Quando há algodoeiro vivo, o bicudo se alimenta e na rebrota da planta, com a chuva, o inseto se reproduz.
“O vazio sanitário não vai eliminar totalmente o bicudo, mas vai diminuir de forma significativa a sua população, trazendo menos impacto para a lavoura seguinte”, observou o diretor técnico da Ematerce, Itamar Lemos.
Conscientização
Para a presidente da Adagri, Vilma Freire, a operação tem o objetivo de educar, antes de punir o agricultor. “A Defesa Sanitária Vegetal da Adagri estimula o cumprimento das medidas fitossanitárias, e não visa apenas às medidas punitivas”, pontuou.
Além do combate à principal praga do algodoeiro, o vazio sanitário assegura a comercialização da fibra para outros estados e para o exterior, por cumprir as exigências legais. “A gente trabalha juntamente com os produtores para revitalizar e desenvolver a cotonicultura no Ceará”, disse Vilma Freire.
O ex-produtor de algodão, Valdeci Ferreira, que também ocupou a pasta de secretário de Agricultura de Iguatu, Município que já foi o maior produtor da fibra no Ceará, lembrou que no passado, no período de 1996 a 2010, a tentativa de retomar o plantio da cultura fracassou e um dos motivos foi “a permanência de restos de cultura nas roças, que se transformaram em viveiros de bicudo, que ressurgiram nas chuvas”.
“O vazio sanitário tem de ser colocado em prática por todos, sem exceção. É preciso conscientização”, adverte Ferreira.
Municípios já fiscalizados: Barbalha, Brejo Santo, Mauriti, Milagres, Missão Velha, Antonina do Norte, Assaré, Aurora, Penaforte, Potengi, Tarrafas.
(Fonte: Diário do Nordeste)
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