Fotos: Allyson Pinheiro

O caranguejo de água doce “Guajá do Araripe” é uma espécie endêmica da Chapada do Araripe ameaçada de extinção, assim como o pássaro Soldadinho-do-Araripe. Tem registro de distribuição no distrito de Arajara, município de Barbalha, mais precisamente no córrego do Farias e também no sítio Cocos. Também no distrito de Missão Nova em Missão Velha.

Estes locais são habitats sensíveis e sofrem com a ação humana. Estima-se que este caranguejo seja originário da Amazônia e tenha se dispersado no período do Quaternário, aproximadamente 2,6 milhões de anos e com o passar do tempo o que era floresta foi se modificando e restou ambientes como estes que abrigam o Guajá do Araripe, assim como outras espécies de animais e vegetais.

O professor e biólogo Allyson Pinheiro, responsável pela descoberta da nova espécie que foi descrita por ele e pelo pesquisador William Santana, da Universidade do Sagrado Coração (USC), de Bauru (SP), explica que o risco de extinção é devido “a diversos fatores como a sua relação com a água, a medida em que a imobiliária avança sobre os corpos hídricos, põem cada vez mais em riscos a espécie de ser extinta”.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), através de reuniões com outros órgãos federais, tomou conhecimento e foi alertado sobre o perigo do desaparecimento da espécie. Oficialmente, o caranguejo Kingsleya attenboroughi não está nos registros nacionais de espécies ameaçadas, embora já tenha sido avaliada pelos órgão federais desde 2019.

O Guajá do Araripe estava restrito a basicamente dois rios. Se, por ventura, viesse a secar ou acontecer algo com algum desses córregos, perderia boa parte dela ou até mesmo toda a população.

Foto: Allyson Pinheiro

Este caranguejo é um animal pequeno, territorialista, agressivo, aquático, bentônico, de cor marrom avermelhada, necessita de água limpa para viver, é encontrado em locais de fontes e em pequenas poças de água, embaixo de rochas, galhos, troncos e folhas submersas. Tem hábito noturno (alimentação, deslocamento, acasalamento), se reproduz entre os meses de setembro e novembro, tem um importante papel biológico no funcionamento do ecossistema que ocorre.

O crustáceo se alimenta de várias coisas disponíveis no ambiente como: frutas, restos de animais mortos, larvas de insetos, pequenos invertebrados, etc. Considerado também um predador, já foi observado por pesquisadores capturando e comendo peixes.

De acordo com Allyson Pinheiro, após o acasalamento, a fêmea do Guajá do Araripe carrega seus ovos no seu abdômen até eclodirem. Estes filhotes são cuidados pela mãe por um certo período de tempo e não se dispersam para muito longe. Em época de reprodução, o caranguejo macho procura a fêmea e a corteja com uma espécie de dança.


Ainda de acordo com o biólogo, seu ciclo de vida se resume a ovo, juvenil, jovem e adulto. Este caranguejo tem sido objeto de pesquisas sobre sua ocorrência, distribuição, biologia reprodutiva, comportamento, biologia populacional, etnobiologia e conservação. Todas as ações/pesquisas já realizadas, buscam o conhecimento da biologia do Guajá do Araripe, bem como entender a dinâmica do ambiente sempre focando num diálogo com a comunidade em busca da conservação da espécie e da preservação das áreas de ocorrência.

De nome científico Kingsleya attenboroughi, o caranguejo homenageia o naturalista Sir David Attenborough, considerado o padrinho de outra espécie endêmica da Chapada do Araripe: o soldadinho-do-Araripe, que está sob risco crítico de desaparecer.

“Começou vários trabalhos na tentativa de fazer a reprodução do Guajá em laboratório para repovoamento dessas populações. Conseguiu ser mantido em cativeiro e apresentar bom desenvolvimento. Após os experimentos, foram devolvidos para a natureza em outros córregos com o objetivo de ampliar os locais de ocorrência da espécie, em lugares distintos da região”, relata Allyson Pinheiro.

Relatos de moradores, feitos à equipe de pesquisadores, dão conta de que os caranguejos são vistos com certa frequência, apontando para o sucesso da reintrodução da espécie na natureza.

Fonte: Site Miséria

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