Devotos comemoraram nesta terça-feira (24 de maio de 2022) o aniversário da beata Maria de Araújo, no Cariri. Ela foi protagonista do caso onde uma hóstia teria se transformado em sangue na boca dela, ao receber a comunhão feita pelo Padre Cícero.

No Crato, na Praça da Sé, fiéis se reuniram para celebrar a data e também para falar sobre a luta pela reabilitação da memória da beata.

“Durante muito tempo ela foi silenciada e o objetivo deste movimento é trazer à tona e ao conhecimento das pessoas, a memória e o protagonismo dela nos fenômenos de Juazeiro”, explica a professora Claudia Rejanne Grangeiro.

Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte realizou o lançamento da V edição do livro "Poemas para Maria". Foto: Reprodução

No município vizinho, a Secretaria de Cultura de Juazeiro do Norte realizou o lançamento da quinta edição do livro "Poemas para Maria", no Largo do Socorro. A programação contou com várias apresentações culturais.

“A gente rememora essa data para poder tentar reabilitar a memória desta mulher que foi esquecida, foi violentada, e que teve uma tentativa de esquecimento, de apagamento da sua história. Para tentar reabilitar a memória afetiva, histórica e também devocional da beata”, cita o diretor de Patrimônio Histórico e Cultural de Juazeiro do Norte, Roberto Viana.


História da beata
De acordo com pesquisas, ela nasceu no povoado de Joaseiro, no Crato, que depois viria a se transformar em Juazeiro do Norte. Era uma menina pobre, negra, analfabeta, filha de negros e que desde cedo tinha visões.

Registrada como Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo, ela foi o braço direito do fundador de Juazeiro do Norte. Em 1889, a beata recebeu das mãos do Padre Cícero a hóstia que teria se transformado em sangue na boca dela. Esse fenômeno teria se repetido durante dois anos. E as primeiras romarias surgiram por conta desse milagre, em homenagem à beata.

Após sua morte, o Padre Cícero teria mandado sepultá-la dentro da capela do Socorro, mas o túmulo foi violado. Pesquisadores relatam que o fato teria acontecido enquanto a capela passava por reforma. Ao lado de onde está sepultado o corpo do Padre Cícero existe um túmulo simbólico da beata para que devotos possam prestar homenagens. Até hoje, não se sabe o que aconteceu com o corpo de Maria de Araújo.

Divergência de datas
A data do nascimento da beata ainda é uma incógnita para os pesquisadores. “Não existe um documento que mostre qual foi a data em que ela nasceu. O que nós temos é uma referência de Irineu Pinheiro, no livro Efemérides do Cariri, em que ele cita a data 24 de maio de 1862. E segundo ele, baseado em documentos de José Lobo, que era um amigo do Padre Cícero”, afirma Fátima Pinho.

Após várias pesquisas em livros paroquiais, a historiadora não conseguiu encontrar na década de 1860, o registro de nascimento da beata, mas achou o registro de batismo de 9 irmãos dela. Outra coisa interessante na pesquisa, é uma página rasgada, de um livro de batismo de maio de 1861, onde se levanta a hipótese de que seja o registro do nascimento da beata, que teria sido feito na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha.

Nesses registros, só é possível ver rasuras nas páginas entre 23 e 25 maio, um fato que aumenta a possibilidade de que o registro tenha sido removido. Mas não há como precisar essa informação. Ainda de acordo com a historiadora, a data mais provável para o nascimento da beata é 24 de maio de 1861.

Reabilitação da memória
Em Juazeiro do Norte existe uma lei de 2021 que torna obrigatório o uso da imagem da beata Maria de Araújo em todos os espaços de repartições públicas onde já existem as imagens do Padre Cícero. Uma representação dos dois juntos e com as mesmas dimensões nas fotos.

Mas quem busca a reabilitação da beata ainda faz inúmeras perguntas:

“Por que não se fala dela? Por que o seu túmulo foi violado? Que poderes podem ter sido contestados com o sangue que jorrou no seu corpo e com a sua veneração como santa pelo povo? Por que fenômenos semelhantes ocorridos na Europa são considerados milagres ecumênicos pela igreja e o ocorrido em Juazeiro foi tão duramente combatido e reprimido? Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo: onde está ela? Saber onde está Maria de Araújo é questão fundamental para a nossa história, memória e para a identidade da nossa região”, são exemplos dos questionamentos, conforme expostos pela professora Claudia Rejanne Grangeiro.

Fonte: g1 CE

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