06/11/2022

Sequelas motoras, com dificuldade para movimentar membros do corpo, para ler, falar, engolir e até compreender o que é dito são as mais comuns entre os pacientes que sofrem Acidente Vascular Cerebral (AVC). Desta forma, reduzir esses danos é o principal objetivo da medicina contemporânea.

Para isso, diversas técnicas são aplicadas. Uma delas, inovadora, passou a ser desenvolvida no interior cearense. O Hospital Regional do Sertão Central (HRSC) tem utilizado realidade virtual, por meio de jogo de video game, para ajudar a reabilitação desses pacientes.

O projeto começou de forma experimental em 2019. Durante os quase dois anos de pandemia, ele sofrera uma paralização e, agora, voltou a ser utilizado.

A enfermeira assistencialista da unidade de AVC do HRSC, Janaína Nogueira conta que a realidade virtual passou a ser utilizada a partir da proposta de uma fisioterapeuta que integrava a equipe.

"Com base em estudos que acompanhava, [ela] lançou a ideia para o coordenador da unidade de AVC, Alan Cidrão, que decidiu apostar na ferramenta", diz.

COMO FUNCIONA O TRATAMENTO
O médico neurologista e coordenador da unidade de AVC, Alan Cidrão, explica que o videogame possui uma tecnologia que mapeia os sinais do paciente. Desta forma, ele precisa fazer gestos e movimentos para pontuar nos jogos.

"Esses movimentos permitem que o paciente trabalhe as funções motoras, cognitivas, desenvolva a fala, funções básicas que acabam sendo comprometidas quando o paciente é acometido por um AVC".

A enfermeira Janaína Nogueira, ilustra que a partir destes movimentos coordenados, o paciente "vai retomando as habilidades e os movimentos de membros ou de um dos lados do corpo, quando estes são sequelados".

"Além disso, por ter o caráter de entreter, uma vez que é antes de tudo um jogo, o paciente tem chances de diminuir seus níveis de ansiedade e transformar a ação de reabilitação em também uma oportunidade de lazer, descontraindo e tirando a sisudez da maioria das investidas terapêuticas em função do rigor médico", complementa Janaína.

O próprio médico adquiriu o videogame modelo xbox kinect 360 e este passou a ser utilizar em 2019. "Com o período de pandemia, a ferramenta não pôde ser utilizada em larga escala como desejávamos, mas retomamos o uso normal dela a partir deste ano", acrescenta Cidrão.

Além do videogame, é preciso uma TV, um aparelho de som, e is próprios jogos, que são vendidos em mídias de CD. Conforme a assessoria da HRSC, a equipe da unidade médica realizou o custeio dos equipamentos.


TRIAGEM
Mas, quais pacientes estão aptos a serem submetidos a este tipo de tratamento? Alan Cidrão explica que a ferramenta é utilizada a partir de uma triagem do perfil do paciente, "sendo indicado apenas para os casos daqueles que tiveram os movimentos parcialmente comprometidos".

Ao paciente que é identificado ter o perfil e que ele aceite participar do tratamento, há um acompanhamento pela que equipe multidisciplinar do HRSC, composta por médico neurologista, enfermeiro, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e técnico de enfermagem.

TEMPO DE ASSISTÊNCIA
Não há um prazo delimitado para a utilização da ferramenta nos pacientes. Enquanto o paciente estiver internado, e passando pelo processo de reabilitação, ele poderá utilizar o videogame. Contudo, ressalta Janaína, as equipes da unidade hospitalar "atuam de modo a garantir, com a assistência que recebem, o menor tempo possível de internação".

A expectativa é de que esse tempo internado seja otimizado com a utilização de novas tecnologias, como a realidade virtual. Esta, porém, não deve ser a única. O médico neurologista Alan Cidrão, avalia que, cada vez mais, as unidades apostarão em práticas inovadoras "que tragam uma resposta positiva e rentável em termos de custo benefício".

O especialista pondera, no entanto, ser preciso priorizar em todas as etapas, o paciente e seu estado de saúde. "Já acompanhamos pacientes pós alta e em comparação com seu quadro quando ele deu entrada na unidade, vimos o quanto o videogame, atrelado a outros métodos, o ajudou na recuperação de suas funções cognitivas, motoras e mentais", conclui Cidrão.

RESULTADOS
Os primeiros resultados, conforme avaliam a equipe médica da unidade, já são palpáveis e, agora, a missão é ampliar o contingente de pacientes assistidos.

"Em função das limitações no período de pandemia, cerca de 60 pacientes utilizaram essa ferramenta. Agora estamos trabalhando para disseminar ainda mais seu uso a partir de 2023", pontuou médico neurologista Alan Cidrão.

A paciente Maria Daiana Silveira, de 30 anos, foi uma das beneficiadas com essa tecnologia de realidade virtual. Ele teve um AVC isquêmico - que é quando há obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigênio para células cerebrais, que acabam morrendo - e precisou ficar internada no HRSC em agosto deste ano.

"Considero [o tratamento] fantástico. A estratégia de captar os movimentos, com foco na parte sensorial, ajudou muito a minha recuperação. E, além disso, também pude me divertir com o videogame. Os resultados realmente foram os melhores possíveis, consegui ter os movimentos estimulados", conta Daiana, que é natural de Limoeiro do Norte. 

A proposta, agora, é de que outras pessoas, a exemplo de Maria Daiana, sejam beneficiadas. Além de maximizar o número de pacientes atendidos no HRSC, há a intenção de levar o tratamento para outras unidades-polos do Interior cearense.

Fonte: Diário do Nordeste

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