Foto: Antonio Rodrigues

12/01/2023

Entre a vasta diversidade da Chapada do Araripe, um fruto se destaca por ser muito consumido: o pequi. É por sua causa que, em janeiro, período que inicia a safra, cerca de 2 mil catadores se mobilizam para complementar seu sustento pelo resto do ano. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção resulta em uma rentabilidade anual de R$1,35 milhões no Sul do Ceará.

A Chapada do Araripe concentra todo o pequi colhido no Ceará. Os últimos dados da pesquisa de Produção de Extração Vegetal e da Silvicultura do IBGE dão conta de que 2.954 toneladas foram extraídas de oito municípios do Cariri, em 2021. Porteiras tem se destacado: são 850 toneladas, superando Jardim, que registrou 800 toneladas naquele ano. As outras cidades são Barbalha (600t), Crato (278t), Missão Velha (210t), Nova Olinda (102t), Santana do Cariri (100t) e Brejo Santo (13t).

Em Porteiras, sua importância é evidenciada na comunidade quilombola dos Souza, que se formou no final do século XVII por negros vindos do Pernambuco. Eles se instalaram na Chapada do Araripe, no sítio Vassourinha, e fizeram do pequi uma das principais fontes de renda. Liderança comunitária da comunidade Quilombola dos Souza e reconhecida como Tesouro Vivo do Ceará, Maria Josefa da Conceição, Maria de Tiê, além de manter vivas tradições populares como a dança de coco e maneiro-pau, leva adiante o conhecimento sobre o pequi, adquirido há muitas gerações.

“Desde que nasci, o pequi já é nossa luta. Vem de muito tempo.” A mestra explica que o fruto, naquela região, começa a florar em agosto e, no final de dezembro, tem muita gente catando. Este ano, será diferente. “Esse tempo já era pra ter. Alguns estão crescendo, mas isso mostra que fevereiro e março vão vir com força e vai durar mais pra frente, porque tardou”, sente Maria.

Óleo de pequi
As 25 famílias que formam o quilombo também utilizam o fruto para fabricar o óleo, que no saber popular ajuda no tratamento anti-inflamatório. De produção delicada e demorada, a garrafa chega a ser vendida entre R$100 a R$150. “Antes, a gente vendia na feira. Agora, os compradores vêm na casa da gente. É um recurso importante, principalmente para as mulheres. É um tempo muito animado”, complementa.

Segundo a Conab, 110 extrativistas de Porteiras chegaram a lucrar R$165 mil no ano de 2021. Hoje, o município tem 220 extrativistas cadastrados. De acordo com a agrônoma Patrícia Ferreira, no passado a renda e a produção foram maiores, já que eles contabilizam a quantidade colhida através de notas fiscais. “Eles participam de capacitações sobre meio ambiente, na preservação, recebem incentivos”, detalha.

A secretária de Agricultura de Porteiras, Cleide Romão, ressalta que o óleo, no ano passado, chegou a ser exportado para a França. Hoje, há cerca de 14 compradores na região, que também comercializam para outros estados, principalmente Pernambuco. “Por isso, temos tido todo um acompanhamento, criado programas de beneficiamento e também de produção de mudas.”

Fonte: Jornal Opinião CE

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