Chapada do Araripe em Santana do Cariri. FOTO: George Macário / Arquivo

12/06/2023

Mais um passo em torno da candidatura da Chapada do Araripe como Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi dado no último fim de semana. A realização de um seminário com participação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que começou na quinta-feira, 8, e se encerrou neste sábado, 10, trouxe os representantes do órgão federal para conhecerem o território. O seminário objetiva consolidar as informações e planejamento do percurso a ser percorrido a elaboração da candidatura.

O processo conta com avaliação, ajustes e proposições da preparação do bem definido ao reconhecimento como patrimônio mundial.

No sábado, 10, foi elaborada a Carta da Chapada Cultural do Araripe que vai compor o processo de elaboração da candidatura. A Carta contém compromissos e etapas para inclusão na Lista Indicativa Brasileira. Na ocasião, foi realizado um ato para a formalização do início do processo de elaboração da candidatura e instituição do grupo de trabalho e técnico pelo presidente do Iphan.

Também participaram representantes de Pernambuco, do Ministério da Cultura e do Iphan, além do Governo do Ceará. O evento reuniu mais de 44 mil participantes de forma presencial e virtual de 27 estados brasileiros e de 15 países, dentre especialistas, pesquisadores, gestores públicos, lideranças políticas, universidades, acadêmicos e entusiastas nacionais e internacionais.

Esta etapa acontece após a entrega do relatório, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca), que subsidiam um novo pedido de inclusão na lista de indicação brasileira, elaborado pelo Iphan. A expectativa é que a Chapada do Araripe seja incluída ainda neste ano e seja oferecida à Unesco em 2024. “O que deixa otimistas é que os estudos estão mais avançados que outros locais do país”, explica o professor Patrício Melo, que conduz o grupo de trabalho da candidatura.

O seminário aborda temas como conservação da biodiversidade, turismo sustentável, valorização da cultura local e educação ambiental. A programação contou com palestras, roda de conversas, exposições culturais e visita aos museus orgânicos. No entanto, a presença do presidente do Iphan, Leandro Grass, no evento é o principal indicativo positivo. “O seminário é justamente nesse sentido de eles conhecerem de perto. Faz parte do processo”, explica Alemberg Quindins, gerente de cultura do Sesc e gestor cultural criador da Fundação Casa Grande.

CANDIDATURA

A ideia de oferecer a Chapada do Araripe como Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade surgiu, em 2017, pelo próprio Alemberg. Em agosto de 2019, a iniciativa se fortaleceu a partir de um seminário, onde foram formalizados os trabalhos técnicos com representantes da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), Urca, Fundação Casa Grande, Geopark Araripe, sistema Fecomércio, entre outras instituições.

“A gente entende a Chapada do Araripe como um patrimônio da — e para a —humanidade. Oferecemos nossos saberes, nossa cultura, nossa riqueza natural. Aqui foi um local de migrações na pré-história e vive processo semelhante com o fenômeno do Padre Cícero que amplia essa riqueza. Estamos falando de um patrimônio da época da separação dos continentes”, explica o idealizador.

Com apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), um projeto na ordem de R$ 700 mil para elaboração do dossiê, exigido pela Unesco, foi iniciado em agosto de 2019. O trabalho é realizado por 12 pesquisadores. Em 2020, foi enviada a primeira solicitação junto ao Iphan para ser apreciada. O órgão, no entanto, recomendou uma revisão do pedido. Neste processo, houve alguns ganhos: a Chapada do Araripe se tornou a primeira Paisagem Cultural do Ceará, em projeto aprovado na Assembleia Legislativa.

Após dois anos e meio de pesquisa, um novo relatório foi entregue, em março deste ano, ao Governo do Estado, através da Secult, que oficialmente apresentou a candidatura ao órgão federal. “Até agora tivemos alguns resultados relevantes, como a criação da Paisagem Natural. Outro foi trazer um perfil de candidatura misto, que envolve a natureza e a cultura. Com isso, fizemos um inventário bem diverso”, detalha Patrício.

A partir da pesquisa, foram mapeados, por exemplo, as unidades de conservação; sítios arqueológicos; sítios paleontológicos; patrimônios culturais de interesse cultural protegidos como a Festa de Santo Antônio de Barbalha, a Colina do Horto, o Caldeirão da Santa Cruz do Deserto; bens culturais como a Fundação Casa Grande, o Memorial Patativa do Assaré, a casa de Luiz Gonzaga, a Lira Nordestina; e manifestações de tradição popular e artesanato. “Todos os dados entregues oficialmente ao Iphan, que está em processo de atualização. A nossa expectativa é que entre na lista ainda neste semestre”, completa o professor.

É importante ressaltar que, apesar da iniciativa ser cearense, a candidatura da Chapada do Araripe abraça também os estados do Pernambuco e Piauí. Representantes do poder público destes dois estados e de universidades participaram do seminário. “Esta é uma etapa importante para o próximo ano, onde pretendemos complementar com os dados destes dois estados. Neste ano, esperamos que haja avanço em Pernambuco”, antecipa Patrício Melo.

Com a inclusão, a Chapada do Araripe se somaria a 16 territórios brasileiros, o segundo cearense — os monólitos de Quixadá já estão na lista nacional de indicação do Iphan. Se lograr sucesso, o próximo ano será focado em apresentar a intenção da candidatura à Unesco. “Queremos estar na pré-seleção, onde a Unesco indica conselheiros que vão acompanhar, trocar informação e experiência para a construção do nosso dossiê”, acrescenta.

O QUE MUDA?

A Unesco define o Patrimônio Cultural e Natural em três classificações: Paisagem Associativa, Paisagem Evolutiva Relíquia Fóssil e a Paisagem Evolutiva Viva. A Chapada do Araripe, neste caso, se enquadra nesta última, que aponta a correlação entre homem e natureza. Caso consiga esse reconhecimento e chancela, o professor Patrício imagina que vai gerar uma agenda de proteção ambiental, investimentos em infraestrutura e promoção de destino turístico de base sustentável.

Fonte: Opinião CE

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