Aos
onze anos de idade, a hoje agricultora aposentada Alzira Lucinda de Moraes
Lima, 67, conheceu de perto o Campo de Concentração Patu, em Senador Pompeu, no
Sertão Central do Estado. Naquela visita, ela ouviu seu pai, Mauro Antônio de
Moraes, narrar os "horrores" que ele viveu no início de 1932.
"Ele me contava que no Campo (de Concentração) só existia miséria, fome e
muita dor", recorda. O local descrito por Dona Alzira ficou ativo durante
um ano, no período de uma das mais severas secas que assolaram o Estado.
"Meu pai sempre disse que foi a
maior seca que o sertanejo já viu. Não tinha nada, era uma terra
desgraçada", conta o pedreiro aposentado José Gonçalves do Nascimento, 87
anos. No ano seguinte (1933), com a chegada da chuva no Sertão, o local foi
esvaziado. Os retirantes que ali ficaram confinados, vivendo em barracas, sob condições precárias e proibidos de sair, conseguiram finalmente deixar o local e retornar para suas terras de origens.
Apesar do fim do Campo de Concentração, uma triste marca foi fincada na
Caatinga. Historiadores não conseguem precisar, mas estima-se que mais de cinco
mil pessoas tenham morrido no Campo de Patu neste período, vítimas da fome e de
epidemias causadas pelas condições sanitárias precárias, como a cólera.
Tombamento
Dos sete Campos que foram erguidos no
Estado, o de Senador Pompeu é o único que ainda possui, em pé, os casarões -
utilizados para abrigar o alto escalão do Governo, responsável pela construção
da barragem da cidade e por vigiar os flagelados da seca. Na zona rural da
cidade, foram edificadas duas casas de pólvora, um armazém, um hospital, uma
usina, um cemitério, uma inspetoria, quatro casas de apoio e uma estação de
trem.
Toda essa área, com pouco mais de 9 km²,
forma o importante Sítio Histórico de Patu, que foi tombado oficialmente ontem
(20). Para a historiadora Rute Martins, o tombamento é um marco, "pois vai
garantir a preservação desse patrimônio que, apesar de ter sido palco para uma
história tenebrosa, precisa ser estudada e contada.
Ninguém deve renegar a história, por
mais triste e dura que seja". A pesquisadora explica que os Campos foram
criados sobre o pretexto de garantir alimentação e assistência médica a quem
fugia do Sertão rumo à capital cearense. "Isso na prática não aconteceu.
Essa política do Governo de construir esses locais, conhecidos antigamente como
currais humanos, tinha o único objetivo de frear a chegada desses flagelados à
Capital.
Uma vez que eles entravam nesses locais,
eram impedidos de sair. Quem tentava fugir, era perseguido ou morto pela guarda
da época", detalha Rute. Com o tombamento, todos os prédios serão
preservados e restaurados. A gestão municipal planeja, também, dar entrada no
pedido de tombamento estadual.
(Diário do Nordeste)
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