Há
cerca de três meses, após tomar conhecimento da liberação de 197 agrotóxicos
pelo governo Bolsonaro, o empresário sueco Johannes Cullberg decidiu banir
produtos agrícolas do Brasil das prateleiras dos seus supermercados.
Mais
tarde, quando os anúncios de queimadas na Amazônia ganharam o noticiário internacional,
o boicote ganhou ainda mais força. Fundador da Paradiset, maior rede de
produtos naturais da Suécia, ele vendia itens como manga, castanhas, cacau,
limão e água de coco de origem brasileira.
Mas
decidiu parar de vender os produtos para não expor os clientes dos seus
supermercados a mercadorias cuja produção usou defensivos agrícolas que são
proibidos pelas leis suecas ou que pudessem ter colaborado com o desmatamento.
O
empresário lançou até uma hashtag de boicote aos alimentos brasileiros. No
Instagram, há quase 200 publicações com a inscrição #BoycottBrazilianFood. Ele
diz que os consumidores e outros empresários locais também têm se sensibilizado
com o tema. A seguir, trechos de sua entrevista ao jornal.
O
Estado de S. Paulo. Por que a rede decidiu banir os produtos agrícolas do
Brasil? Nosso protesto começou com a liberação de mais agrotóxicos, pelo
governo Bolsonaro, há cerca de três meses. Muitos deles foram banidos aqui na
Suécia, não poderíamos expor nossos clientes a esse tipo de produto. E o
protesto ganhou força quando vimos as imagens de queimadas na Amazônia. O nosso
boicote se restringe a produtos que não são orgânicos e podem contribuir para a
venda de pesticidas e para o desmatamento.
Qual
é o peso da questão ambiental para os suecos? A sustentabilidade deixou de
ser um assunto distante. O consumidor de hoje não quer saber apenas quanto um
produto custa, ele também se preocupa com a sua origem e a forma como foi
produzido. Essa é uma tendência na Suécia, percebemos essa preocupação todos os
dias em nossas lojas. A preservação ambiental não é uma questão de viés
ideológico, ultrapassa partidos. As crianças daqui aprendem desde muito cedo a
importância de se preservar o meio ambiente, é um valor intrínseco para nós.
No
início do mês, a marca sueca H&M se juntou às concorrentes internacionais
que suspenderam a compra de couro de origem brasileira, em retaliação às
queimadas na Amazônia. O boicote aos produtos brasileiros pode se espalhar ainda
mais? Pode, sim. Os empresários estão cada vez mais sensíveis aos
problemas ambientais.
A
imagem do presidente Bolsonaro ficou chamuscada internacionalmente após esses
episódios? Sem dúvida. Após o aumento das queimadas e os embates com os
governos da Alemanha e da Noruega (que bloquearam repasses para a preservação
da Amazônia) e com (o presidente francês) Emmanuel Macron, a imagem de
Bolsonaro no restante do mundo ficou bem danificada. Ele é visto como uma
versão piorada do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Se é que isso é
possível, já Trump é um dos políticos menos admirados do mundo.
Vocês
voltariam a vender produtos brasileiros? Claro. Superadas essas questões,
a gente adoraria voltar a vender produtos brasileiros e apoiar os agricultores
locais.* O repórter viajou convidado pela Svenska Aeroplan AB (Saab)
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